Categories: Reflexões Bíblicas

3 de dezembro, por Chico Machado.

Sextou outra vez! A primeira sexta feira de dezembro.

Além da motivação trazida pelo Advento, os devotos do Sagrado Coração de Jesus, estão eufóricos no dia de hoje. É o ultimo mês do ano de 2021 dando as coordenadas, nos encaminhando para mais um ano em nossas vidas.

Francisco (Chico) Machado. Escritor e Missionário.

Que venha então 2022, trazendo-nos as novidades que tanto lutamos e queremos ver acontecer no chão das nossas vidas. Quiçá um Brasil passado a limpo, afugentando de vez as aves agourentas que tanto mal tem nos feito.

A Igreja celebra hoje a festa de São Francisco Xavier (1506-1552). Mais um Francisco na história da humanidade. Cabra bom! Este também marcou a sua época, evangelizando a América e o Oriente, em pleno século XVI. Mesmo sendo de família nobre espanhola, rompeu com as estruturas daquela sociedade, para estar ao lado dos mais vulneráveis. Para completar o seu tino missionário, foi um dos co-fundadores da Companhia de Jesus (Jesuítas), em 1539, ao lado de Inácio de Loyola. Sua inteligência e seu trabalho missionário foram tão importantes e significativos que recebeu a alcunha de “São Paulo do Oriente”.

Hoje também é um dia especial para mim. Acordei bem cedo com a alvorada de centenas de papagaios povoando o meu quintal. Um barulho bom. Parece que sabem que este é um dia especial na minha vida. Se bem que o mês de dezembro é para eles a oportunidade de sair por ai com os seus filhotes, que mal saíram dos ninhos. A mamãe papagaia, ensaia com os pequenos os primeiros vôos, preparando-os para ganharem autonomia. É a natureza renovando o seu ciclo do bem viver, sem medo de ser felizes. Um falatório sem fim recheado de palavras desconexas, mas cheias de amorosidade. Fico viajando nesta babel orquestrada, contemplando o Deus de todos nós.

No dia de hoje, há 32 anos, meu coração batia acelerado em meu peito. Através das mãos do também mineiro como eu, Dom Lélis Lara (1925-2016), bispo da diocese de Itabira-Fabriciano, estava eu recebendo o Sacramento da Ordem (Presbiterato). A família toda reunida. Os amigos mais próximos juntos de mim. Uma festa sem igual. Somente quem passa pela experiência, para saber do que estou dizendo. Um sacramento marcado pelo compromisso de estar sempre ao lado dos pequenos, sejam em que circunstancias forem. “Que responsa”, diriam os mais jovens dos tempos de hoje. “Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec (Sl 109).

Uma trajetória de vida regada pelo espírito de inquietude frente às contradições de nossa sociedade. Um coração intrigado, levando à ação pelas causas que fui abraçando na vida. Tive alguns mestres (bispos) que foram moldando o meu sacerdócio, sem deixar que eu me perdesse nas curvas do caminho. O primeiro deles foi Dom Cláudio Hummes, bispo de Santo André, que me ensinou que as causas dos trabalhadores também estão no itinerário das causas de Jesus de Nazaré. Um bispo que se fazia presente nos piquetes nas portas das fábricas da Região do ABC, durante as greves dos metalúrgicos daquele momento histórico.

Depois fui ao encontro de Dom Angélico Sândalo Bernardino, com o seu lema episcopal: “Deus é Amor”. Naquela época, a região de São Miguel Paulista fervia com a ação de Dom Angélico. Um homem puro de amorosidade e acolhida. Sabia ser e estar no meio dos pequenos com absoluta tranquilidade e simplicidade. Da mesma forma que exibia um sorriso largo no rosto, também mostrava a sua ira para com aqueles malditos que espezinhavam os pobres de Javé. Éramos felizes com o nosso bispo até a fatídica divisão da Arquidiocese de São Paulo, como forma de enfraquecer a o “Cardeal da Esperança”, Dom Paulo Evaristo Arns, transformando a Região de São Miguel em Diocese de São Miguel Paulista.

Da favela do Jardim Oratório para a Cohab Tiradentes, periferia da periferia da Zona Leste de São Paulo. De repente, meu coração irrequieto de jovem padre me fez deixar a labuta da periferia urbana, para aportar no interior do Mato Grosso. A inquietude me fez vir de encontro de um dos ícones da Igreja latino-americana e Caribenha. Quando me vi frente a frente com aquele franzino homem, trajando roupas de posseiro, sem nenhuma pista de que era um membro da hierarquia da Igreja, pensei comigo: é neste porto que vou atracar o meu barquinho. Fiz como a mesma experiência dos dois cegos do evangelho de hoje ao ser tocado por Jesus: “Faça-se conforme a vossa fé” (Mt 9 29)

Pedro me ensinou a trilhar os caminhos de uma Igreja que fez opção pela causa indígena. Nada mal para quem escolheu como báculo de seu pastoreio, um remo feito por um daqueles indígenas. Dentro de pouco tempo, estava eu dentro de uma aldeia, com os pés descalços sobre aquela terra vermelha. Paixão a primeira vista. Senti Deus caminhando com aquele povo, mesmo eles priorizando a sua ancestralidade, seus valores e saberes tradicionais. Não somente senti Deus no meio deles, mas sendo um deles com eles. Com eles aprendi a caminhar. Com eles aprendi aquietar o meu coração. Com eles aprendi a colocar em prática uma das frases de Mahatma Gandhi: “Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão”. Viva dia 03 de dezembro! Parabéns para nós!

 

“Os textos de colunistas e colaboradores não expressam, necessariamente, as opiniões da UNESER.”
coneki

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