Sétimo Domingo do Tempo Comum. Adentramos na ultima semana do mês de fevereiro. Neste domingo, a Lua está na fase minguante. Faltam apenas quatro dias para a mudança na sua fase, que será nova. A Lua é minguante, mas neste domingo, também comemoramos o Dia da Sedução. Data marcada para celebrar o amor e a paixão, aproveitando desta oportunidade para, quem sabe, conhecer alguém especial, encontrar uma forma de conquistar e ser conquistado/a, ou simplesmente para expressar o carinho afetuoso pelo/a seu/sua companheiro/a. Quiçá, aproveitando deste ensejo para fazer planos para o futuro, comemorar as conquistas de outrora e reforçar os laços amorosos dos casais que já estão juntos. Nada melhor que aproveitar desta data oportuna para celebrar aqueles e aquelas que nos amam, para dar flores, fazer declarações e, acima de tudo, viver momentos inesquecíveis. Sou daqueles que acreditam que a felicidade é viver grandes momentos com quem sabe viver pequenos instantes.
“Seduziste-me Senhor, e eu me deixei seduzir. Foste mais forte do que eu e venceste”. (Jr 20,7) Assim como Jeremias deixou-se seduzir pelos encantos do Deus da vida, assumindo a sua missão profética, não deixando abater-se pelos desafios e pelos momentos difíceis, somos também chamados a deixar-nos seduzir por Jesus de Nazaré, e seu projeto de amor, no anúncio do Reino. Tarefa nada fácil, mas, nos momentos de maiores dificuldades, possamos dizer como o salmista: “O Senhor é a minha rocha, a minha fortaleza e o meu libertador; o meu Deus é o meu rochedo, em quem me refugio. Ele é o meu escudo e o poder que me salva, o meu rochedo e a minha fortaleza”. (Sl 18,3)
“A medida do amor é o amor sem medida”. Assim Santo Agostinho definia a sua relação de amorosidade com Deus, transformando as suas relações com este estigma. Assim também devemos nos posicionar diante do texto do Evangelho de Lucas, que a liturgia deste domingo nos propõe. Talvez um dos textos mais difíceis de ser compreendido na sua essência e praticado da forma que Jesus nos propõe. Trata-se de um dos ensinamentos de Jesus a seus discípulos, imediatamente após adverti-los quanto aos falsos profetas e dos ricos, cuja preocupação maior está no acúmulo de bens. Certamente neste texto de hoje, Jesus está preparando os seus, para construírem relações, cuja amorosidade, compaixão e misericórdia perpassem todas as relações deles.
Podemos identificar três chaves de leitura para melhor compreender o texto de hoje. A primeira delas é esta: “o que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles”. (Lc 6,31) Ou seja, na proposta de Jesus, não se pode exigir de alguém, aquilo que elas não veem em nós. Se quisermos que o outro me acolha e trate bem, esta atitude precisa, necessariamente, sair de mim também. A segunda chave é esta: “Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso”. (Lc 6,36) Ser com e para as pessoas como Deus é na sua essência: um Deus de misericórdia plena. E por fim, o texto de hoje conclui com a última chave de leitura: “com a mesma medida com que medirdes os outros, vós também sereis medidos”. (Lc 6,38) Deus nos tratará da mesma forma com que tratamos os nossos irmãos e irmãs. Ou seja, o que vai de mim em direção ao meu irmão, a minha irmã, vem de Deus em minha direção. Em outras palavras, Deus nos dá a oportunidade de receber d’Ele, aquilo que damos aos outros. Ele não nos julga com a mesma medida que usamos para os outros. O rigor do nosso julgamento sobre o nosso próximo mostra que desconhecemos a nossa própria fragilidade e a nossa condição de pecadores e pecadoras diante de Deus.
Nosso Deus é o Deus da infinita misericórdia. Esta é a face deste Deus, que Jesus veio nos revelar, assumindo a nossa condição humana. Não um Deus, conforme a concepção do Antigo Testamento: carrasco, perseguidor e pronto a castigar quem errasse. O Deus de Jesus é o Deus da amorosidade, da ternura e da compaixão. Age sempre movido por sua infinita misericórdia. Fazendo jus a este Deus amoroso, Jesus mesmo disse com todas as letras: “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por meio dele”. (Jo 3,17) Neste sentido, Deus não quer que as pessoas se percam, nem sente prazer em condená-las, como um carrasco. Ele manifesta todo o seu amor através de Jesus, para salvar e dar a vida a todos e todas.
Deus é o Senhor da misericórdia! Uma palavra muito forte e de um significado profundo. Etimologicamente a palavra misericórdia tem origem latina, e é formada pela junção de “miserere” (ter compaixão), e “cordis” (coração). Agir movido pela misericórdia é ter a capacidade de sentir com o coração, aquilo que a outra pessoa está sentindo naquele momento. Ter misericórdia de alguém é aproximar os seus sentimentos dos sentimentos daquela pessoa em si, ter empatia e ser solidário com aquilo que a pessoa está passando, sentindo. Não se trata apenas de um mero sentimento fugaz, mas ter uma atitude decisiva que parte do coração em relação àquela pessoa. No contexto em que Jesus viveu na Palestina, Ele sabia que a vida naquela sociedade era movida por relacionamentos de interesses e reciprocidade, que geravam lucro, poder e prestígio. Todavia, Ele veio revolucionar também aquela forma de pensar, mostrando que as relações humanas, numa sociedade justa e fraterna, devem ser gratuitas, à semelhança do amor misericordioso do Pai.
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