Quinta feira da Quinta Semana da Páscoa. Pouco mais de duas semanas nos separam do encontro em Pentecostes: a Terceira pessoa da Trindade Santa, vindo fazer parte de nossa rotina diária, fortalecendo-nos na caminhada. Deus Pai, Deus Filho, e Deus Espírito Santo, irmanados com a grande família humana. Enquanto lá não chegamos, seguimos nesta dinâmica pascal, celebrando a cada dia a vida do Ressuscitado em nossas vidas. A fé na ressurreição de Jesus nos faz crer que a vida não tem fim, e que há um horizonte infinito de possibilidades para todos aqueles que cremos. Jesus Ressuscitado é o nosso companheiro de caminhada rumo à vitória, às conquistas, à superação da dor e dos sofrimentos, esperançando por dias melhores.
Se ontem celebramos o dia dos trabalhadores e trabalhadoras, hoje a Igreja Católica celebra a memória de Santo Atanásio, bispo e doutor da Igreja. Atanásio nasceu em Alexandria, no Egito, por volta do ano de 295 d.C., falecendo em 373 d.C. Este egípcio do século IV do cristianismo, viveu tempos difíceis, em que os cristãos eram perseguidos e muitos deles foram assassinados pela força repressiva dos impérios. Conviveu assim com tempos de martírio dos primeiros cristãos. Resumia a sua teologia no seguinte raciocínio: “Toda a graça que nos é dada na Trindade nos é dada pelo Pai, através do Filho, no Espírito Santo”. Deus uno e trino, que ama incondicionalmente cada um dos que criou.
Neste clima pascal pelo qual estamos caminhando, o texto que a liturgia nos oferece hoje (Jo 15,9-11), nos permite fazer uma discussão aprofundada sobre o amor. Na sua alocução com os discípulos, Jesus lhes assegura: “Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor”. (Jo 15,9) Isto quer dizer que o amor de Jesus pelos seus, tem origem no amor originário entre o Pai e o Filho. É essa comunhão de amor que está na origem de todas as manifestações (teofanias) de Deus, no intuito de salvar a humanidade. Desta forma, devemos corresponder a este amor, escutando atentamente o que Jesus diz e nos ensina, para que possamos permanecer neste amor.
A lógica do amor entre o Pai e o Filho é a mesma que está presente entre Jesus e nós. A medida do amor entre Jesus e nós é a mesma que existe entre o Pai e o Filho. O Pai amou o Filho, e este, vindo ao mundo, permaneceu unido no amor ao Pai por uma atitude constante de obediência e observância da sua vontade. O mesmo aconteceu entre Jesus e os discípulos. O mesmo acontece entre Jesus e nós. Ao nos amar, Jesus manifesta em nós a infinitude do amor de Deus para conosco. Por este motivo, se fazemos a nossa adesão por Jesus, devemos procurar realizar o que Ele realizou durante a sua vida, e testemunhar o amor d’Ele, permanecendo unidos no seu amor. Muito mais importante do que amar a Jesus é deixar-nos amar por Ele, acolhendo o amor que o Pai tem por Jesus, e que oferece a cada um de nós.
A medida do amor é a forma como Deus amou o seu Filho Jesus. Amar como Jesus amou e ama cada um de nos. A medida do nosso amor é amar como Jesus nos ama. Não apenas como um sentimento que vem de dentro, mas com atitudes e gestos concretos de quem ama e faz manifestar este amor nas relações e compromissos de uma fé envolvente, de quem não se cansa de amar. Nesta mesma dinâmica, somos chamados a deixar-nos possuir pela alegria de amar sem medidas, engravidando-nos do amor de Deus e deixar-nos possuir pelo mesmo amor de Jesus. A essência da nossa existência é a pertença a este grande amor divino que vem de Deus em Jesus. Existência que está plena da presença deste amor que vem de Deus como dom gratuito e que transborda como presença amorosa de um Deus que nos criou.
Amor pleno de esperança e alegria que renova cada dia de nosso ser neste mundo. É a plenitude do amor de Deus que está em nós. Deixar-nos possuir por este amor, é o nosso gesto filial de entregar-nos, para que toda a vontade de Deus aconteça em nós: “Eu vos disse isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena”. (Jo 15,11) Significa que devemos amar como Jesus nos ama. Quem assim o faz, não está isento de dificuldades, desafios e obstáculos, mas tem a certeza de que não está sozinho nesta tarefa de amar sem medidas. “Deus é amor; quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus permanece nele” (1 Jo 4,16). Permanecer no amor é fazer e aceitar tudo por amor, especialmente as cruzes de cada dia, como o evangelista Lucas já nos dissera acerca de uma das falas de Jesus: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga”. (Lc 9,23) Amar, amando e entregando para que o amor nos transforme.
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