«Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um grande grito exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”.» (Lc. 1,39-45)
Em cada momento que Deus entra a fazer parte da nossa vida não o faz de modo intempestivo, não irrompe, mas delicada e cuidadosamente oferece uma possibilidade de ser reconhecido. Prepara de antemão as condições que nos permitem reconhecê-lo. Nunca se faz reconhecer em ações extraordinárias, pois desta forma não haveria espaço para a liberdade ou a boa disposição do homem. O mistério do Deus presente no meio dos homens segue as mesmas regras: pode ser percebido somente na absoluta singularidade do momento e na intimidade própria de cada um.
Muitos indícios, nada de claro. Muitos sinais, poucas certezas, assim Deus oferece o encontro com seu Filho a todos os homens.
Um Filho capaz de ser encontrado somente por quem o espera e está atento e disposto a ouvir humildemente, os sinais de Deus.
Como sempre Deus é capaz de surpreender-nos, de ir além das possíveis expectativas.
Ninguém teria, naquela circunstância, imaginado que o esperado não seria somente um homem investido da potência de Deus (“Filho de Davi”, como disseram algumas doutrinas nascidas logo após a morte de Jesus e que voltaram de moda nestes últimos anos), mas o próprio Deus, Jesus.
O Evangelho nos mostra alguém que soube acreditar que Deus é capaz de surpreender-nos: Maria. «Feliz és tu porque acreditaste» lhe disse Isabel. Feliz é todo aquele que aprendeu em sua vida a dar um crédito a Deus. Feliz é todo aquele que não se detêm naquilo que vê, mas se deixa conduzir pela visão penetrante de um amor que enxerga o que outros não veem. Visão esta que nasce na calma e na sutil consciência de sentir-se sempre na presença de Deus.
O Evangelho nos torna participes da mesma alegria de duas mães (símbolo máximo do amor humano) envolvidas, em diferentes situações, em diferentes idades, por uma única experiência que se pode resumir em poucas palavras: Esperaram, perceberam e dessa esperança lhes sobrevém a alegria de que vale a pena confiar em Deus. Uma alegria contagiante que envolve os outros, «o menino estremeceu em seu seio».
Sentiram-se unidas, Maria e Isabel, além das palavras além de qualquer possível explicação.
Fazer a mesma profunda experiência da ação eficaz e viva de Deus une, dispensando motivações, detalhes, tentativas humanas. Reconhecer a ação de Deus faz reconhecer duas pessoas naquilo que a outra vive, unindo-as na alegria.
Quanto nos ensina este episódio!
Temos de viver e encontrar-nos mais sobre a contemplação e partilha das coisas maravilhosas que Deus opera! O encontro de Isabel e Maria é o protótipo de todos os encontros autênticos: nos diz como e sobre o que as pessoas poderão sempre se encontrar.
Ambas, embora envolvidas por eventos tão grandes, deixam de lado o protagonismo, nenhuma das duas se sente o centro da atenção, nenhuma requer que “a outra reconheça que…”, não, pelo contrário. Maria e Isabel se alegram uma pela outra, por reconhecerem na outra a ação e a presença de Deus. Ambas se alegram porque amam o mesmo Senhor e por Ele se sentem amadas com intensidade inexplicável.
Duas pessoas se encontram não quando acham um “meio termo”. O encontro verdadeiro acontece quando duas pessoas se perdem e, juntas, olham para o mesmo lugar: Deus.
Encontrar a Deus num menino é o desafio do encontro que a liturgia nos propõe para que, em nós, transborde a contagiante alegria que Deus sempre quis para nós.
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