Terça feira da Décima Primeira Semana do Tempo Comum. Assim vamos galgando passo a passo o sexto mês do nosso calendário gregoriano. Já estamos quase em meados dele. Estamos trilhando o exato 170º dia, restando ainda outros 12, para respirar os ares de julho, talvez o mês mais desejado para alguns. Nossa tarefa, portanto, é viver na intensidade que cada dia nos propõe como desafio. Viver e tomar posse das realizações que desejamos, individual e coletivamente. Viver para além das fronteiras das nossas convicções, fazendo parte da grande família que Deus idealizou para a humanidade. Como nos alertara o filósofo Sêneca: “A natureza nos uniu em uma imensa família, e devemos viver nossas vidas unidos, ajudando uns aos outros”.

Dai 18 de junho. Neste dia, entre outras preocupações, temos um compromisso muito sério com as políticas públicas de saúde. Dia Mundial do Orgulho Autista. A nível mundial, esta data começou a ser celebrada no ano de 2005. O objetivo principal foi o de mudar a visão negativa da sociedade quanto ao autismo, passando de “doença” para “diferença”. Assegurar que as pessoas com autismo, não sejam tratadas como doentes, mas sim que são pessoas que possuem algumas características próprias que lhes trazem desafios e recompensas peculiares. Como bem disse o psiquiatra paulista Dr. Leonardo Maranhão Ayres Ferreira: “O Autismo é ver o mundo de um outro jeito, e cada um de nós temos que achar um jeito de entender as diferenças”. Ver o diferente como diferente, eis o maior desafio. Diferenças que nos completam em meio à diversidade.

Em dias marcados pelo clima de guerra que ora vivemos, somos convidados a desarmar os nossos ânimos e espíritos, não somente para promover a paz, mas para sermos a paz que queremos ver no mundo em que estamos vivendo. Foi vivendo exatamente este estado de espirito, que busquei rezar mais uma vez no túmulo sepulcral do “bispo preguiçoso”, que é como ele se referia si mesmo, depois que se tornara bispo emérito. O Mal de Parkinson o rodeando, e ele mantendo a alegria, brincando com o seu estado de saúde, dizendo que quem mandava nele era o “Dr. Parkinson”. Em minhas preces, supliquei a ele, que intercedesse ao Pai por cada um de nós, para que um dos versos de seu poema fosse a métrica de nosso ser neste mundo: “Dá-nos, Senhor, aquela paz inquieta que não nos deixa em paz!”

“Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”. (Mt 5,48) Assim o Evangelho de hoje conclui este texto recheado de desafios para a prática crista de verdade. Este é o versículo que nos possibilita ter a chave de leitura para compreender todo o capitulo 5 do Evangelho de Mateus. “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36). Assim este outro evangelista traduz o mesmo espírito do texto de hoje. Ambos, mostrando-nos a dimensão revolucionária dos evangelhos, como palavra a ser vivida, na perspectiva da dimensão do Reino de Deus. Ser perfeito como Deus é perfeito. Seria pedir demais diante de todas as nossas limitações e imperfeições? Como atingir este mesmo grau de perfeição de Deus, sabendo que tropeçamos cotidianamente nas nossas imperfeições? De imperfeição em imperfeição vamos buscando a perfeição!

O filosofo naturalista alemão de quem muito gosto, Johann Goethe (1749-1832) afirmava que: “o homem que sabe reconhecer os limites da sua própria inteligência está mais próximo da perfeição”. Verdade ou não, conhecer a nós mesmos, já é o passo primeiro para alcançar alguns avanços, quanto ao nosso projeto de vida identificado com as mesmas causas de Jesus. Ter em mente que a palavra escrita precisa ganhar vida nas nossas vidas, através das ações conscientes que vamos assumindo ao longo da história. Certamente que estas palavras ditas por Jesus são demasiadamente desafiadoras, pois nos convocam a termos em nós os mesmos sentimentos que há no coração do próprio Deus. Em Jesus, Deus se fez homem para que a humanidade se torne uma em Deus.

“Ao ouvirem isso, os discípulos disseram: esta palavra é muito dura. Quem pode suportá la?” (Jo 6,60) As palavras ditas por Jesus provocam estranheza até entre o discipulado d’Ele. Perfeição do amor sem medida e sem limites pra sonhar, amando e sabendo ser amado pelo Deus da amorosidade em pessoa. Evidente que este trecho do Evangelho de Mateus de hoje, abre-nos a perspectiva do relacionamento humano para além das fronteiras que costumamos construir entre nós. Amar como Deus nos ama! Sermos perfeitos como Deus é a perfeição em pessoa. Amar o inimigo, ou quem quer que seja, é entrar em relação direta e concreta com aquele que também é amado por Deus, mas que se apresenta como problema e desafio para nós. Enfrentar os conflitos, também é uma tarefa de quem é capaz de amar sem medidas. Nossa aliança com Deus transforma a nossa vida por inteiro, e não apenas no que se refere à observância de leis, normas e preceitos. “A falta de amor é um grau de imbecilidade, porque o amor é a perfeição da consciência”, afirmara o poeta indiano Tagore (1861-1941).