Terça feira da Vigésima Semana do Tempo Comum. Estamos atravessando o 233º dia do ano, sendo que outros 133 estão vindo em nossa direção. Agosto segue com mais cara de verão, que propriamente inverno: sequidão, ventania e a terrível e irresponsável fumaça das queimadas. A Lua está na fase cheia. No momento, este satélite natural da Terra está 99% visível aos nossos olhos, como o foi na noite de ontem, sobre o Araguaia. Indescritível, tamanha beleza natural. Se, como disse o poeta Mario Quintana, “O luar é a luz do sol que está dormindo”, deixei-me ser penetrado pelos raios bem vindos do luar, invadindo toda minha retina em arte divina.

Terça feira em que a Igreja Católica nos traz a festa de São Bernardo de Claraval (1090-1153). Bernardo nasceu na última década do século XI, em Dijon, França. Monge Cisterciense, político-eclesiástico, filósofo, Padre e Doutor da Igreja, não se limitou ao testemunho silencioso, mas falou, pregou, escreveu. Sua obra, composta de sermões, tratados e cartas, é o testemunho cristão da Idade Média, apresentando as controvérsias políticas e doutrinais da sua época. São Bernardo foi canonizado em 1174, pelo Papa Alexandre III. Já o Papa Pio XII dedicou-lhe uma encíclica intitulada “Doctor Mellifluus”, recebendo, com toda honra e justiça, o título de doutor da Igreja em 1830. Seguiu a risca em vida, esta sua frase: “A causa para amar a Deus é o próprio Deus; a medida, amá-lo sem medida”.

Segundo alguns estudiosos da História da Igreja, Bernardo é considerado o último “Padre da Igreja”. São chamados “Padres da Igreja”, os escritores eclesiásticos dos primeiros séculos que, distinguindo-se pela santidade de vida, pela excelência e pela ortodoxia da doutrina, mereceram receber da Igreja este título expressivo e extraordinário. Os Padres da Igreja formavam o período denominado de Patrística, que é considerada a primeira fase da filosofia medieval, cuja principal característica era a expansão do Cristianismo na Europa. A Patrística, Escola Patrística ou Filosofia Patrística, foi uma corrente filosófica cristã da época medieval que surgiu no século IV, permanecendo até o século VIII. Durante estes séculos, a filosofia esteve voltada para os ensinamentos dos “homens da Igreja” (filósofos, teólogos, padres, bispos).

Bernardo foi um autêntico e fiel apóstolo seguidor de Jesus. Dedicou a sua vida às causas maiores, como o fizeram tantos outros, homens e mulheres, que fizeram e ainda fazem parte do grupo de Jesus de Nazaré. Como os discípulos, ensinados e orientados pelo próprio Jesus, saíram pelo mundo, testemunhando em vida, o Reino de Deus. Homens e mulheres que fizeram de sua vida, serviço gratuito pelo Reino, em busca do bem maior que não estava nas riquezas do mundo, mas no primado do Absoluto de Deus, como nos adverte Jesus no Evangelho desta terça feira: “Dificilmente um rico entrará no Reino dos Céus. E digo ainda: é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus”. (Mt 19,23-24) A salvação vem de Deus e não das coisas.

Como de costume, uma fala radical de Jesus, aos seus discípulos que, certamente, os deixaram profundamente assustados e preocupados. Espantados, a reação deles foi imediata: “Então, quem pode ser salvo?” (Mt 19,25) Todos eles, seguramente, estavam cientes de suas limitações e imperfeições, diante das escolhas a serem feitas na vida deles como seguidores do Mestre. A vida é feita de opções e as consequências delas no decorrer da caminhada de fé. Deus não se encontra nos grandes feitos, mas nas pequenas coisas da vida. Com bem disse o nosso Padre Júlio Renato Lancellotti: “Este é o mistério do amor de Deus: ele é grande, mas está escondido nas coisas pequenas, que os sistemas deste mundo desprezam e consideram sem nenhum valor”.

A opção primeira é pelo amor gratuito e incondicional. Deus se faz possível no impossível. Se para os discípulos foi difícil o entendimento desta fala de Jesus, para nós não é diferente. Geralmente temos o hábito de nos apegarmos àquilo que nos dá segurança e bem-estar. Como é difícil sairmos de nós mesmos, de nosso eu egoísta, e da nossa relação intimista acomodada com um Deus nas alturas, esquecendo que a luta é aqui no chão sagrado da história. Ser seguidor e seguidora de Jesus, se faz necessário sairmos da nossa zona de conforto, para irmos ao encontro da verdadeira riqueza: amor generoso e misericordioso, perdão, entrega, serviço, dedicação ao Reino. Nós, por nós mesmos, não conseguiremos dar este passo decisivo rumo ao possível em Deus. Só o poder de Deus e a sua obra salvadora nos darão essa possibilidade. Para seguir a Jesus não bastam as nossas forças humanas. Lembrando que a obra não é nossa, mas de Deus. Ainda bem que resta-nos o consolo de Jesus: “Para os homens isso é impossível, mas para Deus tudo é possível”. (Mt 19,26) Como já nos dissera também a francesa, Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897): Jesus não exige de nós grandes ações, mas simplesmente entrega e gratidão”. Vamos lá?