Terça feira da 30ª Semana do Tempo Comum. Outubro vai aos poucos se despedindo de nós. Estamos deixando para trás o mês missionário, sem esquecer-nos que a missão continua com os desafios que vão se interpondo na nossa trajetória de vida. Novembro já aponta no horizonte de nosso campo visual. Se o primeiro dia dele é dedicado a todos os santos, somos instigados a buscar também a nossa santidade, seguindo os passos daquele que veio inaugurar o Reino de Deus com a sua encarnação: Jesus de Nazaré. Revestidos de esperança, caminhar pisando no chão batido da história, sendo instrumentos na construção do Reino de Deus, já que, como disse o teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, “a esperança não cai do céu”. Vivamos no esperançar do Reino.

29 de outubro. Nesta feliz data, é celebrado, no Brasil, o Dia Nacional do Livro. A criação desta data surgiu em 1810, em comemoração à fundação da primeira biblioteca brasileira, a Real Biblioteca, no Rio de Janeiro, então capital do país. “Os livros têm grande importância em nossas vidas não só porque auxiliam na construção de nosso conhecimento, mas também porque nos trazem palavras de encanto, doçura e suavidade”, afirmava o filósofo empirista inglês, Francis Bacon (1561-1626). Sou suspeito para falar do livro, pois eu não seria quem sou sem os muitos deles que passaram e passam ainda pelas minhas mãos. Sou um apaixonado inveterado pela leitura e ainda romântico, pois, apesar das tecnologias, sou daqueles que preferem os impressos. Sou obrigado a concordar com o racionalista francês René Descartes: “Ler um bom livro é como conversar com as melhores mentes do passado”.

Por falar no livro, meu coração nesta manhã foi tomado pela nostalgia. Fiz uma breve revisão de vida, rezando na companhia de nosso eterno pastor, Pedro. Relembrei cada instante, dos primeiros passos ensaiados nesta Igreja. Eram os meus três primeiros anos de presbítero, cheio de entusiasmo, muitos sonhos, ideais e utopias à frente, no desafio de viver caminhando com a Prelazia de São Félix, tendo Pedro como pastor encarnado àquela realidade. O kit recebido de suas próprias mãos delinearia o percurso que eu haveria de fazer a partir de então: uma rede de dormir, uma lanterna e uma bicicleta, acompanhados da observação, “não se esqueça das cordas, pois uma rede sem cordas não tem serventia”. Como é bom olhar para trás e reler sua própria história de vida!

História também contada por Jesus, que podemos refletir com o texto da liturgia desta terça feira. Ele falando em parábolas. Esta era a pedagogia libertadora do Nazareno, uma pequena narrativa que usa alegorias para transmitir conhecimentos mais complexos. Trata-se de histórias com elementos comuns da cultura daquele tempo que tinham como objetivo ensinar coisas sobre o Reino de Deus, por exemplo, como podemos ver no texto narrado pelo evangelista São Lucas. Aliás, o texto de hoje, aparece também no Evangelho de Mc 4,30-34. Este evangelista ainda justifica esta forma de linguagem do Mestre Galileu: “Jesus anunciava a Palavra usando muitas outras parábolas como essa, conforme eles podiam compreender”. (Mc 4,33)

Entre as muitas parábolas de Jesus, algumas das mais conhecidas são: a parábola do filho pródigo, parábola dos talentos, parábola do semeador, parábola do trigo e do joio. Jesus usando de sua pedagogia, para que as pessoas mais simples pudessem conhecer mais a fundo a lógica do Reino de Deus. Sua pedagogia estava rodeada de metáforas, que é uma figura de linguagem em que se encontra uma comparação implícita. Esta prática era muito utilizada nos textos do Novo Testamento. Com esta forma de linguagem, Jesus compara o Reino de Deus à semente de mostarda e ao fermento usado na massa para levedá-la.

O Reino de Deus está diretamente relacionado à simplicidade. É dom, gratuidade, partilha, entrega e serviço. É na humilde que este Reino é encontrado por todos aqueles e aquelas que se põem na caminhada com igual espírito. A amorosidade de Deus se manifesta na gratuidade de seu amor, fazendo o Reino acontecer na pessoa e ação de seu Filho amado: “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados”. (1Jo 4,10) O centro da vida humana é a prática do amor. Esse amor testemunha concreta e visivelmente o conhecimento e a união que temos com Deus, com seu Filho e com o Espírito. Que sejamos a semente simples de mostarda, produzindo novos frutos e o fermento que faz transformar a massa em atos de libertação, gerando vida abundante para todos! Lembremo-nos que é a simplicidade e a humildade caracterizam e moldam a bondade do coração.