Quarta feira da vigésima sexta semana do tempo comum.
Setembro caminha para o seu ocaso. O terceiro terço do ano está findando, de novas possibilidades que se avizinham na perspectiva de uma vida nova. Neste dia 28 celebramos uma data importantíssima para a nossa história humana e animal: Dia Mundial de Luta Contra a Raiva. Nesta data falecia o cientista francês Louis Pasteur (1822-1895) Foi ele que, com a ajuda da Organização Mundial da Saúde (OMS), desenvolveu a primeira vacina eficaz contra a raiva. Uma doença fatal e altamente infecciosa para as pessoas humanas e também para os animais. Se bem que ultimamente, algumas pessoas tem se especializado em contagiar e transmitir outro tipo de raiva/ódio que só se combate com a vacina do amor.
Minha quarta feira começou bem cedo. Ainda na penumbra da noite, resolvi rezar as margens do nosso Araguaia. O sol ainda não tinha acordado o dia e lá estava eu, dialogando com o meu Deus, numa atitude filial. O barulho das águas serpenteando as pedras, fazendo sintonia com o canto dos pássaros, sob as mangueiras do cais, degustando alegremente as doces mangas já maduras. O dia sendo trazido pelas mãos do irmão sol, cumprindo assim, a sua missão de acordar o dia e nos fazer viver mais uma jornada como dádiva do Criador. A cada manhã sentimos o renascer de Deus em nós, uma vez que Ele acredita que podemos ser novas criaturas, irmanadas ao seu sonho de amor por nós com muita ternura.
A cada manhã o sonho de Deus se faz novidade em nós, mesmo que assim não nos sintamos. A vida é o dom maior que o Criador nos possibilitou. Estar vivo a cada manhã significa que Ele aposta todas as suas fichas em nós, no sentido de que podemos e devemos ser os defensores da vida para todos os habitantes desta Casa Comum. Casa que é de todos os seres viventes do Planeta indistintamente. Como a cosmovisão dos povos indígenas nos ensina, cada um dos seres que aqui estão, tem a sua razão de ser para o todo. Completamos-nos uns aos outros nesta irmandade fraternal. Como diz o nosso Papa Francisco na Laudato Si: “abusar da casa comum é um pecado grave que danifica, que faz mal e adoece” (cf. LS 8; 66).
Rezei contemplando os textos da liturgia desta quarta feira, que nos coloca mais uma vez em sintonia com a grande viagem de Jesus à Jerusalém. Ele está desenvolvendo o seu caminho rumo ao confronto que ocorrerá ali, convicto que lá a sua vida corria risco. Os seus, ainda muito desconfiados, caminham titubeantes com Ele. Alguns até querem segui-lo mais de perto, mas a força das circunstâncias adversas os impedem de fazer este seguimento até as últimas consequências. Jesus os adverte que nada e ninguém poderá impedir o seu seguidor de caminhar com Ele. A identidade do discipulado deve ser a de quem entrega a sua vida pelas mesmas causas d’Ele. Ser e estar com Ele é algo que se faz no dia a dia, sem olhar para trás sem “negar fogo”.
A identidade do discipulado de Jesus se faz na disponibilidade contínua de dar a vida e na capacidade de cada um dos seus seguidores e seguidoras de renunciar a seguranças e, entrando na dinâmica do caminho, não voltar para trás, por motivo nenhum: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus”. (Lc 9,62) Seguir em frente sendo instrumentos vivos nas mãos de Deus para o que der e vier: “Eis que faço novas todas as coisas”. (Apoc 21,5). Seguir como parte integrante do discipulado de Jesus, deixando que Deus possa realizar em nós e através de nós o seu projeto de amor. Tudo e todos pelo Reino.
“As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”. (Lc 9,58). Nossa confiança deve estar em Deus. É Ele que nos conduz pela mão. Aquele e aquela que quer ser seu seguidor, terá que abandonar a ideia de ter confortos, comodidades, privilégios, benesses. Terá que confiar plenamente em Deus e se entregar confiante de que Ele será o nosso guia, pois: “todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo.” (Lc 14,33) Seguir a Jesus e continuar o seu projeto como discípulo/discípula é viver um clima novo na relação com as pessoas, com as coisas materiais e consigo mesmo. Trata-se de assumir com liberdade e fidelidade a condição humana, sem superficialismo, conveniência ou romantismo. O discípulo de Jesus deve ser realista, a fim de evitar ilusões e covardias vergonhosas. Quem entra na chuva é para se molhar. Que venha Jerusalém! Quem venham as eleições!
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