Dependendo do olhar, do sentido que se dá e do conteúdo simbólico, a revelar e esconder, ao mesmo tempo, somos capazes de encontrar a aura essencial das pessoas e das coisas.
Jesus deu exemplo quando de sua proximidade do povo. Andava pelas roças alheias e percorria os campos, contemplando borboletas e cuidando dos ninhos. Desde pequeno, trazia flores para a sua mãe à beira do poço ou na boca do forno.
Para Jesus, as vestes coloridas dos lírios traziam a presença amorosa e dourada do Pai para dentro da família de Nazaré. José não tinha ciúmes.
“Olhai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam… Porém, eu vos digo: se Deus veste assim a erva do campo …que fará Ele muito mais por vós, gente de pouca fé? (Mt.6, 24-34 – todo o contexto).
E aí, os “passarinhos de ruas” que nem têm ninhos, para contradizer Jesus, moram dentro de suas roupas, quase sempre rasgadas, encardidas e pouco lavadas, escondendo a dignidade humana e divina de seus corpos. Mas, quem tem olhos para ver apenas o brilho das aparências, já estão indiferentes e cegos para as maravilhas de Deus , presentes nos humildes e desprezados deste mundo.
Vou relembrar o manto colorido de José do Egito, vendido, esquecido e invisível para os seus irmãos durante tanto tempo (Gn.37). Manto que foi o indício surpreendente do seu reconhecimento na virada da história de Israel que sofria a fome e a nudez.
Vem-me, também, a memória do manto de Elias em 2⁰ Reis que foi passado para Eliseu, simbolizando a continuidade da profecia que Jesus testificou quando disse que na virada final da Humanidade, a começar desde agora, eram (Mt. 5,6) Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” e bem vestidos para o banquete da vida.
Nossas caminhadas, entre os descamisados e sem penas para cobrir, acontecem frequentemente. Buscamos sentido para as doações de roupas que algumas pessoas fazem para eles. Camisas e bermudas, calções e cuecas tornam-se pétalas de flores que, como enfeite, deixam escapar deles um rasgo brilhante de dignidade.
Essa partilha cansa e até nos decepciona. Desde, vender para “molhar o bico” e trocar por algo para suavizar a compulsão, nós temos que ter compaixão.
Entre os doadores não há desânimo , nem decepção, mas apenas uma tática que consiste em não, ainda, “empetalar” os heróis esquecidos, com roupas novas.
O ato de vestir uma camisa ou uma bermuda usada por mim ou por ti, caro amigo leitor e leitora, significa que cobrimos os corpos deles, com a mesma roupa que envolveu o quê de divino habitou em todos nós e entre nós.
“Pois Ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e faz cair chuva sobre justos e injustos” (Mt 5,45).
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