Quinta feira da Décima Terceira Semana do Tempo Comum. Festa de Santa Maria Goretti. O dom da vida é dado a todos e todas, já que fomos criados por Deus com esta dádiva. Ao nos criar, Deus nos concedeu o seu sopro divino, nos fazendo à sua imagem e semelhança (Gn 1,26-27). Portanto, trazemos dentro de nós o selo transcendente do Criador. Não foi através de um tratado científico que Deus nos criou, mas um lindo poema que contempla o universo inteiro como criatura de Deus, sendo que o ponto mais alto da criação é a humanidade: homem e mulher, ambos criados à imagem e semelhança de Deus. Todos somos iguais, sem distinção. Criou-nos para alcançarmos a plenitude da vida com tudo àquilo que se faz necessário para isto.
Santa Maria Goretti (1889-1902), está entre uma destas criaturas que soube dar o seu sim a Deus, cumprindo a missão a que fora chamada. Por causa deste seu sim, firme e decido, foi martirizada ainda adolescente aos 12 anos. Viveu o tempo suficiente para conhecer o caminho que leva ao Projeto do Reino revelado por Jesus, dando a sua vida por esta causa maior. Foi beatificada pelo Papa Pio XII, no ano de 1947 e, três anos mais tarde, foi também santificada pelo 260º pontífice da História da Igreja Católica. Uma das frases ditas por aquela menina adolescente ressoa ainda hoje nos nossos ouvidos: “Todos nós merecemos, mas temos que fazer por merecer”.
Todos merecemos viver, e viver com dignidade! Foi nesta intenção a que fomos criados. Deus nos fez merecedores desta dádiva. A grande e maior revelação que Jesus traz em si é aquela que o evangelista São João captou em um de seus escritos: “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância.” (Jo 10,10) Deus dá a vida plena e todas as condições necessárias (físicas, materiais, sociais) para que esta vida alcance a sua plenitude. Na lógica de Deus, tudo é de todos e deve servir a todos. Se assim não acontece é porque alguém violou a regra maior e apropriou para si (acúmulo, riqueza, poder) por meio do pecado, instaurando assim a divisão, a desigualdade e a concentração. Aquilo que ao longo dos anos a Doutrina Social da Igreja (DSI) denominou de “Pecado Social”. Os pecados sociais se referem a comportamentos que se contrapõem à ética do Bem Viver.
Ética que não fazia parte do dicionário das autoridades judaicas religiosas/políticas de Jerusalém no tempo de Jesus. As pessoas pecadoras, pobres, doentes, “aleijados”, mulheres, não tinham o direito de viver esta mesma dignidade como filhos e filhas de Deus. Além de excluí-las do convívio da sociedade de modo geral, excluíam-nas também da participação nas sinagogas. Na concepção da época, as pessoas doentes eram pecadoras e, portanto, amaldiçoadas por Deus, razão pela qual, carregavam sobre os seus corpos sofridos, as marcas deste pecado. É neste contexto que aparece para nós no dia de hoje a participação do Galileu. Jesus que não fica indiferente nem omisso diante daquele contexto de exploração.
No texto de hoje, Mateus nos relata que Jesus chega à sua cidade (Cafarnaum) e ali ele realiza mais um de seus sinais (milagres): “Apresentaram-lhe, então, um paralítico deitado numa cama”. (Mt 9,2). Jesus e seus sinais de inclusão. Primeiramente, Ele perdoa-lhe os seus pecados, pois na compreensão daquela sociedade, eram estes pecados que o fazia ser um paralítico. Em seguida, faz acontecer o sinal maior da inclusão, permitindo ficar curado fisicamente para que assim pudesse viver a sua dignidade. Jesus Cristo libertador, fazendo jus à missão a que veio realizar. Para libertar aquele pobre homem, Ele vai direto à raiz da questão: o “pecado invisível” que causa os “males externos e visíveis”.
Diante desta atitude do Nazareno, as autoridades ficam furiosas, começando pelos doutores da Lei que somente se preocupavam com as “teorias religiosas”, e não em transformar aquela realidade social em que vivia aquele homem. Jesus age por completo: cura por dentro e por fora, permitindo aquele homem retomar a sua vida e a capacidade de caminhar com as suas próprias pernas. Esta é a lição maior que o texto de hoje quer nos transmitir. A inclusão leva à dignidade. Enquanto ficarmos rezando, louvando, adorando, nos nossos intermináveis cultos, num sacramentalismo “papa hóstia”, desfocados da realidade de sofrimento do povo pobre, estaremos reproduzindo a mesma prática das autoridades do tempo de Jesus, que não estavam nem aí para aqueles que mais sofriam e trataram de perseguir Jesus, por causa de sua prática libertadora. Situação que Santo Óscar Romeiro traduziu assim em uma fala sua: “Em um país de injustiças, se a Igreja não é perseguida, é porque é conivente com a injustiça”.
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