A origem divina de Jesus (Chico Machado)

Sexta feira da Quarta Semana da Quaresma. Sextando em meados de março, em que vamos dando sequência à caminhada quaresmal, objetivando a busca incessante de nossa conversão ao projeto de Jesus de Nazaré. É certo que converter inclui uma mudança de comportamento, mas vai além do comportamento: trata-se de uma mudança em nossa própria natureza humana. Ou seja, a conversão é um processo, não um acontecimento isolado. Convertermo-nos como resultado de uma procura e empenho em seguir os passos de nosso divino Mestre. Este é o caminhar da quaresma, em que estamos indo em direção ao acontecimento maior da fé cristã: a Páscoa do Cristo Ressuscitado.

Caminhar pela vida tem os seus percalços, mas também as alegrias. O dia de ontem foi um destes dias de alegria. Celebramos junto com o Padre José Oscar Beozzo, seus 60 anos de presbitério. Ele que no dia 14 de março de 1964, em Roma, no Colégio Pio Brasileiro, foi celebrada a sua Ordenação Presbiteral. Toda uma vida dedicada às causas dos pequenos, pobres e marginalizados, sendo referência como historiador da Igreja e seguidor fiel das pegadas de Jesus de Nazaré. Um dos expoentes assessores do Concílio Vaticano II (1962-1965). Parabéns ao Pe. Beozzo, e que Deus continue derramando suas bênçãos sobre ele, para que continue a ser este grande evangelizador pós Concílio.

Conheço o Padre Beozzo há 37 anos. Este é o tempo em que passamos juntos com ele como monitores, na construção e execução do Curso de Verão do CESEEP, a cada mês de janeiro, na PUC de São Paulo, região das Perdizes/SP. Somos crias deste grande mutirão de sonhadores das causas do Reino. Beozzo era também uma das grandes referências para o nosso poeta, bispo e pastor. Pedro ficava todo feliz quando eu dizia a ele, que estava indo participar de mais um Curso de Verão. Nunca me esqueço das palavras dele, juntamente com o abraço, direcionados ao Pe. Beozzo: Fé, Esperançar, teimosia/resistência e utopia do Reino. Beozzo sempre foi a nossa referência da luta e do pensar eclesial. Aprendi os meus primeiros passos no sacerdócio com ele. Várias gerações foram formadas, passando pelas suas mãos e ideias libertadoras bem fundamentadas.

“As únicas pessoas que realmente mudaram a história foram os que mudaram o pensamento dos homens a respeito de si mesmos”, afirmava o ativista norte americano Malcom X (1925-1965). Viver o dia de hoje é olhar pelo retrovisor do presente, a história que se passou, e aprender o que dela podemos tirar de bom. Este é o meu objetivo ao falar de uma das festas judaicas, a que o texto do Evangelho de hoje se refere: “Festa das Tendas”. Esta era uma das três principais festas da tradição judaica: Páscoa, que na Bíblia se confunde com a festa dos ázimos; celebrada na primavera, mais tarde convertida numa celebração nacional; Pentecostes, celebrada cinquenta dias após a páscoa; Tabernáculos ou “Tendas”, que era uma das mais importantes festas celebradas pelos israelitas. Segundo o historiador Flávio Josefo, a festa mais santa e mais importante dos hebreus.

A liturgia desta sexta feira nos proporciona refletir uma perícope retirada do capítulo 7 do Evangelho de João. Ameaçado de morte, Jesus vai, às escondidas, participar da Festa das Tendas. Sem passar pela Judeia, já que os judeus o queriam morto. O comentário que circulava entre o povo, era sobre a ascendência terrena de Jesus, como um conhecido morador de Nazaré. Não conheciam e nem se interessavam em saber a origem divina de Jesus. Entretanto, Jesus falava as claras, sem temor algum: “Vós me conheceis e sabeis de onde sou; eu não vim por mim mesmo, mas o que me enviou é fidedigno. A esse, não o conheceis, mas eu o conheço, porque venho da parte dele, e ele foi quem me enviou”. (Jo 7,28-29) O Filho falando do Pai e da sua responsabilidade de Messias enviado Deste.

A morte de Jesus estava desenhada nos planos das autoridades judaicas. Todavia, o que leva Jesus a falar e agir não é a busca de sucesso pessoal, nem a defesa de algumas doutrinas de círculos religiosos oficiais que manipulam a fé do povo. Na sua ação, Ele busca apenas realizar a vontade de Deus Pai, e esta se apresenta como libertação para todas as pessoas. Além do mais, a atividade de Jesus, seu falar e agir denuncia o agir perverso da sociedade, e por isso provoca ódio, sobretudo das autoridades. Elas veem em Jesus um perigo iminente. Ele deve morrer! Assim, a presença de Jesus é sinal de contradição que vai revelando a face das pessoas. Jesus então mostra o verdadeiro critério para reconhecer o Messias: não é o lugar de sua origem, mas o fato de Ele ser o enviado de Deus, cuja atividade será reconhecida pelas obras que Ele faz. Lembrando que Messias é uma palavra derivada do aramaico e do hebraico, que significa “o ungido”. Jesus é chamado de Cristo, que é o equivalente em grego de Messias. Significa o Profeta Ungido, Sacerdote, Rei e Libertador.

Luiz Cassio

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