Terceiro domingo do Advento.
Domingo da Alegria. É assim chamado porque o Senhor está próximo. Durante o período do Advento, a cada domingo que passa, estamos indo em direção ao Natal do Senhor que vem. Domingo da Alegria ou “Gaudete”, expressão latina que está no imperativo plural do verbo e quer significar “alegrar-se”. Assim, “gaudete” é traduzido por “alegrai-vos”. Liturgicamente esta é a primeira palavra retirada da antífona de entrada da Celebração Eucarística desse dia: “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto” (Fl 4,4-5). Uma oração que foi retirada de uma das cartas do apóstolo Paulo. Acende-se hoje a vela rosa. Como sinal de alegria, sai de cena a tonalidade roxa, predominando o róseo na vestimenta dos celebrantes e nos presbitérios.
Já estamos quase lá. Falta pouco. A alegria está no ar, muito embora o texto escolhido para a nossa reflexão no dia de hoje, nos traga contornos de apreensão. Mateus inicia a sua narrativa falando da prisão do Batista. Da prisão, João envia seus seguidores para perguntar a Jesus: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar um outro?” (Mt 11,3) Tudo porque era grande a repercussão acerca da prática messiânica de Jesus. De certa maneira, também João estava entre aqueles que haviam se frustrado, pois aguardavam a vinda de um Messias triunfante, um Rei todo poderoso, que os libertasse do jugo e do domínio romano.
A palavra filosofia vem da junção de duas outras palavras gregas: “Philo” e “sophia” e significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Como nos diria a filósofa Marilena Chauí, “Filosofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber”. Dentre o pensar filosófico há um aparte que trata da filosofia da práxis, cujo expoente maior deste pensar, além de Karl Marx, é o filosofo Adolfo Sánchez Vázquez (1915-2011). Este filósofo, no ano de 1961, apresentou-nos sua tese de doutorado, a qual é considera sua obra maior: “Filosofia da práxis”. Uma obra impar nos possibilitando pensar a filosofia no contexto da práxis, ou seja, a teoria voltada para a ação prática, transformando as estruturas sociais, se afastando de uma visão idealista da realidade.
Porque estou fazendo uso da filosofia para tratar de uma interpretação de caráter exegética? É que a resposta de Jesus a João Batista tem tudo a ver com a “Filosofia da Práxis”. Jesus não manda dizer a João através de uma mera teoria discursiva. Apenas diz aos discípulos de João: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. (Mt 11,4-5) Jesus está falando de sua práxis: sua prédica e prática. Ensinamento e ação transformadora. A ação messiânica de Jesus é eminentemente ação libertadora. Neste sentido, o filósofo que mais se aproximou desta compreensão messiânica de Jesus foi Antonio Gramsci (1891-1937), que via na práxis uma forma dos subalternos se apropriarem dessa filosofia para a superação dos seus problemas sociais nas perspectivas políticas, econômicas e sociais.
Dois verbos sinalizam positivamente a ação messiânica de Jesus: “ouvir” e “ver”. A vez dos pobres já chegou e eles são os destinatários primeiros da ação libertadora de Jesus. O Messias não somente se identifica com os mais pobres, como se mistura literalmente a eles, se sentando à mesa para com eles comer, convivendo de perto com as suas mazelas, pouco se importando com os 613 preceitos do judaísmo, que representavam as regras de vida que deviam seguir cada um para realizar o seu papel de judeu. A resposta de Jesus não é dada em palavras, porque o messianismo não é simples ideia ou teoria. É uma atividade concreta que realiza o que se espera d’Ele: a libertação integral dos pobres e oprimidos.
A missão de João Batista está chegando ao fim como precursor. Brevemente ele será morto, como era o destino de todo profeta e daqueles/as que insistem em defender as causas do Reino. João vem selar o compromisso de Deus com a humanidade, através da Nova Aliança. Como último profeta, ele fecha as portas do Antigo Testamento e abre o horizonte novo da perspectiva do Messias, estabelecendo a nova história para a humanidade. Na compreensão de Deus, nenhum homem do Antigo Testamento é maior do que o profeta João. Todavia, na perspectiva do Reino de Deus trazido por Jesus, o menor é infinitamente maior do que João. Em seu texto o evangelista Mateus conclui que “o menor no Reino dos Céus é maior do que ele” (Mt 11,11). Resta-nos o consolo de saber que podemos um dia quiçá, ser classificados como menores para também alcançarmos as benesses do Reino.
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