Quinta feira da Quarta Semana do Tempo Comum. Vida que segue, nos adequando aos desafios que a realidade nos apresenta. A chuva deu uma trégua por aqui. Este já é o segundo dia em que o sol reina absoluto, distribuindo para todos o seu calor. “Tempo para secar as roupas”, disse-me uma das senhoras aqui da comunidade. Tempo para realizarmos as nossas ações, visando sempre o bem maior de todos que estamos juntos nesta tarefa. Acreditar em nós mesmos é o principio básico que deve nortear as nossas ações. O mais importante é cada um acreditar em si mesmo e nas suas potencialidades, pois sem esta confiança, as nossas energias e a inteligência peculiar, as nossas ações não alcançarão o êxito desejado.

Na caminhada de Igreja que somos e queremos estar na estrada com Jesus, no dia de hoje celebramos uma destas pessoas que fizeram o itinerário de caminhar seguindo os passos de Jesus de Nazaré. São os santos e as santas que, volta e meia, a liturgia nos oportuniza celebrar. Pessoas que estão guardadas na memória da Igreja. Histórias de mestres e mestras da vida cristã de todos os tempos que, como faróis luminosos, orientam o nosso caminhar nos tempos de agora. Hoje, por exemplo, a liturgia católica na sua cor vermelha, celebra a Memória viva de São Paulo Miki e seus companheiros mártires.

Paulo Miki (1556-1597) foi o primeiro religioso católico japonês. Anunciou com coragem o Evangelho. Preso e torturado foi posteriormente crucificado em Nagasaki, junto com outros 25 companheiros. Morreu convicto da sua fidelidade na fé no seguimento de Jesus, o Filho de Deus. Antes de morrer, ainda reiterou que só em Jesus há salvação e convidou todos a seguir a Cristo, encontrando forças para manter a alegria de perdoar seus algozes inimigos. São Paulo Míki e companheiros mártires são padroeiros do Japão, juntamente com São Francisco Xavier. Suas últimas palavras, diante do martírio, são fortes: “Estes homens vieram das Filipinas para o Japão, mas eu não vim de outro país; sou um japonês genuíno. A única razão para eu ser morto é ter ensinado a doutrina de Cristo”.

Ensinar o que Jesus nos ensina a cada dia. Esta é a missão de todos nós, que fizemos a adesão pelo seu seguimento. Não ensinar a nós mesmos e nem as nossas convicções pessoas religiosas, mas o ensinamento genuíno de Jesus que requer gratuidade na missão de evangelizar, como fica evidente no texto do Evangelho de Marcos que hoje estamos refletindo, e que serve da base também para a nossa caminhada de fé. Entre a ostentação e a austeridade, Jesus nos envia para dar continuidade à sua missão na gratuidade, como fizera com os doze apóstolos. É o que podemos intuir numa das primeiras aparições de Jesus Ressuscitado, que Marcos assim registra no final de seu Evangelho: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova do Evangelho a todas as criaturas”. (Mc 16,15)

Fica mais do que manifesta que a missão de Jesus não termina com a sua morte. Pelo contrário, ela vai ser continuada através do discipulado e de todos aqueles e aquelas que optam por seguir os seus passos. Com eles e conosco, está a presença viva do Ressuscitado que caminha lado a lado conosco: “Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Aqui não se trata de uma mágica, nem ilusão de um devocionismo qualquer, mas é a presença viva de alguém conosco, que precisamos conhecer, amar e seguir com o nosso testemunho, e sermos capazes de construir o Reino dentro da história, conforme os desígnios de Deus.

“Convertei-vos e crede no Evangelho, pois o reino de Deus está chegando!” (Mc 1,15) Este é um dos primeiros chamados de Jesus para os seus, que aparece também no início do Evangelho de Marcos. Uma das primeiras tarefas dos apóstolos consistia em proclamar, aos quatro ventos, o anúncio da chegada do Reino, devolvendo assim a esperança para o povo. Proclamar a Boa Nova não apenas com palavras, mas com ações concretas de libertação. Como Jesus já o fizera, com os gestos de curar doentes, ressuscitar os mortos, purificar os leprosos e expulsar os demônios, provando assim a chegada do Reino na história.

“Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas”. (Mc 6,8-9) A missão exige gratuidade e austeridade. Ela não combina com ostentação. Quem recebeu de graça, deve dar de graça, para fazer frente à tentação de acumular e querer impor-se pelo poder e pela riqueza. Nada de “alfaias”, “cazulas” e “rendas da vovó” e sedas, como vemos acontecer no desfile de moda dos egos inflados e da vaidade de alguns celebrantes nos dias atuais. Converter-se é mudar radicalmente de vida. Somos enviados para dar continuidade à missão de Jesus: pedir mudança radical da orientação de vida (conversão), desalienar as pessoas (libertá-las dos demônios), restaurar a vida humana (curas). Devemos estar livres, ter bom senso e estarmos conscientes de que a missão vai provocar choque com os que não querem as mudanças/transformações urgentes e necessárias.