Quinta feira da vigésima nona semana do tempo comum.
E assim vamos nós, trilhando as veredas da vida. Um dia de cada vez. O passado vai ficando, e o futuro desponta na esquina. Viver o hoje no aqui agora é o desafio do presente. Viver no esperançar de Deus, fazendo acontecer a história de cada dia. Viver intensamente, seguindo um dos conselhos do evangelista Mateus que assim diz: “Não se preocupem com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações. Basta a cada dia a própria dificuldade”. (Mt 6,34) A preocupação do dia, seja suficiente para aquele dia. Quem sabe também lembrando daquilo que nos disse certo sociólogo alemão (1818-1883): “A sua pressa histórica não apresará o momento histórico”.
Os dias tem sido taciturnos, incertos. Se não tomarmos cuidado, a esperança nos escapa pelos vãos dos dedos. Acreditar e esperançar se tornaram os verbos da vez. Conjugá-los se faz necessário no desafio do caminhar juntos, de mãos dadas e na mesma direção. A utopia da luta precisa estar presente no nosso sonhar, fazendo juntos acontecer na perspectiva do Reino. Reino de paz e justiça. Reino de amor e esperança. Reino que o apóstolo Paulo assim o definiu: “O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”. (Rom 14,17) O seguidor fiel de Jesus está inserido neste contexto maior da convivência fraterna, onde o amor determina todas as relações: fraternidade, amorosidade, perdão, ternura e compaixão.
“Dos fundos abismos, eu clamo por ti. Vem logo Senhor, meu grito ouvir. Ouve, Senhor, a minha voz”. Foi desta forma que o padre Ronoaldo Pelaquin nos ensinou a cantar o salmo 129, nos bons tempos do Seminário Santo Afonso, em Aparecida, lá pelos idos de 1977. Naquele tempo, o nosso grito não estava tão sufocado na garganta como de agora. Hoje os abismos sociais são profundos e gritantes. A voz sufocada daqueles que querem viver se faz um clamor uníssono que chega aos ouvidos do Criador. Não dá mais, responde a voz solidária dos mais sensatos e de largo e generoso coração. A luz da esperança brilha em forma de estrela a fazer-nos sonhar com outra realidade possível. Sim, a esperança vence o medo sempre!
O sol da esperança vai vencer o medo da escuridão! As trevas da morte mais uma vez vai ser vencida pela luz da vida. O sonhar de Deus está presente nos valores do Evangelho que cultivamos nas relações que vamos construindo juntos. O amor é a regra maior que nos faz sonhar com outro mundo possível. A força do amor é descomunal e revoluciona todas as realidades por onde ele se faz presente. O amor anda de mãos dadas com a esperança, utopia voraz que, por sua vez, faz hospedagem nos corações que são solidários e ternos, diante dos sofrimentos dos pequenos. É esta realidade que fez o físico alemão Albert Einstein (1879-1955) assim dizer do amor: “Um simples ato de amor é maior que o universo físico inteiro”.
Amor, ato supremo do sopro da vida. Se a vida é o dom maior de Deus para nós, o amor é a força vital que move o nosso coração rumo ao horizonte de Deus na pessoa dos irmãos mais necessitados. Amor, força transformadora de Deus em nós. Amorosidade que se faz presença viva d’Ele em nós. Amor que nos educa em direção as causas do Reino e nos faz testemunhas do Ressuscitado na história. Amor e educação que são os moradores da mesma casa, nossa casa interior. Foi movido por este grande amor fraternal educativo que o nosso pedagogo maior afirmou com todas as letras: “A educação é um ato de amor, por isso um ato de coragem”. A coragem de amar até as ultimas consequências, educando as nossas ações em direção ao propósito de Jesus: “Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3,16)
Apesar de tanta amorosidade, Jesus hoje nos surpreende com uma de suas falas: “Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer a divisão”. (Lc 12,51) Uma fala que, aparentemente, parece negar tudo aquilo que Ele havia dito e vivido. Todavia, o que deve ficar claro para nós é que a missão de Jesus é anunciar e tornar presente o Reino. Ao assim fazê-lo, inevitavelmente entrará em choque com as concepções dominantes na sociedade exploradora dos pequenos e marginalizados. Desta forma, precisamos tomar uma decisão diante de Jesus, e isso provoca divisões até mesmo no relacionamento familiar. É o que estamos vendo neste atual contexto de nossa história: de um lado estão aqueles que são os patrocinadores da morte (fome, desemprego, carestia, armas, ódio, mentiras, enganação); de outro os que lutamos por outro mundo (amor, paz, esperança, democracia, justiça social…) A vida pede passagem! Como na experiência do Ressuscitado, a vida vai vencer a morte e vamos todos triunfar!
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