Categories: Reflexões Bíblicas

A Boa Nova no caminho (Chico Machado)

Sexta feira da 26ª Semana do Tempo Comum. Liturgicamente é assim que vemos o dia de hoje, mas para a sociedade civil, estamos a três passos da maior eleição municipal de todos os tempos da nossa história. Neste próximo dia 6 de outubro, mais de 155,9 milhões de eleitoras e eleitores de 5.569 cidades vão às urnas em todo o país. Segundo a Justiça Eleitoral, órgão responsável direto pelas eleições, “há 15.465 candidatos ao cargo de prefeito, 15.682 ao de vice-prefeito e 429.865 ao de vereador, com 45.657 postulantes à reeleição. Foram contabilizados 461.012 pedidos de registro de candidatas e candidatos, dos quais 303.682 já foram julgados, sendo 157.330 aprovados.” Como podemos ver, este é dos momentos mais importantes de nossa frágil democracia, em que deveríamos exercer conscientemente, o nosso direito de eleitor/a, lembrando que voto não tem preço, mas sim, consequências.

Outubro vem sextando pela primeira vez, em clima de festa para a Igreja Católica. Neste dia 4 de outubro, ela celebra a memória de um dos seus santos mais reverenciados e populares: São Francisco de Assis. Nascido em 1181 ou 1182, em Assis, na Itália, com o nome de Giovanni di Pietro di Bernardone. Filho de família rica e nobre da época, ele ficou conhecido por sua vida dedicada à pobreza e à simplicidade, renunciando a uma vida de riquezas, para abraçar a humildade. Assim, desde o século XIII, é venerado não só por seu exemplo de devoção e respeito pela vida, mas também como o “protetor dos animais e do meio ambiente”. Adorado por muitos, Francisco também foi inspiração para o nome do atual Papa da Igreja Católica.

Um dos momentos mais significativos da historia da vida de Francisco de Assis, foi a sua conversão. Teria ouvido ele de Deus: “Francisco, reconstrói a minha igreja”. Achava ele que seria a reconstrução do espaço físico da igreja, tanto que reúne alguns amigos e inicia o processo de reparo e manutenção de algumas igrejas em ruinas, como a Igreja de São Damião. Somente depois é que ele vai perceber que se tratava da reconstrução da Igreja enquanto instituição. Lembrando que aquele era o período da Idade Média, onde a Igreja aliou-se ao poder, às riquezas, posses, se transformado numa das mais importantes instituições, acumulando poder politico e econômico, além de exercer grande influencia moral sobre a sociedade.

São Francisco de Assis, ao contrário, vai na contramão deste movimento. Passa a integrar aos movimentos mendicantes, que são as ordens religiosas da época, que se caracterizavam pelo voto de pobreza e pela prática da mendicância (pedir esmolas) como meio de subsistência. Estes movimentos procuravam uma vida do evangelho mais simples, mais radical, fora dos corredores palacianos institucionais. Evidente que tais movimentos, incomodava por demais, a Igreja medieval, que tentou exercer em vão, certo controle sobre estes movimentos. Seguidor fiel de Jesus de Nazaré, a pregação de Francisco consistia numa vida de desapego material e amor incondicional por todas as criaturas. Em 1209, ele fundou a Ordem dos Frades Menores, ou Franciscanos, com base em seus princípios de humildade, pobreza e serviço aos mais necessitados.

Padroeiro dos animais e do meio ambiente, São Francisco de Assis acreditava que todas as criaturas, independentemente de sua espécie, mereciam respeito e cuidado, já que são obras do Criador. Como discípulo amado do Pai, seguiu em tudo os anseios de Jesus para com o seu discipulado. Pelo menos é assim que o texto do Evangelho de hoje conclui as palavras de Jesus: “Quem vos escuta, a mim escuta; e quem vos rejeita, a mim despreza; mas quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou”. (Lc 10,16) Num contexto, em que o Nazareno, está dizendo palavras duríssimas à Corazim, Betsaida e Cafarnaum. Três pequenas cidades (ou vilarejos) da época de Jesus. Ele sofre pelo endurecimento dos corações daquele povo. Ele que andava por estas cidades pregando a Palavra de Deus e realizando muitos sinais (milagres). Todavia, muitos ainda não haviam aceitado a Boa Nova que Ele trazia.

Ao contrário das autoridades religiosas, Jesus ama essas cidades e esse povo sofrido, que corre atrás de seus milagres e de comida. Isso aflige o seu coração, pois eles não entendiam que o Amor de Deus era incondicional e infinitamente superior a quaisquer outros interesses. Jesus entende que aquele povo não tinha culpa. Daí decorre a missão dos discípulos, organizados por Jesus para anunciarem a Boa Notícia no caminho, realizando os atos que concretizam o Reino. Entretanto, se Jesus estava amaldiçoando aquelas cidades, por incrível que pareça, é delas que vem uma parte de seus discípulos: de Betsaida, vieram André e Pedro (cf. Jo 1, 44) e Filipe (cf. Jo 12, 21). Cafarnaum foi a morada de Jesus (cf. Mc 9, 33; Mt 4, 13), onde ele passou a maior parte de seu tempo, pregando, curando e ensinando àquela gente. Corazim, citada várias vezes nos evangelhos de Mateus e Lucas, é o lugar por onde Jesus passou grande parte de sua vida pública. Se morássemos lá e tivéssemos a oportunidade de conviver com este Jesus histórico, talvez apresentássemos a mesma reação daquelas pessoas, rejeitando sistematicamente Jesus. É para se pensar.

Luiz Cassio

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