Quarta feira da Quinta Semana do Tempo Comum. Já estamos quase na metade do mês de fevereiro. Depois do dia intensamente chuvoso de ontem, o senhor Sol deu as caras no alvorecer. Chegou todo brilhoso, dizendo que hoje, quem manda no pedaço é ele. Como sempre, trouxe-se nos um belo amanhecer, afugentado a escuridão da madrugada. Como é comum na estação do verão, normalmente os dias são mais longos que as noites em virtude da maior incidência solar em um dos hemisférios, explica um dos conhecedores do assunto. Assim sendo, teremos até o dia 20 de março para conviver com esta realidade aqui no nosso Hemisfério Sul. Como cantou e nos encantou o grupo vocal Roupa Nova nos bons idos de 1981: “É verão. Bom sinal. Já é tempo. De abrir o coração. E sonhar”.

12 de fevereiro. Uma data nada feliz para os que têm a luta pela terra como um de seus ideais. No dia de hoje, em 2005, no município de Anapu, no Pará, era assassinada a missionária católica Dorothy Mae Stang, com sete tiros, por defender os sem-terra. Irmã Dorothy sempre agia na defesa dos trabalhadores rurais sem terra no estado. Ela era um dos símbolos que marcam a luta ambiental no Brasil, tanto que este crime chamou a atenção internacional para os conflitos fundiários na Amazônia. Norte-americana naturalizada brasileira, irmã Dorothy chegou ao Brasil em 1966 e, desde a década de 1970, atuava na região amazônica, mantendo intensa agenda de diálogo com lideranças camponesas, políticas e religiosas, na busca de soluções para os conflitos relacionados à posse e à exploração da terra. “A morte da floresta é o fim das nossas vidas, Afirmava Dorothy.

Conheci-a numa das vezes, em que ela esteve num dos encontros aqui na nossa Prelazia. Irmã Dorothy (1931-2005), vinha recebendo ameaças de morte, por causa de sua dedicação e trabalho na defesa das causas dos menos favorecidos da região amazônica. Apesar das ameaças, ela não se deixava intimidar: “Não vou fugir nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade, sem devastar”, declarava alto e bom tom. Nosso bispo Pedro, que também colecionou ameaças de morte, também dizia-nos através de um de seus poemas: “Eu morrerei de pé como as árvores. Me matarão de pé. O sol, como testemunha maior, porá seu lacre sobre meu corpo duplamente ungido”.

Coragem, resistência e teimosia! Tudo pelas causas do Reino, como Jesus que, mais uma vez, está
enfrentando a fúria conservadora dos terríveis fariseus, que buscavam, a todo custo, encontrar na conduta de Jesus, momentos de contradição quanto ao cumprimento das tradições religiosas daquele tempo. Desta vez, era a dicotomia (polaridade) do puro e impuro. Para o Mestre Galileu está muito claro: “o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior”. (Mc 7,15) Diferentemente das lideranças religiosas que viam impureza em todas as coisas, quando não cumpridas conforme aquilo que determinava a Lei.

Como podemos ver o texto de hoje é uma continuidade do Evangelho de ontem. Aqui, Jesus está ensinando a multidão qual é o verdadeiro entendimento que eles deveria ter acerca do que torna impuro uma pessoa. Ou seja, não é aquilo que vem de fora, mas o que vem de dentro do coração da pessoa é o que a torna impura. Nem os seus discípulos tiveram claramente este entendimento, tanto que Jesus reúne com eles em separado, para dar-lhes as orientações: “Será que nem vós compreendeis? Não entendeis que nada do que vem de fora e entra numa pessoa, pode torná-la impura?” (Mc 7,18) Para melhor esclarecê-los, Jesus lista algumas das impurezas que saem de dentro de nossos corações: “más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo”. (Mc 7,11-12)

É desta forma que também devemos ter em mente e agir de acordo com os ensinamentos de Jesus. O que vem de fora não torna a pessoa pecadora, e sim o que sai do coração dela, isto é, da consciência humana, que cria os projetos e dá uma direção às coisas. Jesus anuncia uma nova forma de moralidade, onde cada um de nós pode relacionar-se com os outros na liberdade e na justiça. Com esta nova interpretação, Jesus afasta de vez a ideia da lei sobre a pureza e impureza, que tem a sua primeira versão num dos livros do Pentateuco (cf. Lv 11), cuja interpretação principal era o fundamento de uma sociedade injusta, baseada em tabus que criavam e solidificavam diferenças entre as pessoas, gerando privilegiados de um lado e marginalizados, opressores e oprimidos de outro. Definitivamente, não é desta forma que está previsto no anúncio do Reino de Deus por Jesus. Neste sentido, Jesus mesmo deu a dica: “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas a vocês. (Mt 6,33) Buscar o Reino é construir relações de partilha e fraternidade. Que dos nossos corações saiam estas intenções, provando a pureza de nossas convicções!