Terça feira da vigésima sexta semana do
tempo comum.
Estamos por três dias para entregar setembro à outubro. O mês da Bíblia se despede, dando lugar ao mês missionário. Não que a Bíblia seja colocada de lado. De jeito nenhum! O mês dedicado à Palavra de Deus dá lugar ao mês que constitui a nossa essência como cristãos. Pelo Sacramento do Batismo tornamo-nos todos e todas, missionários e missionárias das causas de Jesus. Uma responsabilidade enorme, pois somos os continuadores das mesmas ações de Jesus nos dias de hoje. Como bem disse o Padre Zezinho em uma de suas canções: “No peito eu levo uma cruz. No meu coração, o que disse Jesus”. Que responsa! Um olho na Bíblia e outro na realidade, pisando o chão da estrada.
27 de setembro é o dia dele: São Vicente de Paulo (1581-1660). Um homem de Deus e dos pobres. Da França para o universo cristão católico dos pobres. Fez a sua grande viagem rumo ao submundo dos empobrecidos, trilhando entre eles a mesma trajetória feita por Jesus a caminho da Galileia dos pagãos, pobres, doentes, marginalizados excluídos. Este seu compromisso com os empobrecidos custou-lhe a canonização feita pelo Papa Leão XIII, em 1885, proclamando-o padroeiro de todas as associações católicas de caridade mundo afora. Um homem simples que soube viver na pobreza, sendo amigo dos mais pobres: “Os que desejam realmente seguir as máximas de Cristo, devem ter em grande conta a simplicidade”, costumava dizer para os seus.
Estamos a caminho e desenvolvendo a nossa grande viagem. Desde o momento que pisamos os nossos pés neste chão, nos colocamos apostos para esta viagem que fazemos vida afora. O primeiro desafio a que somos submetidos é o de sairmos de dentro de nós mesmos para contemplar a face dos irmãos e irmãs que conosco vão fazendo também esta grande caminhada. Sair do nosso mundo interior para estar frente a frente com os desafios da convivência desta grande família a qual fazemos parte. Humanizamos ou desumanizamos neste processo, na medida em que vamos adequando ou não o nosso existir com os valores propostos pelo Evangelho. O Evangelho é a nossa fonte de luz e inspiração maior. Como diria Santo Agostinho: ”Se você crê somente naquilo que gosta no evangelho e rejeita o que não gosta, não é no evangelho que você crê, mas, sim, em si mesmo”.
A liturgia desta terça feira está nos preparando para a grande viagem que Jesus está disposto a fazer: “Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém”. (Lc 9,51) Antes de entrar no detalhe desta grande viagem, é bom que saibamos que o evangelista Lucas, ao escrever o seu evangelho tem como propósito, descrever o caminho de Jesus como um caminho que se realiza na história humana. Traz para dentro desta história o projeto de salvação que Deus tinha revelado, conforme a promessa feita bem antes, lá no Antigo Testamento. Uma viagem rumo ao centro da história humana, onde o caminho percorrido por Jesus, da início ao processo de libertação na história, e por isso realiza uma nova história: a história dos pobres e oprimidos que são libertos para usufruírem a vida plena dentro de novas relações entre as pessoas.
Como toda viagem tem os seus percalços, esta de Jesus encontrou alguns obstáculos. Um deles foi a rejeição feita pelos samaritanos à pessoa de Jesus: “Os samaritanos não o receberam, pois Jesus dava a impressão de que ia a Jerusalém”. (Lc 9,53) A decisão de Jesus de ir a Jerusalém, faz parte do projeto messiânico/teológico lucano, dada a missão que Jesus iria cumprir em Jerusalém: Paixão, Morte e Ressurreição. Esta firme decisão de Jesus de ir ao confronto, mostra que o caminho a ser percorrido pelo discipulado é o mesmo. Se Jesus segue cumprindo a vontade de Deus, o discípulo deve estar disposto a seguir a mesma vontade de Jesus, uma vez que o caminho da cruz é também o caminho da glória.
O caminho de Jerusalém é um caminho de libertação. Quem está no caminho se faz caminho por onde também nós trilharemos. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida!” (Jo 14,6) Jesus é o verdadeiro caminho que leva à vida plena. Na pessoa d’Ele Deus, doador da vida, se manifesta inteiramente a nós. A comunidade que segue os mesmos passos de Jesus não caminha para o fracasso, pois o seu horizonte próximo é a vida. Jesus não apresenta apenas uma teoria do Bem Viver, mas nos convida a percorrer um caminho historicamente concreto. Ele nos abriu o horizonte de nossas vidas. Assim, inspirados nos sinais que o Mestre realizou, criaremos também nós novos sinais dentro do mundo, abrindo espaços de amorosidade, esperança e vida fraterna. A Luz da esperança do Bem Viver brilhará no caminho dos que constroem o novo no lugar das “Jerusaléns da morte”, que insistem em sobreviver no meio de nós. Uma estrela vai brilhar no nosso caminhar e vai nos salvar!
Comentários