Sábado depois das Cinzas. Véspera do Primeiro Domingo da Quaresma. Serão seis domingos que teremos até a Páscoa. A Quaresma corresponde aos 40 dias que faremos uma caminhada de fé até a Páscoa do Senhor. Para que não fique nenhuma dúvida, da Quarta feira de Cinzas até o até o sábado antes da Páscoa, são ao todo 46 dias. Assim retirando os seis domingos da Quaresma, temos um total de quarenta dias. Tempo de jejum, oração e gestos concretos de solidariedade para com os irmãos e irmãs que mais necessitam de nosso cuidado amoroso e misericordioso. Viver a Quaresma fora deste contexto atesta a nossa fé equivocada, constituída apenas por devocionismos vazios que não correspondem à proposta libertadora de Jesus para os seus seguidores.
Uma semana que finaliza com a Teologia de luto. Faleceu José Ignacio González Faus (1933-2025), teólogo e escritor jesuíta espanhol. José Ignacio é reconhecido pela sua produção teológica crítica. Sempre defendeu uma Nova Humanidade e uma Igreja diferente, encarnada nos problemas concretos da humanidade. Ferrenho defensor da Igreja dos mais pobres deixa um grande legado teológico intelectual pé no chão da história. Para quem não o conheceu, recomendo a leitura de uma de suas principais obras: “A Nova Humanidade”, um ensaio de cristologia. Uma de suas afirmações criou um grande impacto, incomodando por demais a ala mais conservadora da Igreja: “Biblicamente, não há obstáculos para o ministério presbiteral da mulher”.
Por falar na Mulher, no dia 8 de março é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Esta data foi criada para celebrar as muitas conquistas femininas ao longo dos últimos séculos, servindo também como um alerta sobre os graves problemas de gênero que persistem em todo o mundo e, particularmente aqui no Brasil. Historicamente a criação do Dia Internacional da Mulher remete a um incêndio ocorrido em uma fábrica têxtil em 1911, em Nova York, quando cerca de 130 operárias morreram. Todavia, apesar de ser um fato histórico, as movimentações femininas que culminaram na criação da data, começaram muito antes deste incêndio, segundo a historiadora Ana Izabel Gonzalez, no seu livro “As origens e a comemoração do Dia Internacional das Mulheres”. Todavia, estudos demonstram que vários protestos de mulheres, principalmente da classe operária, por melhores condições de trabalho, vem acontecendo desde o século XIX, mundo afora.
Fato é que as mulheres sempre foram guerreiras na sua luta incansável para vencer o machismo proveniente de uma cultura patriarcal. Sua persistência, resistência e proatividade sempre nos ensinaram ao longo da história, marcada que foi pelo preconceito e pela marginalização do ser feminino. O que seria de nós do sexo masculino não fossem elas nas nossas vidas? Posso afirmar com todas as letras que sou quem sou, graças aquela que me gestou. Tenho mais do ser feminino da minha mãe e irmãs, na formação da minha personalidade, afetividade e ternura, do que eu mesmo fui capaz de construir ao longo de toda a minha história de vida. Não foi à toa que a tanzaniana, residente em João Pessoa, sintetizou de forma brilhante e verdadeira: “Metade do mundo são mulheres. A outra metade, os filhos dela”.
Essas mulheres maravilhosas, que também fizeram parte do grupo de Jesus. Os Evangelhos não relatam nenhum chamado de Jesus diretamente a elas para fazerem parte de seu discipulado. Entretanto, o Mestre Galileu estava sempre rodeado delas e foi a uma destas, que Ele fez questão de aparecer pela primeira vez como o Cristo Ressuscitado (cf. Jo 20,1-9). O que vemos registrado, são chamados feitos a homens, como no caso de hoje, em que Jesus convida a Levi (Mateus), um rude cobrador de impostos para segui-lo. Feliz da vida, aquele homem, considerado um grande pecador, prontamente levantou e passou a seguir Jesus, e até preparou um banquete em sua casa para celebrar aquele chamado. De pecador a discípulo seguidor. É assim que devemos também encarar o nosso compromisso de fé no seguimento de Jesus de Nazaré.
Para os fariseus, pegou muito mal aquela atitude de Jesus de ir até a casa daquele pecador e sentar-se com ele a mesa para a refeição. Os cobradores de impostos eram considerados grandes pecadores. Eram desprezados e marginalizados porque estavam a serviço da dominação romana, cobrando imposto e, em geral, aproveitando também para roubar. Jesus não se deixa levar pela pilha dos fariseus. Ao chamar alguém daquela espécie, Ele rompe com os esquemas sociais que dividem as pessoas em boas e más, puras e impuras, pecadoras e “gente de bem”. Chamando um cobrador de impostos para ser seu discípulo, e comendo com os pecadores, Jesus mostra que sua missão é reunir e salvar aqueles que a sociedade farisaica hipócrita rejeita como maus. Felizmente a lógica de Jesus é bem outra: “Os que são sadios não precisam de médico, mas sim os que estão doentes. Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão”. (Lc 5,31-32)
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