Terça feira da Primeira Semana do Tempo Comum. Comum é só uma denominação pois, como poderemos perceber, vamos neste tempo litúrgico, aprofundando, a cada dia, um pouquinho mais na atividade pública messiânica de Jesus. Como no dia de hoje, trata-se do início da sua missão. Ele que passou grande parte de sua vida, aprendendo com Maria e com José, na vilazinha de Nazaré, sai para a missão de anunciar a chegada do Reino, curar e libertar os empobrecidos, como destinatários primeiros.

Hoje é também um dia especial para nós do Curso de Verão, em especial. Nosso mestre, padre José Óscar Beozzo, tem, no dia de hoje, o seu aniversário natalício. São 84 anos de muita luta e caminhada nesta Igreja da libertação. Se ele, como grande historiador que é, contribuiu direta e decisivamente, na construção do Concílio Vaticano Segundo (1962-1965), segue nos colocando em sintonia com esta Igreja, na estrada da libertação, que se faz pobre, com os pobres nas causas deles. Já são 38 anos de formação de diversas gerações de pessoas, que se comprometem com as causas do Reino. Eu estou no meio delas. Tudo isso, com a assinatura deste homem de Deus. Parabéns, padre Beozzo!

Pouco sabemos da vida de Jesus passada com os seus pais, na periferia de Nazaré. Os Evangelhos nos trazem alguns relatos de sua infância. O último deles foi quando Ele ainda estava na adolescência, ou juventude, com os seus doze anos. Depois, somente aos trinta anos, Ele volta à narrativa dos Evangelhos, até porque, a preocupação primeira deles é teológica e não fazer um relato biográfico completo de Jesus de Nazaré.

A cena de Jesus hoje, narrada pelo Evangelho de Marcos, acontece na Sinagoga em Cafarnaum, num dia de sábado. Num dia sagrado, num lugar sagrado, Jesus está ensinando. Isto sob os olhares atentos, dos que ali estavam, admirados com a forma de ensinar, pois Ele ensinava com autoridade, e não como os mestres da Lei, como o texto assim o menciona.

A Cristologia lida com dois momentos muito claros na vida de Jesus: o Jesus Histórico e o Jesus da fé. O primeiro é o Jesus de Nazaré, que viveu e conviveu com os seus, em sua vida terrena na Palestina; o segundo é o Jesus pós Pascal, o Cristo da fé, o ressuscitado, assumindo a sua condição de ressuscitado, como vitória da vida sobre a morte. Como bem definiu o centurião romano: “verdadeiramente, este era, de fato, o Filho de Deus”. (Mt 27,54)

Aos trinta anos de idade, o Jesus histórico assume a sua missão de evangelizar os pobres, anunciando-lhe a chegada do Reino. Um anúncio que era acompanhado de ações concretas de libertação, como no caso de um homem com um espírito mau que apareceu diante dele na sinagoga: “Cala-te e sai dele!” Então o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu”. (Mc 1,25-26)

Este é um dos primeiros sinais (milagres) realizados por Jesus. Com sua ação, Ele possibilita que aquele homem volte a ter consciência de si mesmo, alcançando a sua liberdade, para fazer e agir por si mesmo. Caminhar com suas próprias pernas. A ação demoníaca escraviza e aliena as pessoas, impedindo-as de pensar e de agir por si mesmas. Este milagre de Jesus faz o homem voltar à consciência e à liberdade. Somente assim, ele pode segui-lo. O texto de hoje, não nos diz qual era o ensinamento de Jesus; entretanto, mencionado junto com uma ação de cura, podemos intuir que o ensinamento dele se dá dentro de uma prática concreta de libertação, superando assim a doutrinação religiosa alienada dos mestres da Lei, de ontem e de hoje.