Terça feira da Primeira Semana da Quaresma.
Fevereiro está indo embora, entregado a março as coordenadas do tempo. Neste mês que se apresenta no horizonte da nossa história, seguiremos na mesma toada do espírito da Quaresma: jejum, caridade (solidariedade) e oração. As três dimensões fundantes da vida cristã as quais somos chamados a viver com maior intensidade neste Tempo Litúrgico. No dia de hoje, a reflexão recai sobre a oração, entendendo-a como o encontro pessoal/filial com Deus. A oração torna-se assim o ponto central deste tempo de preparação para a Páscoa do Ressuscitado. Como diria Santo Inácio de Loyola: “A oração? Um amigo que fala a um amigo, e sabe calar-se para o escutar”.
Fevereiro se despede, mas trazendo para nós um acontecimento histórico importante. Teve início ontem em Genebra, na Suíça, a 52ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Nosso ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Sílvio Almeida, se faz presente neste importante encontro. Lembrando que A Declaração Universal dos Direitos Humanos completa este ano 75 anos. Documento promulgado em 1948 estabelece a proteção universal dos direitos humanos. Sabendo que os direitos humanos incluem o direito à vida, à liberdade, ao trabalho, à educação e à moradia, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, religião ou qualquer outra condição.
Rezei nesta manhã na companhia de alguém que lutou bravamente em vida pela defesa intransigente dos direitos humanos. Pedro, ao lado de Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Hélder Câmara e outros bispos mais, tinham em sua rotina de vida a preocupação com os direitos da pessoa, sendo violados nas sedes dos palácios governamentais e em cada esquina de nosso país. Aqui no Mato Grosso, os violadores destes direitos encontraram no “bispo vermelho do Araguaia”, um forte defensor dos direitos dos pequenos e marginalizados. A Causa Indígena e a Reforma Agrária fizeram parte de seu pastoreio à frente da Prelazia de São Félix do Araguaia, indo até as últimas consequências, como as seguidas ameaças de morte. Nada que diminuísse o ímpeto daquele franzino homem de Deus que afirmava frequentemente: “Minhas causas valem mais do que minha vida”.
A oração é a temática central do dia trazida até nós através dos textos propostos pela liturgia para o dia de hoje. Somos desafiados a encontrar momentos ao longo do dia para estar a sós com Deus em forma de diálogo, em forma de conversa franca, em forma de oração. Ter presente em nós a dimensão orante da fé. Um diálogo franco, aberto e honesto diante de Deus, sem a preocupação de nos perdermos num amontoado de palavras, chavões, fórmulas de uma repetição mecânica decorativa. Não rezar com a mente, mas deixar o coração ser tomado pela experiência mais profunda da presença de Deus em nós. Não é o nosso muito falar que importa, mas o falar pela linguagem do coração que se entrega em oração.
Aprende-se a rezar e cada pessoa pode e deve desenvolver o seu modo próprio de rezar. No tempo de Jesus, era comum o mestre ensinar os seus discípulos a rezar, geralmente transmitindo o resumo da própria mensagem. É nesta linha de raciocínio que também Jesus vai ensinar os seus discípulos a se expressarem em forma de oração à Deus. É o que o evangelista Mateus faz hoje. De dentro do seu “Sermão da Montanha” (5-7), ele aproveita o tema da oração para inserir o “Pai-nosso”, em contraposição a oração dos fariseus e dos pagãos. O “Pai Nosso” mostra o espírito e o conteúdo fundamental de toda oração cristã. Esta oração que se faz na intimidade filial com Deus (Pai),
Jesus que ensina a rezar a oração do “Pai-Nosso”. Uma oração que mostra a simplicidade e intimidade da pessoa com o próprio Deus. Na primeira parte dela, pede-se que Deus manifeste o seu projeto de salvação; na segunda, pede-se o essencial para que a pessoa possa viver segundo o projeto de Deus: pão para o sustento, bom relacionamento com os irmãos e irmãs, e perseverança na caminhada. Devemos assim aprender do próprio Jesus como devemos rezar no dia a dia. Nosso jeito de rezar demonstra o tipo de relação que temos com Deus. Alguns de nós até tentam manipular Deus para que se cumpra em nós não a sua vontade, mas a nossa. Deus já sabe de antemão tudo o que necessitamos. Devemos ser como a Mãe que, mesmo sendo ela a Mãe do Salvador, simplesmente disse: “ Faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,38) Que a dimensão orante da sua fé faça de você um instrumento transformador nas mãos de Deus!
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