Quinta feira da Décima Terceira Semana do Tempo Comum. A Lua está na fase Minguante, ou seja, apenas 4% visível e decrescendo. Amanhã, mais precisamente às 19h59, entraremos na Lua Nova. Segundo os entendidos e estudiosos da Lua, como somos regidos por ela, nesta sua fase, o corpo pede menos esforço, menos atividades, menos estresse e tensão. A mente também pede menos pensar e mais sentir. Certo é que, enquanto ela de faz presente no céu, e estamos no inverno, por aqui, as temperaturas noturnas são mais agradáveis para o sono profundo. Não quer dizer a mesma coisa durante o dia, já que o “Senhor Sol”, reina absoluto, fazendo o gosto dos apreciadores das nossas mais belas praias do Araguaia.
Rezei em sintonia com Pedro nesta manhã mais fresca. Depois das intensas visitas do final de semana, por ocasião das celebrações de posse do novo bispo, Dom Lucio Nicoletto, o ambiente naquele “Campo Santo”, a beira do Araguaia, voltou à paz inquieta, de que tanto nosso bispo insistia conosco, declamado em prosa e verso num de seus poemas: “A Paz que nos sacode com a urgência do Reino. A Paz que nos invade, como vento do Espírito, a rotina e o medo, o sossego das praias e a oração de refúgio”. Rezei meditando palavra por palavra deste poema, lembrando-me também de outra frase deste pastor, que surtiu muito enfeito em minha caminhada de jovem presbítero, dando os primeiros passos na prelazia de São Félix: “Insistir, persistir, resistir e nunca desistir!”
Nesta quinta feira, estamos meditando mais um texto do Evangelho de Mateus. Como podemos observar Jesus, atravessando para outra margem e de volta à sua cidade, está curando um paralítico em Cafarnaum. Aliás, este episódio é relatado nos três Evangelhos Sinóticos Mateus 9,1-8, Marcos 2,1-12 e Lucas 5,17-26. Neste sinal (milagre) realizado por Jesus, Ele diz uma de suas mais famosas frases e que serve como chave de leitura para a nossa melhor interpretação (hermenêutica): “Levanta-te e anda!” Importante frisar que e os três evangelistas concordam que o homem era paralítico e que os “doutores da Lei” ficaram furiosos com Jesus por ele ter afirmado ser capaz de perdoar pecados. Perdoar pecados e ainda curar, ai já é demais!
“Humano assim como Jesus só Deus mesmo”. Esta é uma das grandes contribuições exegéticas de nosso expoente maior da Teologia da Libertação, o teólogo, escritor, filósofo, defensor dos direitos dos pobres e excluídos, Leonardo Boff. A humanidade de Jesus, exalando em sua divindade. Humano e divino se fundindo na história, mostrando-nos a face de um Deus pleno de amorosidade. A presença de Deus em sua vida, o fazendo ser um grande humanista, defendendo aquele pobre homem, que trazia em si uma deficiência física (“paralítico”). Tudo porque, para Jesus, a pessoa humana está acima de qualquer Lei, principalmente num contexto em que, segundo os antigos, interpretes ardorosos da Lei, aquele homem era um pecador e, consequentemente um doente, já que na concepção da tradição judaica, a doença era causada pelo pecado.
Diante da intransigência dos religiosos da Palestina no tempo de Jesus e, para libertar integralmente aquele homem, Jesus vai direto à raiz: o “pecado invisível” que causa os males externos e visíveis. Depois deste ato concreto libertador de Jesus, começa a oposição à sua atividade messiânica, uma vez que, os doutores da Lei só se preocupavam com as teorias religiosas, e não em transformar a situação das pessoas doentes, pobres e marginalizadas. Desta forma, a ação de Jesus é completa. Falar e fazer como sintonia perfeita de ação. Curar por dentro e por fora, fazendo aquele homem inclusive, reconquistar a sua capacidade de caminhar por si mesmo.
“Coragem, filho, os teus pecados estão perdoados!” (Mt 9,2) Jesus tem o poder para perdoar os pecados. O perdão dado aquele homem, somente só foi possível, graças a sua fé. Jesus tem a sensibilidade suficiente para perceber o grau de fé daquela gente. Assim, o perdão do pecado, realizado na cura do paralítico, significa o poder do Filho de Deus na terra, inaugurando uma nova criatura, um novo povo, novos céus e nova terra. Aquilo que o profeta Isaías já prefigurara em seu tempo: “Eu vou criar um novo céu e uma nova terra. As coisas antigas nunca mais serão lembradas, nunca mais voltarão ao pensamento”. (Is 65,17) Será um mundo de paz, harmonia e alegria, nos incentivando a lutar por este mundo novo, até que o projeto dos homens coincida com o projeto de Deus, ou seja, até eliminar a morte prematura e fazer que a vida possa ser vivida em sua plenitude, sem que a doença seja vista apenas como consequência do pecado pessoal, mas em decorrência das estruturas de exploração e morte, em conivência com a religião.
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