Sábado da Décima Terceira Semana do Tempo Comum. Mais um final de semana do mês de julho. Nos sábados, a tradição católica, dedica à Maria, numa referência ao Sábado Santo, em que Ela permaneceu firme e não deixou abalar a sua fé, na esperança da Ressurreição do Filho. Assim, neste dia, fazemos memória da grande mulher, vinda da periferia para fazer parte do projeto salvífico de Deus. Enquanto os discípulos duvidaram da Ressurreição de Jesus, se escondendo para não serem presos, a fé de Maria de Nazaré não foi abalada. Na Teologia Católica chamamos este fato de “Reductio Mariae,” o que quer dizer que a fé de toda a Igreja permanece acesa, neste dia, na pessoa de Maria. Ela que acreditou e se entregou. Um coração fiel a Deus e não duvidou de sua promessa. Ela é a nossa referência maior de como estar em sintonia com Deus, no seguimento de Jesus de Nazaré.
Neste sábado, 8 de julho, comemoramos o “Dia Nacional da Ciência” Esta data foi estabelecida pelo Congresso Nacional, no intuito de incentivar a atividade científica no país. O Brasil é tido como um país que possui grandes cientistas em diversas áreas do conhecimento e que tem dado contribuições significativas para o desenvolvimento científico nacional e também internacional. Ciência é conhecimento comprovado! Conhecimento este que procura compreender, verdades ou leis gerais, que fornecem uma explicação para o funcionamento das coisas. Um conhecimento sistematizado que se baseia nas experiências e observações das coisas, tornando-as inteligíveis para as demais pessoas. Sem a ciência, a vida não seria a mesma, pois se estamos vivos, foi graças às inúmeras vacinas à que fomos imunizados desde a infância.
Mas o sábado também nos remete a mais uma das pedagogias ensinadas, vividas e praticadas por Jesus a seus discípulos e também a nós: a pedagogia do jejum. Nem sempre bem compreendido, muitos fazem uma hermenêutica do jejum que foge da “Didaqué” de Jesus, que é o seu “ensino”, “doutrina”, “instrução” aos discípulos e discípulas. De posse deste ensinamento, os apóstolos deveriam propagar às demais gerações, tornando assim presente a prédica e prática de Jesus. E a grande discussão daquele momento, era sobre a prática ou não do jejum naquele contexto histórico: “os discípulos de João aproximaram-se de Jesus e perguntaram: Por que razão nós e os fariseus praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?”. (Mt 9,14)
Para os povos do Antigo Testamento, o jejum era uma forma de proximidade com Deus. Haviam várias maneiras de jejuar, individuais e coletivas, todas numa tentativa de “agradar” a Deus. O próprio texto bíblico não determinava regras quanto à duração do jejum, uma vez que cada um era livre para escolher quando, como e quanto seria o seu jejum. Coube ao profeta Isaias, que teria vivido entre os anos 765 a.C. e 681 a.C., dar uma dimensão social do jejum, com uma pedagogia revolucionaria para esta prática: “O jejum que me agrada é que vocês repartam a sua comida com os famintos, que recebam em casa os pobres que estão desabrigados, que deem roupas aos que não têm e que nunca deixem de socorrer os seus parentes. Então a luz da minha salvação brilhará como o sol, e logo vocês todos ficarão curados” (Is 58,7-8) Para o profeta, procurar a Deus é, antes de tudo, praticar o direito e a justiça, pois a prática de piedade sem esta dimensão, pode esconder um não-compromisso com a vontade de Deus.
O jejum também era considerado como uma prática à espera das promessas de Deus que haveriam ser cumpridas com a chegada do Messias. Jesus, portanto, parte do principio de que não há necessidade do jejum, uma vez que Ele estava ali no meio deles: “Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? (Mt 9,15). Assim, o tempo de espera já terminou. Chegou a hora da festa do casamento, isto é, da nova e alegre relação entre Deus e as pessoas. A Nova Aliança está sendo selada com a presença viva de Jesus no meio dos seus e, por este motivo, é tempo de se alegrar, e não de fazer jejum, enquanto o “noivo” ali está.
Qual é o ignificado de se fazer o jejum num contexto em que muitos dos nossos estão passando fome no seu “jejum forçado”? A prática devocional do jejum precisa ser resinificada. Não se trata mais de deixar de comer isto ou aquilo, mas de se ter uma postura/atitude coerente de vida na experiência de fé. A pedagogia do jejum ensinada por Jesus nos posiciona frente aos desafios da vida, uma vez que Ele veio substituir o sistema da Lei, rigidamente seguido pelos fariseus, e pela instituição que se coloca no lugar da Igreja. Jejuar é um ato de justiça, que vem de um coração amoroso que é rico em misericórdia, abrindo as portas do Reino para todos, sobretudo para as 33 milhões de vidas humanas que passam fome, cuja Campanha da Fraternidade 2023 através de Jesus em Mateus nos alerta: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14, 16).
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