Quinta feira da 24ª Semana do Tempo Comum. Os tempos que ora estamos vivendo são adversos. A busca pela esperança se faz urgente e necessária, se quisermos alçar novos voos, em meio ao caos. Esperança que se faz esperançando, fazendo e acontecendo, aquilo que queremos nosso para todos. Nunca foi tão necessário acreditar em nós mesmos, e de que seremos capazes de fazer as mudanças que queremos ver no mundo, começando por nós mesmos. Acreditar no amor, acreditar na magia. Acreditar em nós mesmos. Acreditar nos sonhos que sonhamos acordados. Fazer acontecer a utopia crível de outro mundo possível, afastando para bem longe de nós a distopia.
Minha quinta feira amanheceu saudosa. Comecei o meu dia rezando e declinando o verbo esperançar, na perspectiva de Paulo Freire (1921-1997). Hoje é o aniversário natalício de nosso maior pedagogo. Estaria no dia de hoje, completando 103 anos. De saudosa memória, transformou revolucionariamente a educação brasileira, deixando-nos um legado, que precisamos revitalizá-lo, para que a nossa educação continue avançando na mesma métrica de seu pensamento criativo e transformador. Desde que passei a ser quem sou, como educador, trago comigo no meu projeto de vida um de seus pensamentos que assim diz: “A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”.
Ser ancião tem as suas vantagens: significa que estamos vivos aproveitando da serenidade que a idade e as experiências obtidas nos proporcionam. Olhamos para o passado que se foi, e projetamos o hoje, na perspectiva de um futuro que desejamos melhor para os que vêm vindo, trilhando o compasso da história. Neste meu olhar no dia saudoso de hoje, trouxe presente em minha memória, uma das aulas que tive o prazer de participar, com o psicanalista, educador, teólogo, escritor Rubem Alves (1933-2014), nos bons tempos da filosofia, em que ele nos dizia: “A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar”.
Conclui o meu momento de dialogo a sós com Deus (acompanhado dos plumados visitantes), refletindo uma das falas de Jesus que o evangelista Mateus registrou para nós: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”. (Mt 11,28) Devemos sempre nos lembrar, que Jesus é o enviado de Deus, que veio tirar a carga pesada que os poderosos, “sábios e inteligentes” criaram e colocaram sobre os ombros do povo pobre e oprimido. No lugar desta opressão, desigualdade e exploração, Ele traz um novo modo de viver, na justiça e na misericórdia, mostrando-nos o rosto de um Deus compassivo, que muito ama os seus e para eles faz brotar a vida em plenitude.
A liturgia de hoje nos traz um texto emblemático, que proporciona uma boa reflexão. Lucas descreve que Jesus fora convidado por um fariseu para uma refeição em sua casa. Estando ali, uma mulher aparece no cenário, e começa a lavar os pés de Jesus. Não se trata de uma mulher qualquer, mas de uma grande e abominável pecadora que, para espanto do fariseu, Jesus se deixa tocar por ela. A reação do pensamento do fariseu foi imediata: “Se este homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, pois é uma pecadora”. (Lc 7,39) Os fariseus não se consideravam pecadores; por isso, ficavam numa atitude de julgamento, e não eram capazes de entender e experimentar a misericórdia transformada em forma de perdão e amor.
A pedagogia da amorosidade misericordiosa e libertadora de Jesus é diferente. Considerando a temática de quem é pecador, ou não, em outro momento Ele também vai dizer aos fariseus e mestres da Lei: “Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento. (Mc 2,17) Com esta sua atitude, Jesus quer mostrar aos fariseus, que a justiça de Deus se manifesta como amor que perdoa os pecados e transforma as condições das pessoas. O amor é expressão e sinal do perdão recebido. Quem muito ama, sabe e é capaz de perdoar. Quem ama sabe das suas limitações, fragilidades e fraquezas e, consequentemente, necessita também ser perdoado. Quem não ama adequadamente, tem dificuldade de perdoar. Quem ama verdadeiramente, perdoa incessantemente. Mas esta lógica não é assimilada pelos fariseus, de ontem e de hoje. “O amor deveria perdoar todos os pecados, menos um pecado contra o amor”. (Oscar Wilde)
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