Segunda feira da 25ª Semana do Tempo Comum. A última semana do mês de setembro acontecendo, já com os ares primaveris no meio de nós. Mesmo com a fumaça e o calor predominando, aqui e acolá, vemos o raiar da esperança com as árvores se vestindo de verde, nos dando flores multicores. A esperança renascendo com a natureza, mesmo agredida pela insanidade humana, ela aposta de que vamos mudar as nossas atitudes em relação ao cuidado da nossa Casa Comum, seguindo na mesma linha de raciocínio do Papa Francisco: “Todas as formas de vida estão interconectadas, e a nossa saúde depende dos ecossistemas que Deus criou e dos quais nos encarregou de cuidar”.
Minha semana começou de forma muito triste. Logo pela manhã, recebi a notícia da Páscoa, de um dos colegas, dos bons tempos de seminário. Padre Eusébio Francisco, partiu para a casa do pai. Rezei por aqueles que sempre tenho rezado, e também pelo padre amigo, que vai ser sepultado em sua cidade natal, Bandeirantes, no Paraná. Recordei dos muitos momentos alegres e festivos passados juntos, no seminário Santo Afonso, em Aparecida, quando fazíamos ali o antigo Colegial, hoje Ensino Médio. Éramos da mesma turma, e Eusébio era uma pessoa muito alegre e de bem com a vida. Quanta saudade o meu coração está sentido nestes dias. Lembrei-me do poeta Mário Quintana (1906-1994) quando disse: “A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo”.
“Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas possuirá a luz da vida”. (Jo 8,12) É desta forma que Jesus denomina a si mesmo, como Verbo Encarnado, como Messias enviado pelo Pai. Quem chega a este Jesus, experimenta em si mesmo a luz da vida plena, e se faz luz no obscurantismo de um mundo marcado pela injustiça e desigualdade. Ser a luz da vida na vida de muitas outras pessoas, fazendo com que a mesma luz que é Jesus, possa clarear a noite escura das trevas. Este é o desafio que nos é colocado diante do texto que a liturgia de hoje nos propõe refletir, como palavra para a nossa vida: ser luz, onde a escuridão insiste em querer brilhar.
O importante não é pregar, anunciar esta palavra, mas dizer dela, a partir da nossa prática cotidiana. Anunciar a palavra a partir da vida. Palavra vivida, palavra anunciada Falar é muito fácil. Viver esta palavra, e deixar que os nossos atos concretos, falem por si, é muito mais difícil. Ser seguidor de Jesus pressupõe que vivamos aquilo que Ele anunciou com a sua própria vida. Somente um coração humilde e sincero sabe o que isto significa. Não fomos chamados para ter uma relação pessoal e intimista com Deus, sem a conexão direta com a vida dos irmãos e irmãs. Ser a luz do mundo como Jesus, é irradiar a vida que Deus quer plena para todos os seus.
“Vocês são a luz do mundo. Ninguém acende uma lâmpada para colocá-la debaixo de uma vasilha, e sim para colocá-la no candeeiro, onde ela brilha para todos os que estão em casa. Assim também: que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem, e louvem o Pai de vocês que está no céu”. (Mt 5,14.16) É desta forma que Jesus vê aqueles e aquelas que fazem a opção pelo seguimento d’Ele. Ser esta luz, irradiando vida por onde quer que possamos estar e passar. O mundo está carente desta luz verdadeira, que faz a vida brotar e germinar de forma perene como Deus assim o quer. Sermos regidos pela luz do Ressuscitado que vive em nós e por nós. Deixar o nosso coração encher de afeto pelas causas do Reino, lembrando do recado dado pelo grande poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare: “As palavras sem afeto nunca chegarão aos ouvidos de Deus”.
No texto lucano de hoje, Jesus está dando o recado endereçado a todos nós: “prestai atenção à maneira como vós ouvis! Pois a quem tem alguma coisa, será dado ainda mais; e àquele que não tem, será tirado até mesmo o que ele pensa ter” (Lc 8,18) Este texto nos mostra que a libertação trazida e iniciada por Jesus não é para ser abafada ou ficar escondida, mas para se tornar conhecida e contagiar todas as pessoas. Aquele e aquela que acolhe a Boa Notícia aprendem a ver e agir de acordo com a visão e a ação do próprio Jesus. Esta compreensão vai aumentando à medida que vamos agindo. Quem se fecha em seu “mundinho” e não age, perde até mesmo a pouca compreensão que já tem. É preciso “ser” e “fazer”. Como dizia o ateniense Sócrates: “Ser é fazer.” Ou também como afirmava o filósofo francês Jean Paul Sartre: “Para fazer tem que ser.”
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