Quinta feira da Vigésima Segunda Semana do Tempo Comum. 7 de setembro, “Dia da Independência”. Segundo a História Oficial, neste dia, em 1822, D. Pedro I, às margens do Rio Ipiranga, em São Paulo, deu inicio a nossa trajetória como “nação independente”. Uma grande farsa, contada por aqueles que escreveram a história, afirmando que a partir de então, o Brasil passou a ser livre de Portugal, rompendo sua ligação com a Coroa Portuguesa. Versão esta ainda presente nos livros de história, sendo repassada para os nossos alunos como se fosse a história verdadeira e real.
Independência de que e para quem? O Brasil nunca foi um país independente. A “independência” ficou apenas no papel. Somos uma nação com os maiores índices de desigualdade do mundo, fruto de sua história, que sempre privilegiou a vida da elite, seja no período colonial, chegando até os dias atuais. Um país escravagista desde os seus primórdios, sacrificando vidas inocentes de negros, mulheres, indígenas e os pobres da periferia de maneira geral. Uma concentração de renda absurda, quando alguns poucos vivem na bonança, sem trabalhar, e a grande massa de trabalhadores, escravizados no subemprego, ou nas atividades análogas à escravidão. “Que país é este?”, já perguntava Cazuza em sua canção.
Para nós da caminhada da libertação por um mundo melhor e um país mais justo e igual, 7 de setembro é o dia em que celebramos “O Grito dos Excluídos”. Nesta semana em que se comemora o 7 de setembro, levamos às ruas um conjunto de manifestações que acontecem no Brasil desde 1995. A cada ano é escolhido um tema, em consonância com a Campanha da Fraternidade daquele ano. Na 29ª edição do grito, estamos discutindo o acesso à comida e água no país, a partir do tema: “Você tem fome e sede de quê?” Este é o clamor das populações vulneráveis, famintas e sem ter o que comer e água potável para beber. A pergunta que ano deve ser feita para todos que lutam por um Brasil mais justo, democrático e soberano, livre e independente. Grito de dor e sofrimento dos calabouços empobrecidos.
A palavra tem força. “As palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade”, dir-nos-ia o romancista francês Victor Hugo (1802-1885) A força da palavra transformada em luta por um mundo mais justo, fraterno e igual para todos e todas. Uma nação que se quer independente, precisa estar unida em torno dos mesmos ideais de justiça e fraternidade. A Semana da Pátria, sendo transformada em um momento especial para repensarmos a nossa trajetória como nação que se volta para os seus, oportunizando lhes vida com dignidade, conforme o Projeto de Deus. Meu conterrâneo Darcy Ribeiro (1922-1997) bem o disse: “O Brasil, último país a acabar com a escravidão tem uma perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso!.
Palavra de Jesus dirigida à multidão às margens do lago de Genesaré. Lago de Genesaré, também conhecido como “Mar da Galileia”. Trata-se de um extenso lago de água doce localizado ao norte de Israel. Grande parte do ministério de Jesus aconteceu nas margens do lago de Genesaré. Naquele momento histórico, havia uma faixa de povoamentos à volta do lago e muito comércio e transporte por barco. Todavia, sabe-se que a Galileia era uma região mais pobre do que a Judeia, de modo que a população do local atravessava momentos difíceis durante o primeiro século da era comum. Jesus se dirigindo aos mais pobres, se fazendo presente na vida deles.
Foi neste contexto que Jesus fez o chamado aos seus primeiros discípulos, para que estes fizessem parte daqueles que iriam dar continuidade à sua missão. O momento forte desta passagem está na fala de Jesus a Pedro, pedindo a este que: “Avança para águas mais profundas, e lançai vossas redes para a pesca” (Lc 5,4). Um camponês, filho de carpinteiro, querendo ensinar um calejado pescador a pescar, talves Pedro tenha pensado exatamente desta forma, mas reagiu diferente: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”. (Lc 5,5).
Se a palavra tem força, a de Jesus mais ainda. Força que convida a um simples pescador a se transformar em “pescador de pessoas” para o Reino de Deus. Trata-se de uma cena cheia de simbolismos. Jesus chama seus primeiros discípulos, mostrando-lhes qual a missão reservada a cada um deles: fazer que as pessoas participem da libertação trazida por Jesus e que só pode realizar-se no seguimento d’Ele, mediante a união com Ele e sua missão. O convite ao seguimento é muito exigente e é preciso “deixar tudo”, para que nada impeça o discipulado de anunciar a Boa Notícia do Reino. Certamente, Jesus olhou nos olhos de cada um daqueles que chamou. “As mais lindas palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar”, como nos dizia Leonardo da Vinci. O Mestre que chamou a Pedro, também olha dentro dos nossos olhos e nos chama a fazermos parte deste seu projeto de amor, levando adiante a proposta do Reino. Coragem! “Não tenhas medo!” (Lc 5,10)
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