Categories: Reflexões Bíblicas

A identidade divina de Jesus (Chico Machado)

Quinta feira da Quinta Semana da Quaresma. Estamos dentro do 37º dia de nossa caminhada quaresmal. Três dias apenas nos separaram do início de mais uma Semana Santa, em que celebraremos a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. O Domingo de Ramos nos introduz neste momento tão especial para a fé cristã. Um caminho que nos preparam para o encontro com o Senhor Ressuscitado na pessoa do Filho muito amado do Pai. A esperança vencendo o medo e a morte! Novos caminhos que se abrem e nos colocam no plano da divindade com Deus. Ainda bem que São Paulo nos alertou: “se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia e também é vazia a fé que vocês têm”. (1Cor 15,14) Este é o núcleo primordial da fé cristã.

Estamos chegando ao fim de mais uma Quaresma. Nela fomos desafiados a refletir sobre a “Amizade Social”. A fonte inspiradora para a nossa compreensão acerca da amizade, vem da Bíblia. Ela nos diz que devemos ser encorajados a fazer amigos e também a cuidar deles, como está escrito no livro de Provérbios: “Não abandone o seu amigo, nem o amigo do seu pai”. (Prov 27,10). Todos sabemos que a boa amizade pode e deve unir as pessoas, criando laços mais fortes de fraternidade, fundamentados na ternura de quem muito ama e se permitir amar. Como diria o escritor francês Honoré de Balzac (1799-1850): “O amor é a poesia dos sentidos. Ou é sublime, ou não existe. Quando existe, existe para sempre e vai crescendo dia a dia”.

A amizade é fundamental para a vida humana. Nenhum de nós é capaz de viver sem ter um amigo, perto ou longe de si. Somos obra do Criador! Deus criou o homem e a mulher como seres sociáveis, ou seja, para termos relacionamentos saudáveis com as outras pessoas. Por este motivo, Ele colocou pessoas especiais no nosso caminho, amigos e amigas que melhoram a nossa vida e lutam ao nosso lado quando é necessário for, já que a amizade é uma das formas mais concretas de expressar o nosso amor: “Um amigo ama em qualquer tempo e circunstâncias, e o irmão é para o dia do perigo”. (Prov 17,17) Quando designou o propósito da amizade, para a caminhada humana, Deus quis que o ser humano fosse mais feliz, sendo ajudado nos momentos mais difíceis da vida, como descreveu-nos o Livro do Eclesiastes: “Mais vale estar a dois do que estar sozinho, porque dois tirarão maior proveito do seu trabalho. De fato, se um cai, poderá ser levantado pelo companheiro. Azar, porém, de quem está sozinho: se cair, não terá ninguém para o levantar”. (Ecles 4,9-10)

Como vemos, quando a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), nos propõe que reflitamos sobre a importância da “Amizade Social”, ela quer nos colocar em sintonia com o projeto criador de Deus afinal, “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). O que seria de mim sem os meus amigos e amigas que, longe ou perto, foram moldando a minha personalidade, o meu caráter e meu jeito de ser e estar neste mundo? Se bem que, Jesus é o melhor dos amigos. Ele é o exemplo perfeito de amizade revelado pelos Evangelhos, porque deu a Sua vida para reconciliar com Deus todos aqueles que acreditam n’Ele. Todos aqueles e aquelas que aceitam Jesus como seu amigo, tornam-se também amigos de Deus: “Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos. Vocês são meus amigos, se fizerem o que eu vos mando. Eu já não chamo vocês de servos, pois o servo não sabe o que seu patrão faz; eu chamo vocês de amigos, porque eu comuniquei a vocês tudo o que ouvi de meu Pai. (Jo 15,13-15) O sinal concreto da amizade é a nossa capacidade de amar sem limites.

No texto da liturgia desta quinta feira, estamos refletindo sobre a identidade divina de Jesus. Algo que as autoridades judaicas jamais aceitaram e, por este motivo procuram eliminar Jesus, principalmente depois que este lhes diz: “se alguém guardar a minha palavra, jamais verá a morte”. (Jo 8,51) Ele se coloca no mesmo plano divino do Pai, mas não se iguala a Deus, pois Ele tem a consciência de ser o Filho enviado do Pai. Jesus que afirma a sua identidade divina recorrendo a uma citação que está contida no Livro do Êxodo, de uma das conversas de Moisés como o Senhor: “Eu sou aquele que sou”. (Ex 3,14) Ali, Deus se apresenta como aquele que está presente: Ele é o mesmo Deus dos antepassados: aquele Deus que prometeu formar um povo, agora vai cumprir a promessa. Ele quer ser invocado sempre com este nome. Deus manifesta a sua identidade dentro de um processo de libertação.

Jesus é o nosso amigo enviado por Deus. Ele é o Filho que veio fazer morada definitiva em nossa história humana. Quem acredita n’Ele e o segue, praticando a sua Palavra, experimentará a morte física/biológica humana, mas terá a certeza da Ressurreição com Ele. Esta é a certeza que Jesus quis passar aos seus neste texto do Evangelho de João. Diante desta revelação escatológica de Jesus, as autoridades ficam furiosas e tentam apedrejar Jesus, não aceitando que aquele periférico de Nazaré, se colocasse no mesmo pé de igualdade com os patriarcas e profetas antigos e também com o próprio Deus, se passando como se fosse Ele Deus. Nada que incomoda Jesus, nem lhe mete medo. O que importa é que Ele vai muito além, e atribui a si mesmo o título do Deus do êxodo: “Eu Sou!” O Deus vivo encarnado, renovando a face da terra. O amigo Jesus nos permite fazer parte da relação dos amigos de Deus, através da Ressurreição.

Luiz Cassio

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