Quarta feira da segunda semana do tempo comum.
Vamos caminhando no ritmo dos protocolos sanitários.
Ainda não podemos colocar a cabeça para fora da janela e dizer que os ventos que ora sopram, são de tranquilidade. Há um “que” de incerteza no ar. A “normalidade” ainda se encontra num patamar distante de nós, mostrando-nos que teremos ainda um caminho de dúvidas e improbabilidades pela frente. Nossa confiança está alicerçada em nossas atitudes coerentes, mais sensatas, e na presença do Deus da vida que tudo pode. Enquanto isso seguimos suplicando: “Ó vem, Senhor, não tardes mais! Vem saciar nossa sede de paz!”
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A palavra de ordem hoje talvez seja a do vocábulo “Pedagogia”. Sim, esta palavra tem tudo a nos dizer no contexto que estamos trilhando na nossa história de vida. Mais uma palavra, cujo berço nascedouro, é a Antiga Grécia. Etimologicamente tal palavra significava “conduzir a criança”, já que os termos “paidagogós”, em que “paidos” pode ser entendido como criança e “gogós” como uma variação do radical “gogia”, que pode ser traduzido por “levar”, “conduzir”, “encaminhar”. Trazendo para os dias atuais, poderíamos afirmar que a pedagogia é o ramo do “saber” que se preocupa em compreender todo o processo educacional do ensino-aprendizagem, uma vez que a pedagogia parte do princípio de que a educação é uma atividade estritamente humana e que seu processo se desenvolve no meio social. Saber que vai se constituindo nas relações.
Partindo destes pressupostos, nós brasileiros, somos seres privilegiados, sobretudo porque, por entre nós, passou um dos maiores pedagogos do mundo, reconhecido internacionalmente e que decifrou com todas as letras do alfabeto, a palavra pedagogia. Paulo Freire não se contentou apenas em decodificar a pedagogia voltada para atender os anseios dos oprimidos, no seu processo do saber transformador, mas tratou também de versar sobre a pedagogia da esperança, da indignação. Tudo isso, no intuito de fazer-nos acreditar na educação como um processo que leva a libertação e a construção de outro mundo possível e imaginável. Em Paulo Freire, “a utopia do sonho dos oprimidos se fez marcha revolucionária”, dizia-nos nosso bispo Pedro.
Jesus também tinha a sua pedagogia própria. Pedagogia esta cuja vida das pessoas estava em primeiro plano. Um jeito próprio e inegociável de lidar com a vida dos pequenos. Pedagogia samaritana que fez Jesus indignar-se perante a estrutura arcaica opressora das autoridades religiosas de seu tempo, que interpretavam a “Lei do Sábado” como um mero instrumento de dominação e opressão, e não como libertação e transformação da vida das pessoas. O Galileu que se enche de ira e tristeza por ver tamanha insensatez e hipocrisia, presente naquelas pessoas ali a sua volta. Poucas vezes o vemos com este tipo de sentimento: “Jesus, então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração”. (Mc 3, 5)
Dureza de coração nas formas e artimanhas do modo de viver a fé. Uma fé desenraizada da vida do outro. O outro é apenas o outro e não um complemento de mim mesmo. Coração endurecido pelo ódio, pela intolerância e indiferença para com a vida dos pequenos, pobres e marginalizados. Coração que bate descompassado com o Projeto de Deus revelado pelo Filho, que veio inaugurar um novo tempo histórico, e trazer uma nova realidade de um Deus que quer a vida para todos e todas. Mas para isso, requer um novo coração como bem disse Ezequiel, que exerceu a sua atividade profética entre os anos 593 a 571 a.C.: “Darei para vocês um coração novo, e colocarei um espírito novo dentro de vocês. Tirarei de vocês o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne”. (Ez 36,26) Pedagogia de um coração humano de Jesus voltado para a dignidade humana que promove a pessoa trazendo-a para o centro.
Coração que se abre para enxergar o outro na sua dimensão existencial concreta histórica. Coração generoso que sabe acolher o outro nas suas angústias e necessidades básicas. Que o outro seja ele mesmo e não termos a pretensão de querer que ele seja aquilo que gostaríamos que ele fosse como muitos de nós o fazemos. O outro é o outro que me complementa, como bem afirmou o psicólogo bielorrusso Vygotsky (1896-1934) “Através dos outros, nos tornamos nós mesmos”. Mas Jesus com a sua pedagogia libertadora incomodava os “donos do poder” os “donos da religião” e os entendidos nas leis e preceitos dogmáticos religiosos. Lá como cá, eles tramam um jeito de matar o Jesus histórico e os “Jesuses”, que se apresentam no contexto atual nossa história. Que nos abramos a esta pedagogia libertadora de Jesus!
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