Sexta feira da Primeira Semana da Quaresma. Neste período litúrgico cada pessoa é desafiada a passar por um processo, objetivando converter-se à proposta do Reino. Segundo a compreensão bíblica, a conversão inclui uma mudança radical de comportamento, entretanto, tal processo vai além do comportamento, pois se trata de uma mudança em nossa própria natureza humana. Por este motivo que a conversão é um processo e não um acontecimento isolado. Converter significa assumir o compromisso de seguir a Jesus, desenvolvendo as ações de libertação que Ele anunciou e realizou. Converter-nos visando a prática da justiça. Ter a justiça como medida, como bem cantamos com uma das canções de nosso cancioneiro das CEBs: “Conversão, justiça, comunhão e alegria no cristão é missão de cada dia”.

14 de março. Aqui no Brasil se comemora o Dia Nacional dos Animais. Eles também são lembrados no dia 4 de outubro, “Dia Mundial dos Animais”, em homenagem ao nascimento de São Francisco de Assis, considerado o padroeiro dos animais. Comemora-se o Dia Nacional dos Animais com o objetivo de sensibilizar as pessoas sobre os cuidados que devemos ter com os animais, sejam eles domésticos ou selvagens. De acordo com a legislação brasileira, maltratar animais é crime, como está previsto no Artigo 32 da Lei 9.605 quando diz que é considerado crime ambiental “praticar abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos, nativos ou exóticos”. Além de não maltratá-los, convivo com eles harmoniosamente em meu quintal. Hoje, por exemplo, fiz questão de rezar na companhia deles ainda muito cedo, despertado que fui pelos seus cantos diversos.

No Ano C litúrgico, geralmente temos como referência de leitura o Evangelho de Lucas. Entretanto, excepcionalmente, estamos hoje diante de um texto extraído do Evangelho de Mateus. Trata-se de uma continuação do Sermão da Montanha, em que Jesus está ensinando seus discípulos a se comportarem baseados na prática da justiça. A justiça vista como medida certa na perspectiva do Reino. Não de qualquer justiça, muito menos aquela praticada pelos mestres da Lei, escribas e fariseus. O Tom do diálogo de Jesus com o seu discipulado é franco, aberto e direto: “Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus”. (Mt 5,20)

Para os mestres da Lei e fariseus, a Lei estava fundamentada na tradição, que por sua vez tinha como referência principal aquilo que estava escrito na Torá (Pentateuco). Seguiam fielmente a tradição e a Lei, sem fazer qualquer tipo de interpretação, a não ser aquela que favorecia seus interesses pessoais ou de grupos. Diferentemente de Jesus que tinha uma visão mais libertadora da lei, que não deve ser observada simplesmente por ser lei, mas por aquilo que ela realiza de justiça e libertação. Desta forma, cumprir a lei fielmente não significa ter sobre ela uma observância minuciosa, escravizando as pessoas, mas significa buscar nela a inspiração para a prática da justiça e da misericórdia, a fim de que as pessoas tenham vida e relações mais iguais e fraternas.

A justiça mais feroz que existe é a justiça da consciência. Está não nos deixa em paz, enquanto não buscamos o caminho verdadeiro que nos conduz a paz e a harmonia de nosso ser. Por mais que tentemos desviar do caminho, mais sentimos dentro de nós a força da consciência nos chamando para voltar. Os mais sensatos, ouvem a voz da sua consciência, entretanto, aqueles que confiam mais em si e na sua autossuficiência, desprezando a pessoa do outro, será maltratado pela sua própria consciência. Para os que cremos é sempre bom saber que, se a justiça dos homens é tardia e, às vezes, falha, a de Deus jamais falhará e acontecerá no momento oportuno. Estejamos certo disso: “Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo o que está escondido, seja bom, seja mau”. (Ecle 12,14)

Ter a justiça como medida certa é o passo inicial de todo aquele e aquela que faz a sua adesão ao projeto do Reino anunciado por Jesus. Ser caminhante, na procura do Reino, exige de cada um de nós, a prática da justiça, que começa pelos nossos gestos mais simples e pequenos. Como fazemos parte desta grande família humana, cujo Deus Criador nos fez irmanados, temos por missão construir o Reino de Deus no dia a dia, através de nossas ações fraternas, solidárias, comprometidas com a prática da justiça. Viver o amor na sua totalidade e profundidade pressupõe a prática da justiça. Não a justiça dos fariseus de hoje, mas aquela que promove a vida plena para todos e todas, sobretudo os mais vulneráveis. Nada de serenidade, comodismo e indiferença. Neste sentido, serve-nos de parâmetro uma das frases atribuídas ao pastor batista estadunidense Martin Luther King (1929-1968) “A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar”.