Vigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum. Setembro segue desbravando as mudanças climáticas, ocasionadas pela irresponsabilidade (des) humana. O único ser que se gaba de ser racional, se perdendo na irracionalidade. Se entendermos racionalidade como a capacidade de tomar decisões baseadas em pensamentos lógicos, muitos outros animais podem ser considerados mais racionais que os humanos, já que eles não têm o propósito de destruir aquilo é a fonte de sua subsistência. Como já adiantou o filósofo e teólogo alemão Albert Schweitzer (1875-1965): “Vivemos em uma época perigosa. O homem domina a natureza antes que tenha aprendido a dominar a si mesmo”.
Para quem é educador ou simpatizante da educação, neste dia 8 de setembro, estamos comemorando o “Dia Mundial da Alfabetização”. Esta data foi criada no ano de 1967, pela Organização das Nações Unidas (ONU) e também pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O objetivo principal foi o de sensibilizar a todos sobre a importância de saber ler, escrever e interpretar o que se lê. Num mundo marcado pela desigualdade social, onde alguns se sentem no direito de ter mais direitos que os outros, o dia de hoje vem no sentido de propor alternativas possíveis e viáveis, para que a alfabetização seja acessível a todos. No país do maior pedagogo do mundo, nunca é tarde para lembrar do que disse Paulo Freire: “A alfabetização é mais, muito mais, do que ler e escrever. É a habilidade de ler o mundo”.
Meu domingo enfumaçado e com o clima típico de verão, começou muito cedo. Como tinha que celebrar com a comunidade Nossa Senhora da Assunção, resolvi chegar mais cedo e rezar na capelinha dos fundos da Catedral de São Félix. Ali me deixei levar pelo espirito da mística profética de Pedro. Restou-me alegrar por estar vivo, por gozar do privilégio de fazer parte desta Igreja, e por ser quem sou e estar presente neste contexto histórico. Deus foi muito generoso comigo, por me possibilitar fazer parte da história de uma Igreja que se notabilizou pelo compromisso com as causas dos empobrecidos desta região do Araguaia, como nosso bispo mesmo nos dizia: “Só vivendo a noite escura dos pobres, é possível viver o Dia de Deus. As estrelas só se veem de noite”.
Um domingo em que pudemos tomar contato mais direto com a pedagogia do cuidado de Jesus para com os mais necessitados de carinho e atenção. O texto de Marcos deste domingo nos situa no contexto de Jesus, tendo sua atuação no meio dos pagãos. Lembrando que Jesus estava passando por um momento crítico em seu ministério, uma vez que seus adversários, as autoridades religiosas, o estavam acusando de não cumprir a tradição dos antigos, de comer com as mãos impuras, por exemplo. E, por mais que Jesus argumentasse, dizendo que a pessoa humana estava acima de qualquer lei ou tradição, não convencia tais autoridades, que permaneciam fechadas no seu jeito de relacionar-se com Deus, priorizando o cumprimento da tradição dos antigos.
Como vemos, Jesus está na terra dos pagãos. Tiro e Sidônia estão situadas na Fenícia (atualmente, o Líbano). Estas cidades estavam localizadas ao norte da Galileia, aproximadamente 65 quilômetros de Cafarnaum. Segundo o evangelista Marcos, é provável que Jesus tenha se dirigido a esta região, não somente por causa dos destinatários primeiros de sua mensagem de libertação, mas também para que a temperatura das controvérsias com as autoridades judaicas esfriassem um pouco. Naquela região, Jesus curou uma mulher sírio-fenícia (Mc 7,24-30), que a liturgia deste domingo pulou. Jesus cuida com carinho, atenção e amorosidade das pessoas mais necessitadas de cuidado.
Os versículos escolhidos para este domingo fazem menção a mais uma das curas realizadas por Jesus: “Trouxeram então um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão”. (Mc 7, 32) A mensagem de Jesus se baseia no anúncio da palavra e na prática concreta de ações libertadoras das pessoas. Ele estava ciente de que, com a sua missão, iniciava-se uma nova criação (Gn 1,31). É por este motivo que Ele se sente a vontade para abrir os ouvidos e a boca das pessoas, para que elas fossem capazes de ouvir e falar, isto é, discernir a realidade e dizer a palavra que a transforma. Jesus está comprometido com a vida e a felicidade das pessoas. Este texto de hoje nos mostra que devemos abrir também os nossos olhos e os ouvidos, para não nos fecharmos em nosso egoísmo, comodismo e autossuficiência, mas que abramos o coração ao amor, à partilha, à comunhão, pois este é o caminho para quem deseja seguir os passos de Jesus, adotando sua pedagogia do cuidado e atenção aos que mais precisam de nós. Como diria Dom Bosco: “A sabedoria é a arte de governar a própria vontade”. Que sejamos artífices da nossa vontade, em favor da pedagogia do cuidado de Jesus.
Comentários