Sexta feira da Décima Oitava Semana do Tempo Comum. Caminhamos rumo ao segundo final de semana do mês vocacional. Para quem gosta dos números, estamos no 222º e temos outros 144 dias para findar este ano. Como estamos em agosto e, se no domingo passado celebramos a vocação presbiteral, neste próximo, celebraremos a vocação matrimonial. Assim, vamos adentrando o mês, fazendo a nossa caminhada de fé, na procura do Reino, sempre! “O nosso viver é Jesus de Nazaré” (Fl 1,21). Ele é nossa paixão e seu espírito é nossa espiritualidade. Viver em função d’Ele, por Ele e para Ele.

Dia 9 de agosto. Na data de hoje, é comemorado o Dia Internacional dos Povos Indígenas. Criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1994, como uma grande oportunidade para despertar a sensibilização sobre a preservação dos usos, costumes e tradições culturais das comunidades indígenas. Oportunidade também para buscar garantir a autodeterminação e os direitos às diversas etnias indígenas do planeta, e a preservação da nossa mãe natureza. Quem anda aqui pela nossa região, sabe bem onde ficam os territórios indígenas e as outras demais terras. De um lado, devastação total, patrocinada pelo latifúndio; de outro, a Floresta ou o Cerrado preservados, já que os indígenas não veem a terra como um bem de capital, mas como o espaço do sagrado e dos saberes ancestrais.

Como estamos caminhando para a conclusão de mais uma Semana Pedro Casaldáliga. Impossível falar de Pedro, sem falar de sua espiritualidade. “Eu sou a minha espiritualidade. Eu não tenho espiritualidade. Sou a espiritualidade”. Era assim que ele gostava de definir-se, quando perguntado. Um homem de profunda oração, que reservava momentos de sua faina diária, para estar a sós com o Senhor. Eu ficava impactado ao vê-lo ali, na capelinha nos fundos de sua casa, nos seus momentos de oração. Engana quem achava que Pedro não rezava, considerado pelos seus adversários como “um bispo muito político”. Sua força maior, não lhe vinha daquele corpo franzino magérrimo, mas de sua intimidade e sintonia oracional com o Senhor. Por isso ele defendia sempre a necessidade da descolonização da religião, libertando o Evangelho da roupa imperial.

A Espiritualidade de Pedro estava profundamente ligada à “Testemunha Fiel”. Jesus de Nazaré era quem dirigia os seus passos rumo ao compromisso com as verdadeiras causas, as causas do Reino. Tinha também em Maria a sua escudeira, a qual tinha a devoção de um filho amado pelo Pai. A “Comadre de Nazaré” era a companheira fiel de todas as horas. Segundo ele, sua devoção à Mãe, não lhe vinha através das “Marias devocionais das Aparições”, mas da Maria do Evangelho, sobretudo aquela do Magnificat (Lc 1,46-55). Maria, a revolucionária das causas do Reino de Deus. O Deus de Jesus de Nazaré é o nosso Deus. Ele é a profundidade de nossa espiritualidade. A causa de Jesus é a nossa causa. A espiritualidade é toda a nossa vida: o que nós somos, o que fazemos, o que pensamos, o que rezamos e acreditamos, a razão de nosso esperançar.

Como vocação, pressupõe um chamado, no dia de hoje somos chamados a fazer parte do grupo do discipulado de Jesus. E o chamado é claro, objetivo e direto: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. (Mt 16,24) O chamado, portanto, passa necessariamente pelo itinerário da cruz. Lembrando que no tempo de Jesus, a cruz era sinal de castigo, uma vez que a morte de cruz estava reservada à criminosos e subversivos, como sinal de maldição e sofrimento. A cruz não tinha poder em si mesmo, mas representava a vontade daqueles que dominavam. Ao propor a cruz como sinal de seguimento, Jesus alerta aos seus seguidores que estes deverão estar dispostos a se tornarem marginalizados por uma sociedade injusta (perder a vida) e mais, a sofrer o mesmo destino d’Ele: morrer como subversivo (tomar a cruz).

Assumir a cruz do seguimento de Jesus não se faz apenas com boa vontade, práticas devocionais no templo, e nem adorações desconectadas da realidade de sofrimento do povo pobre. Assumir a cruz do seguimento exige fé embasada na Palavra de Deus que nos remete ao compromisso com as transformações necessárias na construção de um mundo mais justo, fraterno e igual para todos, todos, todos, como afirma o Papa Francisco. Certa feita, perguntaram a Madre Teresa de Calcutá se ela tinha feito a opção pelos pobres, ao que ela simplesmente respondeu: “eu fiz opção por Jesus, Ele é que me enviou aos pobres”. Confiantes na Palavra do Senhor, a cruz e a fé do seguimento em Jesus estão fundadas no chão que está pisando os nossos pés, acreditando sempre na oração do salmista que dizia: “Tua palavra é lâmpada para os meus pés, luz para os meus caminhos”. (Sl 118 (119), 105) A sapiência da Lei de Deus, que aponta o caminho para a justiça e a vida.