Quinta feira da Vigésima Terceira Semana do Tempo Comum. Dia de festa para a Igreja Católica. Neste dia, celebramos a Festa da Exaltação da Santa Cruz. Como estamos no mês dedicado à Bíblia, nada melhor do que debruçar sobre a riqueza do Evangelho deste dia para daí tirar encaminhamentos para a nossa fé comprometida com as mesmas causas de Jesus. Como a Bíblia, é a fonte inesgotável de todos nós cristãos, conhecer, meditar e refletir, nos aproxima do conhecimento maior de Deus. Como já dizia São Jeronimo: “Quando rezamos, falamos com Deus. Quando lemos a Sagrada Escritura, Deus fala conosco”.
Deus falando conosco através de sua Palavra e também pelos fatos da vida. Assim foi a minha oração nesta manhã na companhia de Pedro. Estar ali, junto dele, nos faz recordar de toda a sua trajetória no seguimento fiel à “Testemunha Fiel”. Pedro foi uma das pessoas que mais me mostrou o caminho da cruz de Jesus, através de sua vida e testemunho pelo Reino. Estar diante do túmulo do profeta do Araguaia rezando, me fez recordar a letra de uma das canções (Carinhoso) do nosso saudoso Pixinguinha (1897-1973): “Meu coração. Não sei por quê. Bate feliz, quando te vê”. Meu coração inflado de alegria por ter convivido com um homem de Deus, que muito me ensinou.
Exaltação da Santa Cruz. Falar da cruz de Jesus é falar da cruz de cada dia no seu seguimento a Ele. É falar da cruz dos empobrecidos, que carregam o fardo pesado de serem explorados, por uma sociedade que prima pela ganância, pelo consumismo e pela exploração dos mais vulneráveis. A cruz está associada ao amor que se tem as causas da vida. Dar a vida na cruz é doa-la no mesmo espírito de Jesus. Neste dia da Exaltação da Santa Cruz, não se glorifica a crueldade da Cruz, mas o Amor que Deus manifestou a todas as pessoas, ao aceitar de morrer na Cruz. Como nos lembra o Papa Francisco: “Mesmo sendo Deus, Cristo humilhou-se, fazendo-se servo. Eis a exaltação da Cruz de Jesus!”
Falar da cruz é falar do amor. “O amor não tem medida, e a impaciência não conhece limite”, dizia-nos São Jerônimo. O histórico desta festa nos diz que, durante a reforma do calendário litúrgico, depois do Concílio Vaticano II (1962-1965), a comemoração da Santa Cruz, que antes era no dia de 03 de maio, foi transferida para o dia 14 de setembro, dia que a Igreja comemora a “Exaltação da Santa Cruz”, pois foi neste dia, no ano de 335, que foi consagrada a Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém. Neste dia, portanto, os fiéis anglicanos, luteranos e católicos, celebram a vitória de Jesus sobre a morte na cruz.
São Paulo resumiu de forma objetiva o caminho de Jesus para chegar até a cruz ao afirmar: “humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso, Deus o exaltou grandemente, e lhe deu o Nome que está acima de qualquer outro nome”. (Filip 2, 8-9). Jesus como modelo para a humanidade. Em Jesus, Deus se humanizou. Embora tivesse a mesma condição de Deus, Ele se apresentou entre os homens como simples homem, abrindo mão de qualquer privilégio, tornando-se apenas homem que obedece a Deus e serve às pessoas. Imanência e transcendência numa só pessoa: Jesus.
Parece paradoxal falar da cruz quando o sonho de Deus para a humanidade é a plenitude do amor. Ainda mais sabendo que a cruz no tempo de Jesus era o símbolo da maldade humana, como castigo infringido aos mal feitores, subversivos e a todos aqueles que se opunham ao poder vigente do império. A cruz, portanto, era sinal de maldição. Com Jesus, Deus subverte esta lógica perversa, descendo Jesus da sua cruz, devolvendo-lhe a vida, ressuscitando e o colocando no posto mais elevado que possa existir, como Senhor do universo e da história.
No texto Joanino que a liturgia nos proporciona refletir no dia de hoje, Jesus é o enviado de Deus, aquele que revela o Pai à todas as pessoas. O amor exagerado de Deus por nós que quer dar-nos a vida. A humanização de Deus em Jesus revela esse amor e realiza a vontade do Pai amoroso, dando sua vida em favor dos homens. A nossa adesão ao projeto amoroso de Deus, passa pelo caminho da cruz como compromisso de fé. Não há cristianismo sem cruz, não como castigo, mas como entrega e serviço pelas causas do Reino. Somente um coração cheio de amorosidade é capaz de abraçar a cruz como compromisso de fé, sabendo que vai ser perseguido. Adorar a cruz é descer dela todos aqueles e aquelas que foram crucificados, pela força opressora de uma sociedade injusta. Na cruz, Deus manifesta todo o seu amor através de Jesus, para salvar e dar a vida a todos e todas. A cruz do amor maior.
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