Reflexões Bíblicas

Permanecer firme (Chico Machado)

Quarta feira da 34ª Semana do Tempo Comum. Estamos a três dias de fechar o mês onze. Rapidamente o ano vai se concluindo. Alguns de nós, já estamos projetando e desenhando as perspectivas para o ano que se avizinha. Sonhar o sonho possível de construir um mundo mais humano, sem perder de vista a nossa essência maior que é a dinamicidade daquilo que precisa habitar o nosso coração: amorosidade ternura e compaixão. Cada dia, buscando a alegria de viver. “A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitória propriamente dita”, afirmava o líder espiritual e ativista indiano Mahatma Gandhi (1869-1948). Viver com alegria, apostando em nós, alimentando a certeza de que chegaremos lá, no cume da montanha de nossa vida.

Já o nosso bispo mais querido, Dom Hélder Câmara, sempre dizia aos seus interlocutores: “É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca”. Não desistir nunca da luta que travamos, desde o momento em que nascemos, e vamos nesta toada até o dia da nossa páscoa definitiva. Insistir, resistir, persistir! Um passo de cada vez, dado em direção às nossas convicções, fundamentadas nos valores que acreditamos. Para nós cristãos, estes valores estão sedimentados no Evangelho. Quem escuta a Palavra de Deus e se abre para a transformação maior é capaz de galgar novos caminhos, novos horizontes, novas perspectivas. Converter radicalmente como fez São Paulo ao ponto de dizer com convicção: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim”. (Gl 2,20)

Ainda dentro de seu “Discurso Escatológico”, a liturgia de hoje nos mostra um Jesus preparando os seus discípulos para que eles sejam os continuadores da missão d’Ele. Depois de se referir à destruição do Templo de Jerusalém, Ele agora se volta para o discipulado. Aliás, Jesus não os engana, prometendo uma vida fácil, mas os adverte sobre a dureza que eles teriam pela frente: “sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu nome”. (Lc 21,12) Evidente e natural que os discípulos ficassem assustados, mas diante da fidelidade ao projeto de Deus, eles terão que passar pela mesma experiência de cruz que passou Jesus.

A relação entre Deus e as pessoas continua através dos seguidores e seguidoras de Jesus, que devem prosseguir a missão do Mestre Galileu, dando um testemunho fiel da verdade do Evangelho. Entretanto, assim como Jesus encontrou resistência, também o discipulado será perseguido, preso, torturado, julgado e até mesmo morto por dar continuidade à ação de Jesus. Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas, o discípulo, a discípula, não deve ficar preocupado com a própria defesa. Deus mesmo os conduzirá pelo melhor caminho a ser percorrido. O importante é a coragem de permanecer firmes até o fim, acreditando sempre na presença viva de Deus em suas vidas. (cf. Mt 28,20)

“A paciência convence até as autoridades; a perseverança pode vencer qualquer dificuldade”. (Prov 25,15) Quem vive a experiência de fé mais profunda, vai percebendo que, mesmo diante das maiores dificuldades e desafios, encontraremos forças para continuar caminhando, quando acreditamos em Deus, em nós mesmos e naqueles que somam conosco nesta mesma caminhada. Não estamos sozinhos nesta empreitada e nem contamos apenas com as nossas próprias forças. Do fundo da alma vem aquela força maior da resistência, que nos faz erguer a cabeça e nos pormos na estrada da vida. É como se vivêssemos certo “déjà-vu”, ou seja, a sensação de já ter visto ou vivido uma situação do passado que está acontecendo no presente, de um Jesus que caminha pelas nossas estradas da vida.

O compromisso com Jesus exige fidelidade, entrega e doação. Não basta conhecê-lo, é preciso segui-lo. Seguir para conhecer! Conhecer para seguir! Ter fé e acreditar não é sinônimo de não ter problemas, dificuldades, desafios na vida. Pelo contrário, quem entra no barco com Jesus sabe que precisa remar contra a correnteza. Como bem disse o Padre Júlio Lancellotti: “Eu não luto pra vencer. Sei que vou perder. Luto pra ser fiel até o fim!” Um compromisso que se faz juntando as várias mãos, irmanadas aos corações que se abrem para o horizonte da esperança do sonho de Deus, que quer a vida em abundância para todos e todas: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”. Que possamos traduzir o nosso ser neste mundo, com a expressão oriunda do latim: “Veni, vidi, vici” – “Vim, vi, venci”.

Luiz Cassio

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