Sexta feira da Décima Segunda Semana do Tempo Comum. Sextando pela última vez no mês das festas juninas. Antes de Celebrarmos a Festa de São Pedro e São Paulo (29), celebramos na data de hoje, a memória de Santo Irineu, bispo e Mártir da Igreja. Irineu se tornou um dos mais importantes escritores cristãos do século II. Teve uma convivência muito próxima com o apostolo São João. A festa de hoje relembra o seu martírio, que ocorreu no dia 28 de junho de 202. Coube ao Papa Francisco declarar Santo Irineu Doutor da Igreja, no dia 21 de janeiro de 2022, com o título de “Doctor Unitatis” (Doutor da Igreja). Uma de suas frases tornou-se muito famosa: “Por causa do seu amor infinito, Cristo tornou-se naquilo que nós somos, para fazer plenamente de nós aquilo que Ele é”.

O mês de junho está indo embora, mas não podemos deixar de fazer referência a Comissão Pastoral da Terra (CPT), que foi criada em junho de 1975. Organização vinculada à CNBB, criada por ninguem menos que Dom Tomás Balduíno e Dom Pedro Casaldáliga, dentre outros, como o nosso querido Padre Canuto. O objetivo primeiro da CPT é a luta pelos direitos dos trabalhadores rurais e camponeses, promovendo a justiça social e a reforma agrária no Brasil. Completando seus 49 anos de luta e resistência, num país de latifundiários, ela iniciou neste mês de junho o seu jubileu de 50 anos. Como bem disse nosso bispo Pedro: “A CPT tem sido, é e será, prosseguindo uma presença e uma ação proféticas da Igreja de Jesus, nas lutas do campo”.

Luta no campo e na cidade. Quem é da cidade grande, como nosso profeta Padre Júlio Lancellotti, sabe o quanto é difícil também a luta em defesa das pessoas em situação de rua, nos grandes centros urbanos. Como se não bastassem as dificuldades rotineiras, ainda há os adversários intransigentes dentro da classe politica. Nesta semana, por exemplo, a Câmara Municipal de São Paulo, aprovou em primeira instância, um projeto de lei (PL) que propõe protocolos para doação de alimentos a pessoas em situação de rua. Se aprovado como está, só poderão doar comida entidades com registro formal. “Eventuais irregularidades impõem multa de R$ 17 mil aos responsáveis”. Evidente que a intenção de quem está por trás deste projeto, são aqueles que querem atingir diretamente a pessoa do Padre Júlio, com o seu trabalho pastoral, que tanto incomoda a elite. Ainda bem que ele está preparado: “Eu não luto para vencer. Sei que vou perder. Luto pra ser fiel até o fim”, afirma.

No tempo de Jesus não era diferente. Hoje, segundo o texto da liturgia, Ele está lidando com um homem acometido pela lepra, uma terrível doença daquela época. Diante daquele contexto, a classe política e religiosa (escribas, fariseus, saduceus, mestres da Lei, anciãos do povo, sumos sacerdotes), seguiam à risca o que estava escrito na Lei no Antigo Testamento: “Quem for declarado leproso, deverá andar com as roupas rasgadas e despenteado, com a barba coberta e gritando: ‘Impuro! Impuro!’ Ficará impuro enquanto durar sua doença. Viverá separado e morará fora do acampamento. (Lv 13,45-46) À pessoa declarada leprosa, impunha-se um comportamento especial para que fosse reconhecida e vivesse fora da comunidade.

O leproso era um marginalizado da vida social. Pobre, doente e marginalizado e excluído da convivência social. As autoridades apenas reforçavam esta condição cruel e desumana, em que viviam os doentes. Conhecendo a fama de Jesus, um destes doentes cria coragem: “Eis que um leproso se aproximou e se ajoelhou diante dele, dizendo: ‘Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar’”. (Mt 8,2) Ao contrário das autoridades, Jesus, no seu projeto de libertação, vai até o leproso, o cura e o reintegra à vida social. Através da cura, Jesus o reintegra à comunidade, mostrando que o verdadeiro cumprimento da Lei não é declarar quem é puro ou impuro, mas fazer com que a pessoa fique purificada e volte a viver conforme os planos de Deus na criação.

O leproso era considerado um “desgraçado”, impuro, excluído e marginalizado. Ninguém dele podia se aproximar, muito menos o tocar. Tanto que aquele homem pede para ser “purificado”. Ele sabia que a sua doença era considerada fruto do pecado e expressão de impureza legal. Jesus o purifica (cura) e o manda ao sacerdote, para que este verificasse a cura. O texto de hoje diz que muitos seguiam a Jesus, além dos discípulos. Aquele homem, doente e marginalizado, reconhece a divindade de Jesus. Isto fica claro no gesto que ele teve diante do Nazareno: chama-o de “Senhor” e se prostra diante d’Ele. Muitas outras doenças hoje marcam o nosso cotidiano. Pessoas de bem e que dizem cumprir fielmente os preceitos religiosos, trazem em si doenças mais terríveis que a lepra do tempo de Jesus: ódio, indiferença, comodismo, mentira, mostrando a falta de amor em seus corações. Também estas pessoas precisam ser purificadas urgentemente por Jesus, para não ficarem engrossando o coro das autoridades civis/religiosas de ontem e de hoje.