Décimo Domingo do Tempo Comum. Liturgicamente, o Tempo Comum, é o ciclo apropriado para conhecer quem é Jesus e aprofundar o entendimento da sua pessoa e missão na sua atividade messiânica. Os textos escolhidos para a nossa reflexão tem esta proposição. O tema central deste domingo, por exemplo, reflete sobre a identidade de Jesus e da comunhão que Ele deseja estabelecer com seus discípulos e discípulas. Ele constituiu doze, para que eles o ajudassem a levar adiante o projeto do Reino. Jesus e eles sabem da missão de revelar a profunda relação de obediência com Deus e o desejo de tornar toda a humanidade participante desta íntima relação como parte da sua família trinitária.
No dia 9 de junho, a “história oficial” comemora o Dia Nacional de Anchieta. José de Anchieta (1534-1597) é o Padre Jesuíta das Ilhas Canárias, arquipélago espanhol, que desembarcou no Brasil, junto com os colonizadores no ano de 1553, com a equivocada missão de “catequizar os índios”, como se eles assim o quisessem. Desde dia em diante, os indígenas perderam o sossego. Entre Anchieta e Padre Zezinho, fico com o segundo, que teve no dia de ontem o seu aniversário festivo. São 83 anos de muita arte e insistência na evangelização de nosso povo, através de suas composições musicais, que muito ajudou e ainda é presença nas celebrações em nossas comunidades. Feliz vida feliz, Padre Zezinho!
Neste domingo daremos continuidade à leitura do Evangelho de Marcos. Um texto bastante longo, mas de uma significância muito importante para entendermos o ministério de Jesus na Galileia, que está apenas no início. Ele que é o Messias, Filho do Pai, enviado ao mundo para anunciar e instaurar o Reino de Deus, através de sua mensagem e ação libertadora. Esta presença de Jesus encontrou enorme resistência por parte da classe política e religiosa de seu tempo. Evidentemente que não podia ser diferente, uma vez que Jesus, além de vir na contramão do sistema, faz duras críticas ao aparelhamento politico e religioso da Palestina de seu tempo.
Como dito acima, o texto do evangelista Marcos de hoje, relata o início do ministério de Jesus na Galileia. Se no domingo anterior, Ele contraria a lei judaica, fazendo o bem a um homem em dia de sábado, em plena sinagoga, hoje o texto repercute estas ações de Jesus, sendo acompanhado por uma enorme multidão, tudo por causa dos milagres e prodígios que Ele realizava. Todavia, as autoridades não estavam nada satisfeitas com a presença dele ali, não aceitando o seu comportamento fora dos padrões estabelecidos pela sociedade e a religião oficial. A cena apresentada por Marcos é chocante e contraditória: Jesus, em sua casa, rodeado por uma multidão imensa e, ao mesmo tempo, contestado e mal compreendido pelos seus familiares e pelas autoridades religiosas.
Para eles só existem duas possíveis explicações tanto para os familiares como para as autoridades religiosas: Ele está louco, ou está possuído pelo demônio. Entretanto, Jesus demonstra que sua atividade messiânica não constitui aliança com demônio algum, mas sim com a libertação total de todo tipo de mal. Sua ação está vinculada unicamente com a vontade do Pai, de construir um mundo que se baseie neste desejo de fazer a vontade de Deus. Assim, os seguidores e seguidoras de Jesus, longe de buscar os lugares privilegiados de prestígio e poder, devem abraçar a vontade do Pai e seguir o exemplo do Filho, permanecendo unidos a Jesus por meio dos laços familiares. Somente assim, unidos a Jesus de Nazaré, realizaremos a vontade do Pai, recebendo d’Ele a força necessária para vencer o mal, presente no mundo e nas pessoas.
“Tua mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura. Ele respondeu: Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos? E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. (Mc 3,32-35) Não se trata que Jesus esteja desprezando os seus familiares. Na língua hebraica a palavra irmão se escreve “āh” e significa filhos dos mesmos pais. Todavia, também poderia significar outros parentes, uma vez que não existe variedade de palavras hebraicas para designar a parentela. Quando se traduziu a Bíblia para o grego, o termo grego usado para traduzir “āh” (irmão ou parente em hebraico) foi “adelphós”, que é irmão em grego e significa exatamente: “nascidos do mesmo útero”. Assim os irmãos e irmãs de Jesus, vão mais além daquele circulo familiar.
Quem tá dentro está fora e quem tá fora está dentro. Não basta ter fé e acreditar em Jesus para fazer parte de sua família. Família é tudo! Somos parte integrante da família de Jesus na medida em que aceitamos e tomamos a firme decisão de fazer o mesmo itinerário d’Ele, indo em direção aos mais pobres e marginalizados. Com a sua vinda para fazer morada definitiva entre nós, Jesus instaura novas relações entre as pessoas, começando a existir quando estas mesmas pessoas põem em prática a palavra do Evangelho, dando continuidade assim à missão de Jesus. Fazer parte da família de Jesus é a vocação de todos nós. Faz parte de sua família todos os que se reunindo ao redor d’Ele, buscam fazer a vontade do Pai. Enquanto a família segundo a carne está “fora”, a família segundo o compromisso da fé está “dentro”, ao redor de Jesus. Sua verdadeira família é formada por aqueles e aquelas que realizam na própria vida a vontade de Deus, que consiste em continuar a missão de Jesus.
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