Domingo da Festa da Sagrada Família: Jesus, Maria e José.
A família de Nazaré. Com a celebração desta festa, a Igreja quer que reflitamos sobre a importância da família em nossas vidas. É na família que se gesta o berço de nosso nascedouro e da projeção de nossas realizações e conquistas rumo ao nosso existir em plenitude. A família de Nazaré serve-nos como modelo de família. Deus que aposta no ambiente familiar, tanto que projetou a vinda de seu Filho no seio de uma família simples, como qualquer uma de nossas famílias. A Encarnação do Verbo que se faz humano na singeleza de um pobre casal nazareno.
O tempo litúrgico que estamos celebrando é o do Natal. Solenidade que começa no dia 24 e vai até a Festa do Batismo de Jesus. Natal é um dos quatro tempos solenes da igreja, que se junta com o Advento, a Quaresma e a Páscoa do Cristo Ressuscitado. Com o Advento, o Ciclo do Natal, que compreende a preparação, a solenidade e o prolongamento do mistério da Encarnação do Senhor. Deus vindo fazer morada em nossa história humana, se fazendo um Deus humano no meio de nós. Um Deus feito gente que nasce no meio da gente, no ventre da Sagrada Família de Nazaré.
Celebramos hoje também a Festa de Santo Estêvão. Estêvão é o primeiro mártir da história do cristianismo, tanto que recebe a denominação de Protomártir. Ele foi um dos primeiros que fizeram a opção de seguir os passos de Jesus de Nazaré. Num dos escritos do Novo Testamento (Atos dos Apóstolos) ele aparece como o primeiro, entre os sete, que foram eleitos para ajudar na missão dos Apóstolos. Assim como o seu Mestre, que foi assassinado pelo Estado, numa articulação com as autoridades religiosas da época, Estêvão também foi assassinado entre os anos de 33 e 40 d.C., por seguir o Deus da esperança maior e seu Projeto libertador.
O mesmo destino que fora dado pelos “homens” ao Filho de Deus, também foi reservado aos seus seguidores. Não se contentaram em matar a Jesus, mas a perseguição se estendeu aos que com Ele caminhavam. Isso demonstra que o cristianismo não nasce em berço de ouro, em meio às honrarias do poder centradas nos “grandes palácios”. Nasce na periferia, no meio da ralé. Quem acolhe a Proposta são aqueles que ninguém dá nada por eles, os esquecidos. Portanto, seguir um “fora da lei”, corre o risco de com Ele, também ser perseguido. A Igreja de Jesus é a Igreja do martírio, composta pelos mártires da caminhada. Até porque, como nos dizia Santo Oscar Romero: “Em um país de injustiças, se a Igreja não é perseguida é porque é conivente”.
Mártires de ontem e de hoje, que deram suas vidas pelas causas do Reino. Vidas pela vida! Vidas pelo Reino! No dia de hoje (26), o mundo eclesial ecumênico está mais triste. Perdemos uma grande liderança das causas do Reino. Faleceu Desmond Mpilo Tutu, aos 90 anos. Ele foi um arcebispo da Igreja Anglicana que muito lutou, ao lado de Nelson Mandela (1918-2013), contra o Apartheid, regime de segregação racial na África do Sul, recebendo inclusive o Prêmio Nobel da Paz em 1984. Tutu foi o primeiro negro a ocupar o cargo de Arcebispo da Cidade do Cabo, tendo sido também o Primaz da Igreja Anglicana da África Austral entre 1986 e 1996.
Família é tudo! É a nossa base de sustentação. Somos que somos daquilo que nutrimos em nosso berço familiar. É no seio da família que vamos edificando e consolidando a nossa personalidade. É desta forma também que os textos da liturgia de hoje nos ensinam. A sapiência de Deus, que nos vem do Livro do Eclesiástico é fenomenal: “Quem respeita o seu pai, terá vida longa, e quem obedece ao pai é o consolo da sua mãe”. (Eclo 3,7) Todo o texto é uma atualização para nós do quarto mandamento da Lei de Deus. Ou seja, o respeito e o cuidado para com os pais, preservando a consciência viva da identidade de um povo.
Mesmo que o menino Jesus, na sua adolescência (12 anos), pareça faltar com o devido respeito aos seus pais, diante da aflição da Mãe: “Por que me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai?” (Lc 2,49) Menino bom de peia, como dizem os mais velhos por aqui. Entretanto, a família começa a entedner que aquele não era um filho qualquer. Com estas palavras, a família percebe que o menino tinha uma missão específica a cumprir, decorrente da sua relação filial com Deus-Pai. Um mistério que aos poucos a família vai administrando, pois não criara um filho para si mesmos, mas para o mundo, por se tratar do Verbo de Deus encarnado na realidade humana.
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