Segundo Domingo do Tempo Comum. Janeiro segue o seu percurso, nos mostrando que o nosso itinerário não pode parar. A hora é agora e não podemos deixar para depois! Viver intensamente o momento presente, com a compreensão clara e objetiva de que cada dia é único e ele não se repete. Ontem não é hoje e o amanhã prefigura um novo dia. A chance nos é dada para amar mais, perdoar mais, cuidar mais de nós e dos outros, com quem cruzamos na estrada da vida. Aprender a tratar as pessoas que queremos bem, com plena generosidade e amorosidade, como se fosse à última vez que estivéssemos lado a lado com elas. Demonstre todo o seu amor hoje, uma vez que a vida é feita de pequenos instantes e num instante, pode ser que não seremos nada.
Já de volta ao meu cantinho que amo, descansado e com as forças renovadas, rezei nesta manhã na margem de cá do Araguaia, tendo todo cenário à minha frente o sol brotando de dentro da terra na Ilha do Bananal. Costumo dizer que sou um ser privilegiado, pois, morando no Mato Grosso, vejo o sol nascer todos os dias no Tocantins. Desta vez, o astro rei venceu a luta contra as nuvens de chuva, fazendo brilhar os seus raios refletidos no mar de água do rio transbordante. Como dizem os pescadores por aqui, este será um ano de fartura de peixe, já que ao transbordar, as aguas chegam aos lagos, deixando ali os peixes pequenos, e trazendo os grandes que foram deixados ali ano passado. É assim que acontece a dinâmica do Araguaia.
“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Assim cantou e nos encantou o compositor Geraldo Vandré. “Minha hora ainda não chegou”. (Jo 2,4) Esta foi a resposta dada por Jesus à sua Mãe, no contexto de um dos textos mais conhecidos do Novo Testamento: “As Bodas de Caná”. Trata-se de um texto, cuja profundidade e densidade teológica nos faz refletir sobre a relação de amorosidade de Deus para conosco, e a nossa com Ele. A imagem apresentada é de um casamento, que exprime de forma privilegiada a relação de amor que Deus (o marido) estabeleceu com o seu Povo (a esposa). O centro de toda esta relação é a revelação do amor de Deus. As bodas são, na Bíblia, símbolo da Aliança entre Deus – o esposo – e o povo de Israel – a esposa.
Segundo o evangelista São João, o “Jesus histórico” está concluindo a primeira semana de sua missão messiânica. Ele está com os seus discípulos e sua Mãe, em Caná da Galileia, uma pequena vila, com cerca de aproximadamente 10 km de Nazaré, na Terra Santa. Este vilarejo é mencionado diversas vezes pelo Evangelho de João como o local onde ocorreu o primeiro “sinal” (milagre) de Jesus ao transformar água em vinho durante um casamento. Foi nesta pequena vila que, segundo João, Jesus curou também o filho de um pagão, funcionário do rei que estava doente. (cf. Jo 4,46-54) é importante salientar que a missão evangelizadora de Jesus se expande, distanciando-se cada vez mais do centro do poder e das instituições político-religiosas, consideradas salvadoras.
Entra em cena toda a sensibilidade feminina. Como as mulheres são bem mais sensíveis, acolhedoras e cuidadosas que qualquer um dos homens, Maria assume a dianteira e, na intimidade com o Filho, vai dizê-lo: “Eles não têm mais vinho”. (Jo 2,3) Tal situação, segundo o contexto da época, era considerada um vexame total para os donos da festa. Conhecendo o Filho, e sabendo, de antemão, do seu compromisso com os pequenos, a Mãe antecipa e vai dizer aos serventes da festa: “Fazei o que Ele vos disser”. (Jo 2,5) Confiança total naquele que saiu de dentro do seu ventre materno. Mãe é mãe, aqui e em qualquer lugar!
- Segundo a literatura joanina, Jesus realiza o seu primeiro sinal. No Novo Testamento, algumas palavras gregas “semeion” ou “mopheth”, significam “milagre”. Portanto, segundo João, a primeira semana de Jesus no meio dos seus, termina com esta festa de casamento em Caná. Lembrando que o casamento é o símbolo da união de Deus com a humanidade, realizada de maneira definitiva na pessoa de Jesus, Deus-e-Homem. Sem a presença dele no meio de nós, a humanidade inteira viveria uma festa de casamento sem vinho. A participação de Maria é decisiva, pois, como Mãe e discípula, ela alivia a situação constrangedora, simbolizando a comunidade que nasce da fé em Jesus. As últimas palavras ditas por ela neste evangelho, são um convite a todos os que creem e fazem a sua adesão pelo seguimento de Jesus: “Façam o que Jesus mandar”. É confiar e se entregar, sabendo que dele receberemos o Espírito, uma vez que, como vinho generoso, Jesus nos fará romper com tudo aquilo que nos aprisionam e com a mesquinhez da nossa vã sabedoria e autossuficiência. Nada como um bom vinho. Salute!
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