Sábado da décima terceira semana do tempo comum.
O primeiro final de semana do mês de julho apontou na esquina. Duas semanais mais nos separam da nossa Romaria dos Mártires da Caminhada, que será realizada no Santuário dos Mártires, em Ribeirão Cascalheira, terras da Prelazia de São Félix do Araguaia. O padre jesuíta João Bosco Penido Burnier (1917-1976), ao visitar seu amigo Pedro Casaldáliga, foi assassinado naquela cidade. A bala certeira que matou o padre João, era endereça ao bispo Pedro, que também estava presente naquele fatídico dia no local do disparo. Padre João Bosco, mártir da luta dos povos indígenas. Vamos fazer memória de seu martírio.
Por falar em martírio, o Brasil está sendo alvo de denúncia na Organização das Nações Unidas (ONU), pelo assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Grupos indígenas de diferentes povos, alertaram que os crimes cometidos contra estas duas pessoas, fazem parte de um quadro geral de execuções contra lideranças e povos da floresta. Somando forças com estas lideranças indígenas, estão o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH). As denúncias foram encaminhadas diretamente à Secretaria do Conselho de Direitos Humanos da ONU, para que o governo brasileiro se empenhe na investigação dos mandantes destes bárbaros crimes.
Esta tem sido a realidade dos povos indígenas do Brasil nestes últimos anos. A boiada segue sendo passada como um rolo compressor sobre os territórios indígenas, objeto de especulação dos grandes latifundiários pecuaristas, madeireiros, garimpeiros e o agronegócio. Estes “nobres senhores” possuem uma bancada expressiva de representantes de seus interesses no parlamento brasileiro: bancada ruralista, bancada evangélica e bancada da bala. Bem profetizou Leonel Brizola: “Se os evangélicos entrarem na política, o Brasil irá para o fundo do poço, o país retrocederá vergonhosamente e matarão em nome de Deus”
A História oficial do Brasil é regada à muita luta e muito sangue derramado. Vidas ceifadas pela ação dos que se acham donos do poder. “Perdemos o guardião das causas indígenas”, disse o cacique Xavante Damião Paridzané, no velório de nosso bispo Pedro. Alguém que dedicou boa parte de sua incansável vida na defesa dos povos originários. Pedro, as vésperas da romaria de 2011 disse esta frase: “Continuamos sendo latifúndio, há 500 anos. Continuamos sendo exclusão e violência no campo, acumulação de terra. Continuamos sendo agronegócio, o latifúndio travestido. Continuamos sendo tóxico, depredação”.
É preciso muita fé para continuar ainda resistente na luta e não perder a esperança e a coragem de lutar. Fé de quem se entrega confiante nas mãos de Deus, fazendo o mesmo percurso feito por Jesus em meio aos empobrecidos. Fé que nos faz lutar pela causa indígena, que é o mesmo que lutar por um meio ambiente saudável, na defesa da Mãe Natureza. A Casa Comum é de todos nós e não apenas daqueles que desejam explorá-la, saqueá-la. “A natureza e nós somos um todo inseparável”, me disse o professor Xavante Cosme Rité. Todos fazemos parte desta lógica indígena, por mais que alguns de nós não tenhamos a consciência disto. Já em 1854, uma das grandes lideranças indígenas, o Chefe Seattle, escreveu em carta ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce alertando: “Tudo o que acontecer à Terra, acontecerá aos filhos da Terra.”
Somente através de uma fé cristológica podemos fazer parte do discipulado de Jesus. Fé que fundamenta as nossas ações no caminho do Nazareno, fazendo nossa a caminhada d’Ele. Se na liturgia de ontem, Ele conclui a sua fala retomando uma citação do profeta Oseias: “Eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos. (Os 6,6), a temática em discussão hoje ó jejuar. Na visão de Jesus, não há como jejuar na festa em que o “noivo” está presente. Aliás, a temática do jejum nem sempre foi bem entendida por alguns dos seguidores de Jesus. Talvez aqui possamos então recorrer ao profeta Isaías que nos traz o verdadeiro jejum que agrada a Deus: “O jejum que eu quero é que soltem aqueles que foram presos injustamente, que tirem de cima deles o peso que os faz sofrer, que ponham em liberdade os que estão sendo oprimidos, que acabem com todo tipo de escravidão. que vocês repartam a sua comida com os famintos, que recebam em casa os pobres que estão desabrigados, que deem roupas aos que não têm”. (Is 58, 6-7) Esta é a fé que move o discipulado de Jesus. O contrário disto é fanatismo cego, alienado. Qual é a amplitude da sua fé? A dimensão da sua fé te coloca como parte integrante do discipulado de Jesus?
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