Categories: Reflexões Bíblicas

A humanidade de Deus (Chico Machado)

Quarta feira da Décima Sexta Semana do Tempo Comum. No dia de hoje a Igreja celebra a memória de São Joaquim e Sant’Ana, pais de Maria de Nazaré e avós de Jesus. Os nomes deles em hebraico Ana, significa “graça” e Joaquim quer dizer “Deus prepara ou fortalece”. Em razão da influência do catolicismo, na data de 26 de julho comemoramos também aqui no Brasil o “Dia dos Avós”. Tal lembrança tem como objetivo valorizar e respeitar a sabedoria e o amor transmitidos pelos avós aos seus netos, fortalecendo assim os laços familiares e reconhecendo a importância dessa geração na formação das novas gerações.

Ana e Joaquim, não se encontra nenhuma referência deste casal na Bíblia. Sabe-se que moravam em Jerusalém. As poucas informações existentes, foram tiradas dos textos apócrifos. Este é um termo que deriva do grego “apokruphoi”, que significa “secreto”, “oculto”, “escondido”. Este termo foi atribuído pelos Católicos aos livros que não foram reconhecidos pelas autoridades religiosas do Cristianismo e do Judaísmo ao longo dos séculos. Nestes livros estão registrados alguns escritos sobre os primeiros pastores (líderes religiosos) e também das primeiras comunidades cristãs. Para os católicos de rito romano, os Apócrifos designam os livros que não fazem parte do Cânon Hebraico, que não são inspirados, porém, foram anexados à Septuaginta (Bíblia dos Setenta) e à Vulgata Latina, de São Jerónimo.

Os Santos que celebramos hoje são lembrados principalmente por terem educado Maria de Nazaré no caminho da fé, alimentando seu amor pelo Criador, preparando-a para sua grande e nobre missão de ser a Mãe do Salvador. Tal formação, influenciou profundamente na educação de Jesus. Desde o seu sim decidido e corajoso, Maria assume a responsabilidade de gerar em seu ventre o Verbo Divino, graças à formação materna, advinda do berço, que a fez ser quem ela era. Ana e Joaquim, padroeiros dos avós, foram pessoas de profunda fé e confiança em Deus. Segundo a tradição apócrifa, o casal já estava com idade avançada e ainda não tinham filhos, numa sociedade judaica em que a esterilidade era sinônimo de maldição divina. Como eles viviam uma vida de fé e de temor a Deus foram, então, agraciados com o nascimento de Maria.

A salvação vindo da periferia de Nazaré. Maria, aquela que acreditou mesmo sem ter a certeza do que viria acontecer na sua vida. Confiou a se entregou nas mãos de Deus. O seu sim, mais do que uma palavra dita, foi uma entrega de vida. Confiança total nos desígnios de Deus. Acreditou e confiou sem ver. Enxergou com os olhos da fé e do coração. A sua fé falou mais alto, fazendo dela uma serva fiel do Projeto de Deus. Com Maria, Deus abriu as portas da humanidade para fazer acontecer dentro da história a encarnação do Verbo. Deus vem visitar-nos e fazer morada definitiva em nossas vidas. O mistério da divindade de Deus se fazendo humano e nos alçando à condição divina, que podemos ser, na pessoa de Jesus, o Filho de Maria de Nazaré.

“Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem”. (Mt 13,16) Esta é mais uma das afirmativas feitas por Jesus, que o texto da liturgia de hoje nos traz. No meio das parábolas do Reino, Jesus enaltece aqueles e aquelas que veem e ouvem a sua mensagem com o coração aberto e a vontade de fazer acontecer a justiça do Reino. A fé amadurecida adulta não necessita de ver para crer. O coração que ama e se entrega é capaz de ver nas entrelinhas do impossível, como numa das falas de Alice no País das Maravilhas: “A única forma de chegar ao impossível é acreditar que é possível”. Para Deus todas as coisas são possíveis (Mt 19,26), depende muito da fé e do desejo interior daqueles que estão diante destas coisas.

Os mistérios do Reino estão abertos a todos, mas somente serão conhecidos por aqueles e aquelas que se abrem para acolher a Jesus como o Messias, enviado por Deus. O desafio que nos é colocado é aceitar a Jesus como o Messias, mesmo nos possíveis fracassos da vida. Ver e ouvir a manifestação de Deus nos sinais da história, nos irmãos e irmãs que sofrem, vendo neles a presença viva de Deus. Assim, o Reino de Deus vai acontecendo entre nós como bem-aventurança, dos que acreditam mesmo sem ter visto o final da história como Joaquim, Ana e Maria. Os que não seguem a Jesus ficam “por fora”, e nada podem compreender. “Muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram”. (Mt 13,17)

Luiz Cassio

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