Segunda feira da Vigésima Terceira Semana do Tempo Comum. A semana iniciando com o calor predominando. Dias e noites muito quentes. Hoje é o 254º dia do ano. Desta forma, faltam 111 dias para 2024 chegar. A estação do inverno com a sua Lua minguante, dando as coordenadas do nosso existir. Viver é a arte de aproveitar cada instante para fazermos o melhor que podemos ser. Outra chance, não teremos mais, pois o dia de hoje vai embora rapidinho, restando-nos aquele que há de vir. Aí já é outra história. Como nos dizia o indiano Mahatma Gandhi (1869-1948): “Seja a mudança que você quer ver no mundo”, começando aqui e agora, já!
O feriado prolongado juntou-se com o final de semana. Passeios, viagens, diversões, mais tempo com a família, ditaram a vida de muitos dos nossos amigos. Aproveitei para pôr a leitura em dia, lendo um pouco mais. Por falar em leitura, não posso deixar de ler “O ócio criativo”, do grande sociólogo italiano, Domenico De Masi, que nos deixou neste último dia 9 de setembro. Neste livro, o autor nos traz a sua visão sobre a disseminação da idolatria do trabalho, da ideia de que o ser humano, na sua individualização, passa a ser um viciado em trabalho, atendendo assim a competitividade do mercado, deixando de viver boa parte de sua vida. Segundo este autor: “O ócio pode transformar-se em violência, neurose, vício e preguiça, mas pode também elevar-se para a arte, a criatividade e a liberdade”. Aconselho a leitura.
Uma amiga minha não teve sorte neste final de semana. Foi à Missa e voltou para casa revoltada. Não suportou a “pregação” do padre, com o seu discurso homofóbico. Homofobia que é caracterizada por uma série de atitudes e sentimentos negativos, discriminatórios ou preconceituosos em relação às pessoas homo afetivas. Ficou indignada e saiu assim que terminou a homilia do dito cujo padre, que além do seu preconceito, colocou todos os demônios dentro do belo texto do evangelho deste domingo. Numa clara demonstração de que não entendeu nada da proposta de Jesus e nem do Papa Francisco que disse recentemente: “A Igreja é de todos, todos, todos!”.
Ser seguidor de Jesus de Nazaré é apropriar-nos de seu “querigma”. Uma verdadeira evangelização querigmática não se resume a falar de Jesus. Vai muito além disso. Trata-se de oportunizar uma transformação na vida das pessoas, possibilitando a elas fazerem um encontro pessoal e comunitário com a pessoa de Jesus. Lembrando que na tradição cristã, a palavra “querigma” é sinônimo do primeiro anúncio das verdades da fé. Segundo o contexto da tradição bíblica, Jesus de Nazaré foi morto, ressuscitou, subiu aos céus e está sentado à direita de Deus Pai. Essa afirmação é o centro de toda a nossa fé cristã. Cabe então às lideranças religiosas fazerem a apresentação deste Jesus como Messias, Senhor e Salvador de todos, todos, todos.
Como no texto que o evangelista São Lucas nos oportuniza refletir neste dia de hoje, apontado pela liturgia da Igreja. No contexto, Jesus está mais uma vez se confrontando com os mestres da Lei e os fariseus. Estes não vieram à sinagoga para aprender acerca dos ensinamentos de Jesus, mas para saber o que ele iria falar e fazer, para depois encontrar um motivo para enquadrá-lo. Satisfizeram os seus desejos, uma vez que Jesus tratou de curar um pobre homem com a sua mão ressequida, em pleno dia de sábado. A cultura judaica preservava o sábado como um dia sagrado e, segundo a tradição, nada poderia ser feito naquele dia.
“O que é permitido fazer no sábado: o bem ou o mal, salvar uma vida ou deixar que se perca?” (Lc 6,9) Com esta sua pergunta, Jesus desmonta o discurso hipócrita das autoridades religiosas do Templo. Com a sua prática libertadora, Jesus coloca a vida humana acima de qualquer lei, mesmo a religiosa. A vida em primeiro lugar! Curar um pobre homem é devolver-lhe a possibilidade de viver com dignidade, sendo protagonista das suas próprias ações. Diante daquelas autoridades, Jesus mostra que a lei do sábado deve ser interpretada como libertação e vida para as pessoas. Foi o que bastou para aqueles “homens de Deus” ficassem furiosos. Ao preferirem ficar com o velho sistema, se reúnem para planejar a morte de Jesus, já que Ele está destruindo as ideias de religião e sociedade que eles tinham. Diante deste contexto, faz sentido uma das frases ditas pelo poeta e escritor brasileiro Augusto Branco: “Quando eu perder a capacidade de indignar-me ante a hipocrisia e as injustiças deste mundo, enterre-me: por certo que já estou morto”.
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