Terça feira da Décima Quinta Semana do Tempo Comum. Na data de hoje, a Igreja celebra a devoção a Nossa Senhora do Carmo. Uma devoção que teve início no século XII, quando um grupo de eremitas se formou próximo ao Monte Carmelo, na Palestina, com o propósito de terem um estilo de vida simples, pobre e austera. A partir de então, surgiu a Ordem dos Carmelitas, venerando Nossa Senhora do Carmo.

Amanheci no dia de hoje pisando o chão sagrado do Santuário dos Mártires da Caminhada, na cidade de Ribeirão Cascalheira, uma parte dos 102 mil km do território de nossa Prelazia. É impossível estar aqui e não sentir tremular nas entranhas a mística, a espiritualidade e a energia cósmica deste lugar. Muito sangue derramado, de vidas que se deram pelas vidas. Estar aqui, é sentir a mesma experiência dos cristãos das comunidades primitivas, testemunhando e dando os primeiros passos no seguimento de Jesus de Nazaré. Aqui, a esperança tem lugar e nos faz lutar pelas causas do Reino. Aqui, Pedro está em todo lugar!

Aqui nos sentimos parte da família de Jesus. Somos provocados a abraçar as mesmas causas d’Ele, como os muitos mártires que derramaram seu sangue, “Lavando e alvejando suas vestes no sangue do Cordeiro” (AP 7,14) Aqui, somos convidados a fazer parte da família de Jesus, não como um grupo de pessoas privilegiadas, pertencentes ao mesmo sangue d’Ele, mas em tudo, realizando a vontade do Pai. Ser da família de Jesus, não basta ter fé n’Ele, mas ter a mesma fé d’Ele. Desafiador.

Mais uma vez a liturgia desde dia de hoje nos oferece para reflexão, um texto tirado do primeiro evangelho (Mt 12,46-50) A perícope de hoje, também aparece em Marcos 3,31-35. Ambos nos trazem o relato da Mãe de Jesus querendo falar com Ele, tendo a dificuldade da grande multidão que o cercava. A resposta imediata de Jesus parece paradoxal e mal educada, aparentemente. Porém, se analisarmos mais detidamente, esta nos parece coerente.

Para o evangelista Mateus, a família de Jesus são os seus discípulos, isto é, a comunidade daquele primeiro grupo, que se dispôs a caminhar com Ele e segui-lo. Estando com Jesus, eles aprendem d’Ele os ensinamentos, para levá-los adiante às outras pessoas; são eles que trilham o caminho da vontade do Pai, isto é, a obediência total à radicalização da Lei proposta por Jesus, diferentemente da geração hipócrita dos fariseus.

O texto do Evangelho trabalha com duas categorias de pessoas: os de dentro e os de fora. Enquanto a família, segundo a carne, está “fora”, a família segundo o compromisso da fé está “dentro”, ao redor de Jesus. Sua verdadeira família é aquela formada por todos aqueles e aquelas que realizam na própria vida, a vontade de Deus, que consiste em dar continuidade à missão de Jesus: ser com Ele, como Ele e para Ele! Assim, devemos sempre nos perguntar para nós mesmos: de que lado estamos? De dentro ou de fora? Irmanados com Jesus ou com as forças que se contrapõem às causas do Reino. Ser com Ele é estar com Ele, por onde quer que Ele for.