Segunda feira da Semana Santa.
Faltam seis dias para a Celebração Pascal. O dia de hoje nos serve para darmos uma olhada para o passado para ver como aconteceu a nossa reflexão em torno do processo de conversão que buscávamos. Entrarmos no âmago de nossa existência para ver ali as nossas contradições? Deixamos nos levar pelo apelo da Palavra de Deus que salta aos olhos, entra pelos ouvidos e tenta alojar na mente e coração? Ou o frenesi do cotidiano tomou lugar em nós? Ainda há tempo para o reencontro conosco mesmo, na busca pela essência do amor que mora em nós. Somos seres de amorosidade, queiramos ou não.
A Semana é Santa, mas as discussões seguem acontecendo em nossa sociedade acerca da educação e o “papel da escola”. Para alguns, a escola fracassou. Para os que assim pensam, esquecem eles do principal: não é a escola que mostra o seu fracasso, mas a família. É no seio delas que se formam as pessoas, edifica o caráter e desenvolvem a educação para a vida e a convivência em sociedade. A escola dá prosseguimento a estes valores que os alunos trazem de casa, desenvolvendo com estes o processo cognitivo do saber e pensar. É no seio da família que se planeja a sementeira da esperança. Semeia na família para se colher na sociedade.
É na família que se forja o primeiro Eu. Sou quem sou porque tive ou não uma família que me plasmou para a sociedade. Na família, os valores são construídos conforme a essência dos pais que edificam estes novos seres. É na família que os acordes do amor verdadeiro se faz canção nas relações que virão depois. Quando o “Eu” deste ser chega ao ambiente escolar, o desenvolvimento do saber se faz através de um processo cognitivo, sócio-emocional, preparando-os para a vivência no mundo, ajudados pelo saber/pensar escolar. A escola se faz prolongamento da família, ambos com tarefas distintas, mas complementares.
Na família está presente a pedagogia do cuidado. Cuidar para que o outro seja. Na escola a pedagogia está vinculada ao ato do saber ser e pensar. A família edifica o Ser e a escola complementa este Ser, fazendo-o acontecer enquanto ser pleno que se quer ser. Família e escola caminhando de mãos dadas rumo à construção do Ser pleno de luz do saber. Se a família vai bem, a escola também. Todavia, precisamos atentar para aquilo que nos alertara o poeta e dramaturgo francês Victor Hugo (1802-1885): “Toda a doutrina social que visa destruir a família é má, e para mais inaplicável. Quando se decompõe uma sociedade, o que se acha como resíduo final não é o indivíduo, mas sim a família”.
Pedagogia do cuidado feminino que vemos acontecer hoje de forma muito clara, sobretudo na relação de uma determinada Maria com Jesus. Cuidar de lavar os pés daquele que iria passar por um processo bastante doloroso a partir de então. Em sua casa em Betânia, Maria, plena de sensibilidade feminina, sabendo cuidar do Mestre Galileu. Jesus que fora visitar seus amigos Marta, Maria e Lázaro em Betânia. Foi nesta pequena cidade que o evangelista João narra um dos sete sinais realizados por Jesus: a Ressurreição de Lazaro (Jo 11,1-29). Jesus que se apresenta como a ressurreição e a vida, mostrando a todos que a morte é apenas uma necessidade física. O que vem depois é melhor: dias de ressurreição.
Betânia era uma pequena aldeia que ficava nas proximidades do Monte das Oliveiras. Distava cerca de três quilômetros da cidade de Jerusalém, do outro lado do Monte das Oliveiras, conforme João nos apresenta em seu evangelho. (Jo 11,18). Esta pequena vila estava na estrada para Jericó, perto de Betfagé, que Jesus usou como itinerário para chegar a Jerusalém, vindo da periferia. Em sua humilde residência, Maria aproveita para por em dia aquilo que na mulher sobrava: a pedagogia do cuidado feito com amorosidade. Saber cuidar é uma das essências do ser feminino, da qual precisamos muito aprender a cultivar.
“Maria, tomando quase meio litro de perfume de nardo puro e muito caro, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa inteira ficou cheia do perfume do bálsamo. (Jo 12,3) Uma cena que enche os olhos de alegria e contentamento de quem lê, movido pelo mesmo sentimento. Maria, cuidando com amor de mulher. Quem ama cuida! Quem ama demais, cuida em demasia! Quem ama, cuida e serve! Quem não sabe cuidar, não sabe o que é amar. Somente um coração transbordante de amor sabe saber cuidar. Mais do que preparar o corpo de Jesus para o que viria pela frente, (sofrimento, dor, paixão e morte – RESSURREIÇÃO), Maria nos ensina que devemos ser pessoas do cuidado. Amar cuidando, afinal, quem cuida do outro acaba cuidando de si mesmo. E viva a pedagogia do cuidado feminino! Quiçá seja também a nossa.
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