Vigésimo Primeiro Domingo do Tempo Comum. Apesar de, liturgicamente, se chamar de Tempo Comum, não é um domingo comum. Este é o domingo em que fazemos a memória de três personalidades marcantes da História da Igreja Católica. Três bispos que marcaram presença e ambos os três morreram no mesmo dia: dom Hélder Pessoa Câmara, Arcebispo emérito de Olinda e Recife, PE (27/08/1999); dom Luciano Pedro Mendes de Almeida (27/08/2006), Arcebispo de Mariana, MG e dom José Maria Pires 27/08/2017, bispo emérito da Paraíba-PB.
O céu está em festa. 27 de agosto data da chegada de três santos por lá. O primeiro era considerado o “Santo Rebelde”, grande defensor das causas dos pobres e dos Direitos Humanos; o segundo chamado “O bispo dos Menores Abandonados”, por causa de sua luta incansável pelas pessoas vulneráveis em situação de rua, em São Paulo e dom José Maria Pires era o “Bispo Negro”, que viveu a sua vida defendendo as causas do povo negro. Conheci mais de perto dom Luciano, de quando eu morava em São Paulo, atuando na Zona Leste, região de São Miguel Paulista que era comandada por dom Angélico Sândalo Bernardino.
O dia 27 de agosto é dedicado também aos psicólogos e psicólogas. Comemoramos hoje estes profissionais que prestam um grande serviço à sociedade. Pessoas necessárias na vida de muitos, no trabalho pela manutenção da saúde mental saudável e no exercício das práticas das boas relações entre nós. Os psicólogos são aquelas pessoas que nos dão a mão quando passamos por um período de escuridão em nossas vidas. Na minha vida sempre levei a sério uma frase dita pelo psicólogo estadunidense Carl Rogers (1902-1987): “O paradoxo curioso é que quando eu me aceito como eu sou, então eu mudo”.
Jesus que não era psicólogo, mas usa de toda uma pedagogia didática, no sentido de ensinar e orientar as multidões e, particularmente aos seus discípulos. Neste domingo a liturgia nos coloca no contexto sócio histórico na região de Cesareia de Filipe, uma cidade pagã conhecida por adorar os deuses gregos. Tal cidade está situada ao pé do Monte Hermom, próxima a uma das nascentes do rio Jordão. Herodes Filipe, que governava esta região, construiu ali uma cidade em homenagem a César (seu imperador) e a si próprio, daí o nome Cesareia de Filipe.
Estando em um território pagão, Jesus aproveita para fazer um balanço acerca de sua atividade messiânica. Querendo saber como as pessoas estavam vendo-o, Jesus perguntou aos discípulos, quem as pessoas pensavam que Ele fosse: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (Mt 16,13). Fez a mesma pergunta, agora direcionada a seus discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15) Para Jesus, não basta o que as pessoas dizem a seu respeito. É necessário que os seus seguidores mais próximos tenham a verdadeira compreensão de quem Ele é.
A pergunta de Jesus leva os discípulos a fazerem uma revisão profunda de tudo o que Ele havia realizado no meio deles. O povão ainda não havia entendido direito quem era Jesus. Os seguidores mais próximos d’Ele o reconhecem, através de Pedro, que Jesus é o Messias. O messianismo de Jesus se incumbe de criar um mundo plenamente humano, onde tudo é de todos e repartido entre todos. Essa ação messiânica destrói a estrutura de uma sociedade injusta, onde há ricos cada vez mais ricos à custa de pobres cada vez mais pobres. Por isso, essa sociedade vai matar Jesus.
Pedro, sendo Pedro, como sempre, vai direto ao assunto e responde: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. (Mt 16,16) Aqui, a resposta de Pedro é bem mais completa que os registros feitos do mesmo texto nos Evangelhos Sinóticos de Marcos e Lucas. A teologia de Mateus faz o registro completo, através da fala de Pedro. A resposta que Jesus esperava, pois é o que fica evidente na sequência: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja…”, (Mt 16, 17-18)
Os teólogos e exegetas afirmam que aqui foi semeada a semente do nascedouro da Igreja, e Pedro é estabelecido como o fundamento da comunidade que Jesus está organizando e que deverá dar continuidade no futuro. Jesus concede a Pedro o exercício da autoridade sobre essa comunidade, autoridade de ensinar e de excluir ou introduzir as pessoas nela. Como um dos documentos da Igreja assim o atesta: “Cristo Nosso Senhor, para apascentar e aumentar continuamente o Povo de Deus, instituiu na Igreja diversos ministérios, para bem de todo o corpo. Com efeito, os ministros que têm o poder sagrado servem os seus irmãos para que todos os que pertencem ao Povo de Deus, e por isso possuem a verdadeira dignidade cristã, alcancem a salvação, conspirando livre e ordenadamente para o mesmo fim”. (Lumen Gentium 18)
A pergunta de Jesus continua ressoando em nossos ouvidos. Pergunta que não cala: Quem é Jesus para nós? Como o vemos? A nossa resposta condiz com aquilo que Jesus realmente é? Ou a nossa resposta é de acordo com as nossas conveniências e circunstancias da vida? Conhecemos, de fato, quem é Jesus? Pergunta que também possui outro viés: Quem sou eu para Jesus? Como Ele me vê com esta minha prática de fé hoje? A minha fé, diz quem sou eu em relação a Jesus? Somente uma fé coerente e amadurecida é capaz de estar em sintonia com Jesus, o Messias.
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