Quinta feira da Primeira Semana da Quaresma. Já estamos quase no limiar da metade deste terceiro mês, vivenciando o 72º dia deste ano. Apenas o nono dia desta longa caminhada que faremos, quaresma adentro, tendo como referência a caminhada dos 40 anos do povo hebreu, pelo deserto do Sinai, formando uma nação e recebendo a Torá (Pentateuco), onde estava incluso os Dez Mandamentos, dando forma e conteúdo à sua fé monoteísta: existe apenas um Deus. Como eles, também nós, vamos desbravando as correntes que nos apegam ao comodismo, a indiferença e a falta de fé e, em forma de conversão, nos abrindo à misericórdia e amorosidade de Deus, trilhando assim os caminhos do Reino. Cada dia vivido é uma parte desta história, que vamos construindo, colocando-nos como protagonistas da construção deste Reino no aqui e agora de nossa história.
13 de março. Neste dia vimos acontecer a passagem da nossa querida baiana, Irmã Dulce (1914-1992). Religiosa brasileira, Irmã Dulce dos pobres, como ficou conhecida internacionalmente, por sua dedicação em cuidar dos pobres e pessoas doentes, sendo reconhecida como “o anjo bom da Bahia”, por tantos anos dedicados à causa dos pequenos, pobres e marginalizados. Tendo como nome de batismo Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, se tornou a primeira mulher nascida em solo brasileiro a ser beatificada e canonizada pela Igreja Católica. A canonização ocorreu no dia 13 de outubro de 2019, em cerimônia celebrada pelo Papa Francisco. Vivia sua fé intensamente ao lado dos pobres, repetindo sempre esta frase: “Ame simplesmente, porque nada nem ninguém pode acabar com um amor sem explicação!”
Nesta feliz data de hoje, também celebramos 12 anos do pontificado do Papa Francisco. Um marco importante na história da Igreja de dois mil anos da instituição, já que, com a eleição de Jorge Mario Bergoglio como o 266º Papa da Igreja, temos um pontífice latino-americano (argentino) e também o primeiro jesuíta a ocupar este posto. Um Papa humano, humilde e simples, que conquistou a simpatia da opinião pública mundial, se tornando uma grande liderança internacional. O segundo Papa mais longevo a ocupar o cargo, com mais tempo de mandato da história da Igreja. Segue no seu processo de recuperação da saúde, depois de quase um mês de hospitalização. Seu pontificado eco profético, marcou a caminhada da Igreja, mesmo diante daqueles de “dentro” da própria Igreja, que não o querem no cargo, inclusive rezando pela sua morte. Aff!
Rezei nesta manhã a oração do silêncio, às margens do Araguaia. Meu coração mineiro, não tinha como não ficar entristecido. No dia de hoje, há 49 anos (1976), perdíamos aquela que nos gestara. Aos 41 anos, depois de acolher em seu ventre 13 filhos (10 mulheres e 3 homens), mamãe foi chamada à casa do Pai, para ser coroada pela sua grande missão, no cuidado amoroso de todos nós, seus filhos. Na memória, ainda trago o registro de todos os saberes que ela, mesmo na simplicidade e pouco estudo, soube nos transmitir. Eu jamais seria quem sou, sem ela na minha vida. Seu legado segue comandando a minha história no jeito de ser e pensar. Sempre imaginei Deus dizendo a ela: Vinde, bendita de meu Pai, recebei por herança o Reino que vos foi preparado desde a criação do mundo”. (Mt 25,34)
“Tudo se torna mais fácil quando se tem fé. Não uma fé oscilante, mas uma fé firme naquele que tudo pode e tudo nos concede”. Assim pensava e vivia a freira baiana. Assim também devemos viver todos nós, se quisermos fazer a mesma caminhada com Jesus. Ele que no dia de hoje está exortando os seus discípulos, a terem mais confiança, sobretudo nos momentos de oração, como o texto de Mateus hoje nos faz refletir. Jesus falando direta e abertamente a seus discípulos: “Pedi e vos será dado! Procurai e achareis! Batei e a porta vos será aberta! Pois todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra; e a quem bate, a porta será aberta”. (Mt 7,7-8) A confiança na oração é tudo! Ela é a expressão da nossa relação de amorosidade com Deus, como o único Deus absoluto. É através da oração que nos abrimos para as novas perspectivas. A nossa relação com Deus e com os irmãos deve ser de profunda confiança e intimidade como a de um/a filho/a para com o seu Pai, generoso, amoroso e misericordioso.
O versículo final do texto de hoje nos leva a uma síntese perfeita para a nossa vivência concreta da fé: “Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. Nisto consiste a Lei e os Profetas”. (Mt 7,12) Importante salientar que no tempo de Jesus, a “Lei e os Profetas” indicava todo o Antigo Testamento. Portanto, esta síntese da palavra em formato de “regra de ouro”, nos convida a ter para com os outros a mesma preocupação que temos espontaneamente para com nós mesmos. Não se trata de uma visão simplista ou calculista – dar para receber -, mas de uma compreensão a fundo do que seja o amor do Pai. Fazer o bem sem olhar a quem!. Fazer o bem, independentemente de quem seja o destinatário. Tiago, no seu livro, resumiu esta “regra de ouro” de forma muito simples: “aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado”. (Tg 4,17) Só Deus é o Senhor da vida e do destino humano, só Ele conhece o amanhã. Cabe a nós entregar-nos a Ele e fazer o bem, cumprindo assim a Lei e os Profetas.
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