Domingo de Ramos.
Início da Semana Santa (Semana Maior). Com esta celebração, encerramos o Período da Quaresma, abrindo-nos as portas do Tríduo Pascal, que começa na Quinta Feira Santa e vai até o Domingo da Ressurreição do Senhor. Hoje é a Festa da esperança e da alegria dos pobres que têm a oportunidade de aclamar aquele que veio devolver a esperança a eles, os incluindo no Projeto Salvador de Deus. Aclamar um Rei que não se apresenta com pompas e nem poder triunfal de soberania. Faz questão de vestir a roupa desgastada dos empobrecidos e se permite trafegar no lombo de um jumento. Um Rei montado num jumento, motivo de chacota para a elite judaica.
Jesus de Nazaré, que andou durante toda a sua vida pública pelas quebradas da periferia, se misturando e convivendo com os marginalizados e invisibilizados. Agora, faz questão de entrar na grande Jerusalém pela periferia. Da periferia para o centro do poder. Veio de Jericó, passando por Betfagé, um pequeno povoado mais ao oriente, perto de Betânia, no Monte das Oliveiras, na estrada entre Jericó e Jerusalém, conforme os relatos dos Evangelhos Sinóticos (Mt 21,1; Mc 11,1 e Lc 19,29). O profeta Jesus de Nazaré da Galileia, cumprindo as promessas já anunciadas pelos antigos profetas: “o seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho de uma jumenta”. (Zac 9,9)
Domingo de Ramos, festa da vitória dos pobres. Festa que os pobres de São Paulo em situação de rua não vão celebrar com a mesma alegria que os pobres do tempo de Jesus. Isto porque, nesta última sexta feira (31) um determinado desembargador de justiça de São Paulo, derrubou a decisão de uma juíza que impedia a prefeitura daquela capital de retirar, da região central, barracas e pertences da população em situação de rua. Assim, está agendada para esta segunda feira, pelas forças de segurança da prefeitura, a ação de retirada das barracas e dos pertences daquela população em situação de vulnerabilidade social.
Celebrar a Festa do Domingo de Ramos é entrar em sintonia com a prática libertadora de Jesus em favor dos empobrecidos. Celebrar esta solenidade é aclamar o Rei do Universo que, embora sendo o Filho predileto do Pai, se fez pobre, com os pobres e para os pobres. Poderia ter sido diferente e se impor como aquele que veio direto do Pai e se faz unidade indissolúvel com Este. Mas Jesus, “esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo” (Fl 2,7). Uma dinâmica difícil de ser alcançada por nós simples mortais, enquanto o nosso coração se manter fechado ao egoísmo, à prepotência, à arrogância de acharmos que somos melhores que os demais que conosco convivem neste mundo.
Jesus que toma a decisão de ir à Jerusalém, mesmo sabendo que estava jurado de morte pelos poderes constituídos. Ele é o Senhor da história dos empobrecidos. O Rei-Messias que vai confrontar-se com o centro da sociedade judaica, simbolizada por Jerusalém e pelo Templo, sede do poder econômico, político, ideológico e religioso. Ao contrário do que esperavam as autoridades locais, Ele entra na cidade, não como rei guerreiro, mas como simples homem, humilde e pacífico. Ele traz consigo a perspectiva do Reino que propõe a inversão de um sistema de sociedade apoiado apenas na violência da força do poderio militar, que defende regalias e privilegiados de alguns poucos em detrimento dos demais. Não é sem razão que o povo pobre o aclama como aquele que traz em si o Reino da verdadeira justiça. Jesus é a esperança daqueles que não esperam simplesmente, mas caminham em direção às suas realizações. Como nos diria o filosofo grego Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.): “A esperança é o sonho do homem acordado”.
Jesus é o Rei do Universo apontado como sinal de contradição pelo velho Simeão: “Eis que este menino vai ser causa de queda e elevação de muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição”. Lc 2,34) Em Jesus, a esperança renasce na vida dos pobres que esperam pela libertação, pois o julgamento de Deus colocará no banco dos réus os ricos e poderosos, libertando os pobres e oprimidos. Na festa da entrada de Jesus na cidade de Jerusalém os pobres visualizam o seu grande sinal de esperança, lembrando daquilo que fora dito no livro do Eclesiastes: “enquanto se vive neste mundo, existe alguma esperança”. (Ecle 9,4) Uma festa que nos ajuda a entender que, apesar de tudo, de todas as contradições, vale a pena viver e ser justo, pois, embora a vida seja um grande mistério, justos e sábios estão todos nas mãos de Deus.
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