30º Domingo do Tempo Comum. Outubro, o mês missionário vai se despedindo de nós, mas nossa missão é pra toda vida. Ao recebermos o Sacramento do Batismo, nos habilitamos para sermos as testemunhas fieis do Ressuscitado. Levar adiante a mesma missão de Jesus de Nazaré. Como peregrinos da esperança, vamos desbravando os desafios que a vida coloca no horizonte do nosso caminhar. “Se a jornada é pesada e nos cansa na caminhada, segura na mão de Deus e vai”, assim cantamos com o nosso cancioneiro. A jornada é tão importante, quanto o horizonte que se abre, sendo que cada passo contribui para que esta caminhada seja única.
Um domingo bastante molhado aqui pelas bandas da Prelazia de São Félix do Araguaia. As chuvas primaveris, chegando com força para molhar a terra e fazer brotar a semente de esperança e vida. São Pedro não economizou na água descendo do céu. Rezei nesta manhã com as poucas pessoas que enfrentaram o tempo chuvoso, e vieram se juntar a nós na comunidade catedral, onde presidi a celebração, em comunhão e participação. A Sinodalidade se fazendo momento orante, em sintonia, estando a sós com o Senhor, escutando o que Ele nos diz, para darmos prosseguimento nas ações da semana que se descortina.
Senti a mística de Pedro presente em algumas pessoas ali da comunidade. Os “enfrentantes”, como as denominamos por aqui, nesta nossa caminhada de Igreja. Povo de Deus em mutirão, em marcha pelo Reino de Deus. Perfis que não se veem mais nas comunidades espalhadas por este nosso Brasil. Enquanto o Papa Francisco, tem insistido tanto numa proposta de Igreja em Saída, o fundamentalismo religioso, toma conta dos espaços das comunidades, numa prática sacramentalista, voltadas para o interior dos templos, sem se importarem com os marginalizados e deserdados da história. Serve de alerta o que nos disse São João Crisóstomo: “Se você não consegue ver Cristo no mendigo na porta da Igreja, não poderá encontrá-lo no cálice”. Bem isso!
Jesus que vê o mendigo cego, que lhe implora pela cura, no seu caminho rumo à Jerusalém. Aquele pobre coitado, era um marginalizado pela sociedade de seu tempo. Aliás, marginalizado é um conceito trabalhado pela Sociologia, que se relaciona com a exclusão social, cultural, política ou econômica. A pessoa marginalizada, vive à margem, afastada do centro da sociedade, da cultura, da política e da economia. Seus direitos básicos são negados, como saúde, educação, moradia, alimentação, respeito, sem que estas pessoas marginalizadas possam escolher ou concordarem com esta posição que lhes é imposta. No tempo de Jesus, pobres, mulheres, crianças, indivíduos de má fama (publicanos e pecadores, samaritanos e malfeitores) e enfermos, eram os marginalizados.
O mendigo cego à beira do caminho era um destes marginalizados, que o evangelista Marcos nos apresenta no seu relato de hoje. Um marginalizado que reconhece em Jesus o Messias enviado: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” (Mc 10,47) A primeira reação dos discípulos, foi tentar calar a voz daquele homem. Jesus, ao contrário, o atrai a si, chamando-o e devolvendo-lhe a sua visão desejada: “Vai, a tua fé te curou”. (Mc 10,52) Fica clara a dedicação de Jesus aos mais pobres, às pessoas desprezadas e marginalizadas pela cultura social e religiosa do seu entorno. Com sua prática, que Ele realiza, desmascara os mecanismos de opressão de seu tempo e revela que os verdadeiros culpados pela miséria e marginalização dos pobres, não são os pobres, mas as autoridades religiosas e politicas.
A cura do cego Bartimeu é o último sinal (milagre) realizado por Jesus em sua atividade pública messiânica. Uma cura muito significativa, pois não somente recupera a sua visão, abrindo-lhes os olhos, mas principalmente o seu coração. Aquele homem que antes era um marginalizado, assume o protagonismo e passa a seguir Jesus pelo caminho. Seguindo a Jesus com coragem, discernimento e fidelidade, tornando assim modelo de discipulado. Que possamos ter em nós a mesma atitude deste pobre homem e consigamos enxergar Deus presente em todos aqueles ainda hoje são marginalizados. Enxergando com o coração, possamos seguir os passos de Jesus, libertando todos aqueles que estão presos às cadeias da opressão. O texto de hoje nos mostra que o encontro com Jesus é sempre um desafio e a oportunidade para abraçar uma vida com horizontes mais amplos, encontrando sentido em todas as nossas ações em favor da vida plena.
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