Sábado da Oitava da Páscoa. Este é o sétimo dia deste momento litúrgico. É como se cada um dos oito dias deste período, fosse “Domingo de Pascoa”, em que celebramos com maior ênfase, a Páscoa do Cristo Ressuscitado, vivo presente no meio de nós. Amanhã, com o Segundo Domingo da Páscoa (07), encerramos o ciclo das Oitavas da Páscoa, e rumamos em direção aos 42 dias de caminhada que faremos até o Domingo de Pentecostes, no dia 19 de maio. Muito chão pela frente, mas o clima é o mesmo: alegria, esperança, vida. Ele vive em cada um de nós, mesmo que não tenhamos a fé suficientemente forte para acolhê-lo no aqui e agora de nossa história.
É Páscoa! É vida! É Ressurreição! Jesus está vivo, nos fazendo sonhar esperançando por dias melhores. Dias como os desta semana, que teve um lampejo no dia de ontem (05), com a posse do ambientalista, filósofo e poeta indígena, Ailton Krenak, na Academia Brasileira de Letras (ABL). Pasmem, Ailton é o primeiro indígena a ocupar a cadeira de número 5 da ABL, que pertencia ao escritor José Murilo de Carvalho, que morreu em agosto de 2023. A ABL que começou a funcionar em 20 de julho de 1897, final do século XIX. São, portanto, 127 anos, sem a presença de um indígena sequer em seus quadros, que já teve Machado de Assis, Olavo Bilac, e Rui Barbosa, dentre muitos outros mais. O indigena não conta como expressão de arte da escrita.
O mais próximo dos indígenas a ocupar a cadeira de nº 11, eleito em 8 de outubro de 1992, foi o Antropólogo mineiro, Darcy Ribeiro. Ele que tinha uma identificação muito grande com os povos originários. Uma vergonha, uma instituição centenária como a ABL, não ter em seus quadros, a presença dos escritores indígenas, de tantos que temos. Tem razão Ailton Krenak dizer em seu discurso de posse: “Espero que o Brasil inteiro, os outros brasileiros, possam entender que nós estamos virando uma página da relação da ABL com os povos originários. Eu já disse que venho para cá para trazer línguas nativas do Brasil para um ambiente que faz a expansão da lusofonia”.
Outra virada de página de nossa história aconteceu também nesta quinta feira (04), quando a formanda do curso de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Cynthia Luiza Ribeiro do Amaral, colou grau vestindo uma beca branca, em homenagem ao seu orixá Oxumarê, do candomblé do qual faz parte. Foi a primeira aluna a colar grau com uma veste branca. Uma atitude singular e respeitosa à diversidade religiosa e ao processo de sua formação espiritual nas Religiões de Matriz Africana. Parabéns Synthia, pela sua coragem e altivez! A Universidade precisa de mulheres resilientes assim como você, combatendo o racismo e à intolerância religiosa.
Liturgicamente, ainda estamos em clima das aparições de Jesus. Como entender a sequência das aparições de Jesus? Ele que continua a sua incursão, de levar aos discípulos, ânimo, força e coragem, para darem continuidade à missão a que foram chamados, preparados e instituídos. Todavia, o clima entre eles era de incerteza e incredulidade, apesar dos relatos daqueles e daquelas que fizeram a experiência de proximidade, ao estarem com o Ressuscitado. Como acreditar numa mulher, ainda mais naquela da qual já se tinha expulsado sete demônios? Com certeza, que o espirito machista e preconceituoso, da sociedade judaica, pairava sobre as mentes daqueles homens incrédulos. Depois de aparecer a Maria Madalena, aos discípulos de Emaús, agora Jesus se coloca no meio do grupo, no momento em que estão comendo. O Mestre os repreendem veementemente “por causa da falta de fé e pela dureza de coração deles, “porque não tinham acreditado naqueles que o tinham visto ressuscitado”. (Mc 16,14). Nem parece que caminharam com Ele e ouviram de sua boca, todo aquele processo pelo qual o Mestre deles haveria de passar.
A falta de fé determina o grau de incredulidade de quem, com dúvidas e incertezas, se põe a caminhar com Jesus. Crer é encontrar-se consigo mesmo e deixar ser tomado, invadido pela força que vem do alto d’Ele. Quem tem medo de acreditar, dá mostras de não ter fé transformante. Não basta dizer que temos fé. Não basta acreditar. É preciso confiar e se entregar. Muitos de nós dizemos que acreditamos e temos fé, mas não confiamos o suficiente para que a realidade do Cristo Ressuscitado faça as transformações necessárias em nós, e assim possamos ser também construtores do Reino. De posse do Ressuscitado em nós e conosco, Ele mesmo nos envia e encaminha com a missão intransferível e indissociável de: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (MC 16,15) Acreditar confiando, escutando e vivendo a Palavra, entregando cada dia, o melhor que podemos ser, nas circunstâncias que teremos pra viver.
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