Terça feira da Vigésima Quinta Semana do Tempo Comum. A primavera com cara de verão segue aquecendo nossos corpos. Temperaturas altas, baixa umidade e sequidão, é tônica dos dias aqui pelas bandas do Araguaia. Nenhum sinal de chuva. Nem ameaça. O nosso florir interior anseia por dias mais amenos, onde possamos fazer brotar nossas ações. Mais do que nunca sentimos o grito da terra, clamando por mais cuidados, como o Papa Francisco manifesta-se na “Laudato Si” (“Louvado Seja”): “ecologia integral: o clamor da terra e dos pobres”. Ou paramos com a nossa ação virulenta contra a natureza, ou ela nos cobrará em dobro.
“Tudo está em relação, tudo é conexo”, é assim que o Pontífice entende a nossa relação com a Casa Comum. Quando a casa é comum, a causa também é comum. Tudo está interligado. Do meio dos pobres e da Mãe natureza brota um grito uníssono que nos chama a conversão quanto ao nosso “pecado ecológico” e “aporofóbico” (aversão ao pobre). Um grito que vem desde o Antigo Testamento, assim como está registrado num dos livros sapienciais: “Erga a voz em favor dos que não podem defender-se, seja o defensor de todos os desamparados. Erga a voz e julgue com justiça; defenda os direitos dos pobres e dos necessitados”. (Pv 31, 8-9) Manter viva a profecia como desafio.
Não estamos a sós neste mundo. Fazemos parte da grande família humana, criada por Deus. Os que têm a sua fé e também aqueles que não a professam. O que nos une é a essência da natureza humana, unida ao ser divinal de Deus. Independente da fé que podemos ou não ter, como nos diria o filósofo estoico Sêneca: “A natureza nos uniu em uma imensa família, e devemos viver nossas vidas unidos, ajudando uns aos outros”. Segundo o principio do estoicismo, que é uma das escolas de filosofia helenística, fundada em Atenas, na Grécia antiga (início do Século III a.C.): propunha que os seres humanos vivessem em harmonia com a natureza.
Família que é a temática central da nossa reflexão nesta terça feira. O Lecionário Litúrgico nos propõe a sequência do texto lucano de ontem. Se no dia de ontem, ele falava da luz que devemos ser em conexão com a luz de Jesus, hoje é a vez da família de Jesus. O contexto de hoje é o mesmo do início da atividade messiânica pública de Jesus. Ele que passou grande parte de sua vida, convivendo com a sua família de sangue na Galileia, como qualquer outra família pobre daquele tempo. É sobre esta experiência que somos chamados a refletir no dia de hoje, uma vez que, a princípio, Jesus esteja desprezando sua família.
“Tua mãe e teus irmãos estão aí fora e querem te ver. Jesus respondeu: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus, e a põem em prática”. (Lc 8,20-21). Não se trata que Jesus esteja desprezando os seus familiares. É bom que se saiba que na língua hebraica a palavra irmão se escreve “āh” e significa filhos dos mesmos pais. Todavia, também poderia significar outros parentes, uma vez que não existe variedade de palavras hebraicas para designar a parentela. Quando se traduziu a Bíblia para o grego, o termo grego usado para traduzir “āh” (irmão ou parente em hebraico) foi “adelphós”, que é irmão em grego e significa exatamente: “nascidos do mesmo útero”. Assim os irmãos e irmãs de Jesus, vão mais além daquele circulo familiar.
Família é tudo! Somos parte integrante da família de Jesus na medida em que aceitamos e tomamos a firme decisão de fazer o mesmo itinerário d’Ele, percorrendo em direção aos mais pobres e marginalizados. Com a sua vinda para fazer morada definitiva entre nós, Jesus instaura novas relações entre as pessoas, começando a existir quando estas mesmas pessoas põem em prática a palavra do Evangelho, dando continuidade assim à missão de Jesus. Evidentemente que esta missão será norteada pela Palavra de Deus. Palavra encarnada, vivida e transformada, como cantamos em nossas comunidades: “Pela palavra de Deus., saberemos por onde andar. Ela é luz e verdade. Precisamos acreditar”. Infeliz da sociedade que não preza os valores da família, como já nos alertara o poeta e dramaturgo francês, Victo Hugo (1802-1885): “Quando se decompõe uma sociedade, o que se acha como resíduo final não é o indivíduo, mas sim a família”. Viva a família de Jesus e nossa!
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