Décimo Quinto Domingo do Tempo Comum. Estamos no Ano litúrgico B. Se no Ano A, lemos e refletimos o Evangelho de Mateus, no Ano B, ficamos com Marcos, e no C Lucas. João é requisitado nas solenidades celebradas pela Igreja Católica. Marcos foi o primeiro Evangelho a ser escrito, servindo de base para os demais Evangelhos. Lembrando que ele relata, de forma singular, toda a atividade de Jesus como o anúncio e a concretização da vinda do Reino de Deus (Mc 1,15). E isso se manifesta pela transformação radical das relações humanas: o poder é substituído pelo serviço (campo político), o comércio pela partilha (campo econômico), a alienação pela capacidade de ver e ouvir a realidade (campo ideológico).

Tivemos talvez a noite mais fria aqui pelas bandas do Araguaia. Um vento forte percorreu toda a noite, fazendo com que a sensação térmica estive numa temperatura mais abaixo que o normal por aqui. Quem esteve acompanhando o “show musical” na praia, deve ter passado uns maus bocados. Como não sou apreciador deste tipo de sertanejo atual (universitário), optei pela cama, que estava mais aconchegante. Não tive coragem de fazer como o Raul Seixas num dos versos de sua canção: “Enquanto todos praguejavam contra o frio, e fiz a cama na varanda!”

No dia 14 de julho 14 de julho, comemoramos mundialmente o Dia da Liberdade de Pensamento. Livre pensar é só pensar! Infelizmente, grande parte de nossa educação brasileira, não mais ensina a pensar. A contragosto de nosso maior educador Paulo Freire, as escolas deixaram de ser espaços de produção de conhecimento e pensamento, para se transformarem num depositário de conteúdos, uma vez que nem os nossos “educadores” de hoje, exercem a arte do saber pensar por si mesmos. Neste sentido, estou com o escritor, historiador e filósofo iluminista francês Voltaire (1694-1778) quando diz: “Quando não há, entre os homens, liberdade de pensamento, não há liberdade”.

“Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós”. Liberdade como a de Jesus para anunciar e praticar o Reino querido e desejado por Deus para nós. Mais uma vez, vemos o Mestre Galileu fazendo o primeiro envio missionário dos doze apóstolos (Mc 6,7-13). Trata-se de um texto bastante emblemático que aparece nos três evangelhos sinóticos (Mt 10,1.9-14; Lc 9,1-6). Depois de sofrer a forte rejeição pelos seus conterrâneos, em sua terra natal (Nazaré), estando Ele num sábado, ensinando na sinagoga, conforme foi relatado no texto do domingo passado, Jesus não se intimida e faz com que seus discípulos de tornem apóstolos, enviados a proclamar, levando adiante a missão de anunciar e construir o Reino. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e Deus dará a vocês, em acréscimo, todas essas coisas. (Mt 6,33)

O texto do evangelho de hoje omite o versículo anterior e que nos dá uma compreensão melhor de quem são os destinatários da missão dos apóstolos: “Jesus começou a percorrer as redondezas, ensinando nos povoados”. (Mt 6,6b) A preocupação maior de Jesus não era com os religiosos e políticos do centro do poder, mas os moradores das periferias, dos povoados. Estes sim eram os destinatários primeiros da missão dos apóstolos. Estando com Jesus, recebem dele o empoderamento para darem continuidade à missão da Boa Notícia, como o próprio profeta Isaías já havia pré-anunciado: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu. Me enviou para anunciar a boa notícia aos pobres, para curar os corações feridos, para proclamar a libertação dos escravos e pôr em liberdade os prisioneiros”. (Is 61,1) Nisto consiste a missão de Jesus e também a de seus apóstolos. A verdadeira autenticidade dos apóstolos é a de estar com Jesus e abraçar a missão do Reino, no aqui e agora de nossa história.

Enviados para proclamar a Boa Notícia da libertação e os destinatários são os pobres, porque eles estão mais abertos à fraternidade e à partilha. Os discípulos são enviados para continuar a missão de Jesus: pedir mudança radical da orientação de vida (conversão), desalienar as pessoas (libertar dos demônios), restaurar a vida humana (curas). Eles devem estar livres, ter bom senso e estar conscientes de que a missão vai provocar choque com os que não querem as mudanças/transformações, porque se beneficiam dos privilégios que são fruto de uma sociedade de exploração dos pequenos. Como continuadora da missão de Jesus, esta é também a leitura que a Igreja hoje precisa fazer, se quiser ser fiel à proposta do Reino, anunciado por Jesus. Uma pena que alguns, dentro da nossa Igreja, não atentaram para esta tarefa, uma vez que estão mais preocupados com seus status clericais de poder, a ostentação de suas vestes litúrgicas, o carreirismo eclesiástico e os “penduricalhos sagrados”, num verdadeiro culto às suas personalidades. Pregam a si mesmos e não o Reino de paz e justiça, anunciado e vivido por Jesus de Nazaré. Como disse o Papa Francisco: “a Igreja não existe para si mesma, mas para levar Jesus ao mundo, para proclamar o Evangelho às nações e estar próxima da dor dos mais pobres”.