Quinta feira da Décima Nona Semana do Tempo Comum. O Tempo Litúrgico é Comum, mas a Festa é dela: Nossa Senhora da Assunção, padroeira da Prelazia de São Félix do Araguaia. A Solenidade da Assunção de Maria é celebrada no dia 15 de agosto, desde o século V. Todavia, coube ao Papa Pio XII, em 1950, proclamar o Dogma da Assunção de Maria, elevada ao céu, em forma de corpo e alma. Este dogma tem a sua fundamentação teológica enraizada em outro dogma, o da Imaculada Conceição de Maria. Maria é aquela que foi concebida sem pecado original, sendo preservada por Deus desde o primeiro momento de sua existência. Desse modo, a pureza imaculada de Maria a coloca em uma posição única e especial entre todas as criaturas humanas.
Celebrar a festa de Maria como a primeira entre os santos e um modelo de fé para todos os cristãos, é fazer a memória viva da caminhada de todas as mulheres, de ontem e de hoje, que fazem fielmente sua adesão ao projeto libertador de Jesus. A Assunção também, destaca a importância de Maria na teologia católica como a “Theotokos”, palavra grega que diz exatamente “Mãe de Deus”, e seu papel especial na obra redentora de Jesus de Nazaré, firmando a Aliança e o cumprimento de todas as promessas feitas pelo Pai, na pessoa do Filho, graças ao “Sim” da Mãe de Deus e nossa. Mais do que um dogma criado pela instituição, Maria é aquela que se deu toda inteira à Deus, permitindo assim que o Verbo se Encarnasse em nossa realidade humana. “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. (Lc 1,42)
No Dia da Assunção, rezei no túmulo do profeta. Ele que tinha uma devoção aberta à pessoa da “Comadre de Nazaré”, “Nossa Senhora do Araguaia”. Foi através dele que aprendi a revitalizar a minha devoção Mariana, tendo na pessoa de Maria de Nazaré, a companheira de todas as horas, bem distante do devocionismo à uma Maria dos altares, branca de olhos azuis, ornada de vestimentas douradas, longe da realidade dos empobrecidos, como o foi a Maria do Magnificat. Rezando, meditando e refletindo sobre Pedro e a “Comadre”, veio-me a mente e ao coração, um dos versos do poeta e místico do Araguaia sobre Ela: “Como Ele, tu e nós. Pela Terra caminhamos, Assunção, Maria Nossa! Ele e tu já gloriosos, nós ainda na labuta!”
“Perdoa as nossas ofensas como também nós perdoamos as pessoas que nos ofenderam”. (Mt 6,12) Conclui a minha oração de hoje, rezando esta oração, que muitas vezes a rezamos e não nos atentamos para o grau de responsabilidade, contida na Oração do Pai Nosso, e que o evangelista Mateus chama a nossa atenção com o texto que a liturgia escolheu para esta data festiva. Jesus ensinando a seus discípulos acerca do perdão, depois da pergunta que Pedro dirige à seu Mestre: “Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” (Mt 18, 21) Lembrando que estamos concluindo o capitulo 18 de Mateus, em que ele concentra ali o “Discurso Eclesial” de Jesus. Jesus falando como deve ser a atitude e compromisso daqueles que o seguem.
“Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. (Mt 18,22) Esta foi a resposta de Jesus à pergunta que lhe fora feita pelo discípulo intempestivo. Para Jesus, não há limites para o perdão. O limite para o perdão é o perdão sem limites. Estarmos sempre prontos a perdoar, mesmo que esta não seja uma decisão fácil de ser cumprida, pois o perdão de Deus a nós, está condicionado ao nosso perdão às demais pessoas. A vida não é feita de vinganças, como a lógica humana costuma propagar: errou, tem que pagar na mesma moeda. Apesar das nossas limitações, imperfeições e dificuldades, somos desafiados a não agir conforme a lógica punitiva da sociedade, mas orientar-nos pela lógica de Jesus, pois o perdão que desejamos e recebemos de Deus, está condicionado ao perdão que devemos oferecer gratuitamente aos outros.
A vida dos seguidores e seguidoras de Jesus precisa, portanto, basear-se no amor incondicional e na misericórdia, compartilhando entre todos/as, o perdão de Deus que cada um de nós recebeu. Faça a experiência e descobrirá que o coração que se abre ao amor generoso de Deus, à pessoa dos pequenos, pobres e marginalizados pecadores, indica que o perdão dado ao outro, beneficia primeiro ao coração daquele e daquela que soube perdoar, sem limites, sem mágoa e nem rancor. O difícil, às vezes, não é perdoar, mas não deixar que o coração seja contaminado pelo ressentimento do perdão mal dado. Ao nos darmos ao dom da prática de saber perdoar, fiquemos com o pensamento socrático: “Só quem entende a beleza do perdão pode julgar seus semelhantes”. A força do perdão está no ato de perdoar! Maria Assunta ao céu, rogai por nós!
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