Quarta feira da Décima Primeira Semana do Tempo Comum. Na data de hoje a Igreja celebra a Festa em memória de São Luiz Gonzaga (1568-1591). Nascido de família nobre, na cidade de Roma, Itália, seu pai era um nobre comandante do exército imperial e sustentava o título de “Marquês de Castilione”. Porém, nada da riqueza, prestígio, luxo e poder da família influenciou aquele jovem menino que se dedicou a seguir os passos de Jesus. Canonizado pelo Papa Bento XIII em 1726, foi também proclamado “Patrono da Juventude”. Depois, foi nomeado protetor dos estudantes. Morreu ainda muito jovem, aos 23 anos.
O meu primeiro contato com este santo homem foi ainda muito cedo, na minha juventude. Através do Padre Henrique Munais, um jesuíta como o foi São Luiz Gonzaga, que nos falava deste santo com muito entusiasmo. Ali, naquele ambiente da Casa da Juventude São Luiz Gonzaga, em minha cidade natal, dei os meus primeiros passos rumo à Vida Religiosa, mesmo sem saber quais seriam os passos subsequentes. Uma das frases ditas por São Luiz Gonzaga marcou profundamente toda a minha trajetória formativa. Dizia ele: “Aquele que realmente deseja amar a Deus, não ama senão tiver um desejo ardente e constante de sofrer por sua causa”.
No campo litúrgico voltamos mais uma vez com o “Sermão da Montanha” do evangelista Mateus. O capitulo é o sexto e nele, Jesus está dando as suas coordenadas para os seus discípulos e discípulas: “Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles”. (Mt 6,1). A justiça não é algo para ser visto como mera teoria escrita num determinado lugar, mas precisa ser praticada nas ações cotidianas de nossa história. Praticar a justiça é deixar ser tomado pelos valores do Evangelho. O amor, a justiça e a compaixão são os pilares básicos da vida para aqueles que fazem sua adesão ao seguimento coerente de Jesus.
A justiça da qual Jesus está se referindo é a justiça do Reino. Justiça esta que jamais poderá ser como aquela praticada pelos escribas e fariseus, movidos pela hipocrisia. Justiça que se pratica entrando pela porta estreita, como Jesus vai dizer mais adiante: “Entrai pela porta estreita”. (Mt 7,13), pois é na porta estreita que se alcança justiça superior. Justiça do Reino que fez o apóstolo Paulo a dizer com suas palavras: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.” (Rom 1117).
Na compreensão de Jesus, o termo justiça se refere às atitudes práticas nas relações que devemos ter com o outro, o meu irmão, a minha irmã. Relação que se completa nas maneiras concretas que vamos desenvolvendo (esmola). Justiça que se manifesta na nossa relação com Deus, através da sintonia com Ele (oração). Estas duas dimensões não tem sentido se não estivermos em paz conosco mesmos (jejum). Ao nos propor uma mudança radical (conversão) das nossas atitudes em relação à justiça, Jesus nos mostra estas três dimensões que precisam ser praticadas de forma livre, coerente e sincera.
A esmola e a caridade são gestos de quem partilha, e devem ser movidos pela compaixão daqueles que buscam a justiça, relativizando o egoísmo da posse só para si. Apesar dos equívocos na compreensão destas duas palavras, dar esmola não é simplesmente dar o que temos sobrando, mas dar aquilo que, de fato, a pessoa esteja necessitando. Do contrário, faremos exatamente aquilo que Jesus está criticando nos escribas e fariseus. O braço estendido em forma de solidariedade na verdadeira acepção desta palavra, que é identificar com o sofrimento do outro e, principalmente, se dispor a ajudar a solucionar ou amenizar o problema.
Somente através de um espirito de oração podemos atingir profundamente esta vivência da Justiça do Reino como quer Jesus. Na oração, nos voltamos para Deus, e o reconhecemos como o Primado do Absoluto. Ao mesmo tempo, nos reconhecemos como criaturas limitadas, frágeis e que necessitamos da presença d’Ele em nossas vidas. Como afirma o Catecismo da Igreja no seu parágrafo 2564: “A oração cristã é uma relação de aliança entre Deus e o homem em Cristo. É ação de Deus e do homem; jorra do Espírito Santo e de nós, toda orientada para o Pai, em união com a vontade humana do Filho de Deus feito homem”. Quem muito ama muito reza. Quem está em sintonia com Deus pela oração, pratica a justiça do Reino na medida certa.
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